-1- "A Morte"

84 12 13
                                    



As águas do Rio Danúbio refletiam a linda lua ostentada pelo céu de Budapeste, capital da gloriosa Hungria. O vento frio que soprava naquelas ruas milenares não impediu em nada que Anastasia prosseguisse firmemente rumo ao Museu de Belas Artes de Budapeste, onde uma grande exposição de obras acontecia naquela fria terça feira de um Abril tempestuoso. A jovem estava no auge de seus 19 anos, vestia um longo vestido preto acompanhado por um sobre tudo cinza, para contrastar com seus olhos e cabelos castanhos. Uma linda jovem, que atiçava a imaginação de seus professores e colegas do curso de Artes Plásticas, mas os interesses de Anastasia eram um enigma para todos. Sempre isolada, sem amizades e ainda por cima órfã. A jovem encontrou na Arte, uma eficiente válvula de escape para suas limitações e problemas adquiridos por uma baixa auto estima. Nos museus ela não se sentia assim, era uma rainha devorando e decapitando a todos que renegassem o valor das obras ali contidas. E era assim que ela se sentia quando parou em frente a um dos muitos quadros da sessão Velhos Mestres com três mil quadros que se alternam, com obras de Giotto, Rafael, Ticiano e Veronese.

O grande fascínio pelo mundo gótico e oculto, sempre adicionaram a Anastasia uma grandessíssima curiosidade, principalmente as que remetiam a tragédias ou acontecimentos macabros. Essa era uma parte mórbida de sua personalidade que nunca compreendeu, entretanto, lá estava ela mais uma vez. Enquanto todos os outros visitantes percorriam normalmente observando as pinturas, ela admirava silenciosamente o quadro da Condessa Erzsébet Báthory, de autoria desconhecida. Haviam lendas sobre aquela mulher cujo tempo quase ousou apagar-lhe da memória dos húngaros, sendo resgatada por intermédio de alguns poucos colecionadores e aristocratas que viam em sua figura, uma forma de lucrar com o grande número de turistas e curiosos dedicados às lendas em torno da vida daquela que ficou conhecida como a Condessa Sangrenta, principalmente pelo fato de a mesma ser mundialmente famosa por seus banhos regados a sangue de jovens garotas virgens e suas torturas além da reles imaginação humana.

— Ela era linda, não concorda? — Uma voz aveludada removeu Anastasia de seus pensamentos e desejos ocultos e a trouxe para a realidade do museu, onde uma linda mulher também observava o quadro pintado a óleo diante dela. Anastasia olhou para a mulher a seu lado atentamente antes de a responder. Os cabelos da desconhecida eram pretos como seus olhos, mas sua pele era notavelmente pálida, apesar do esforço da maquiagem aplicada meticulosamente em seu rosto perfeito.

— Sim, ela era — respondeu timidamente a garota, enquanto via a mulher retirar seu olhar da pintura e os aplacar sobre sua beleza juvenil.

— Oi! Chamam-me de Myla Dyvenko. Muito prazer — disse a mulher subitamente se aproximando e beijando o lado esquerdo e em seguida o lado direito do rosto de Ana.

As duas se entreolharam brevemente, mas Anastasia sentiu como se já se conhecessem a séculos. Aquela mulher à sua frente era um misto de sexualidade e charme clássico, acompanhados de perto por uma beleza que a envolvia em brumas de algum mistério antigo. Anastasia foi tomada por um desejo quase repentino de beijar-lhe os lábios e se deixar levar por aquele clima sensual que parecia surgir diante de ambas.

— Você está bem? — perguntou a mulher, tocando de leve o cotovelo esquerdo de Anastasia.

— Ahamm... sim, acho que sim.

— Desculpe se pareço indiscreta, mas é que me pareceu que iria desmaiar.

— Sério? Acredito que foi apenas sua impressão, Senhorita Dyvenko — disse Anastasia, dando um leve sorriso — Nossa! Que falta de educação de minha parte... me chamo Anastasia Örsolýa, muito prazer! — Mais uma vez Myla se aproximou e maliciosamente desta vez beijou a garota no canto da boca. O rosto de Anastasia ruborizou-se, mas seu corpo recebeu com prazer aquela demonstração invasiva de carinho.

A CondessaOnde histórias criam vida. Descubra agora