-2- "O Renascer"

67 14 32
                                    



Anastasia Örsolýa sentiu sua vida esvair, suas veias esvaziarem-se e se tornarem secas como um deserto. Seus pulmões murcharam-se como duas frutas podres e seus dentes caíram por completo, assim como cada fio de cabelo e unhas que possuía até tudo desaguar no vazio.

— Maior do que o desprazer de estar sempre só, seria deixar-te morrer. — Sussurrou uma voz em meio à escuridão que se encontrava Anastasia, uma voz suave e familiar aos seus ouvidos.

— Acorde para seu novo caminho. Desfrute do intenso prazer ou padeça no limiar entre a humanidade e a eterna selvageria, como uma escrava irracional... uma Ghoul!

A jovem abriu os olhos e viu diante de si, Myla Dyvenko. A mulher estava debruçada sobre seu corpo, com os seios encostando nos seus, a boca próxima à sua e com os lábios cobertos de sangue. Já não se encontravam na escuridão do túnel, mas a ingênua e apaixonada garota ainda sentia os efeitos que a morte humana lhe trouxera ao ter seu pescoço rasgado.

— E então? O que escolherá Criança?

Anastasia Örsolýa não hesitou em dizer aquilo que sentiu assim que conheceu aquela linda mulher na exposição do Museu. Ela tocou o rosto de Myla Dyvenko e sussurrou, com os lábios ressecados e uma aparência cadavérica.

— Eu... eu... quero você!

— A dor revigora e o sangue que iremos usufruir, nos eternizará! — disse Myla, enquanto aprofundava suas unhas afiadas em seu próprio pescoço. Myla Dyvenko abriu sua jugular e deixou que seu líquido vital derramasse sobre a boca de Anastasia que bebia ávida por salvação. E logo começaram suas convulsões, que se intensificavam gradativamente ao passo que sua transmutação tinha início, assim como a viajem ao passado atribuída à troca de fluidos com sua nova Senhora. Através da mordida de Dyvenko houve entre ambas, o compartilhamento de sangue, vida e memórias.

Quando finalmente Anastasia acordou de seu Sono de Morte, ela renasceu como uma das mais belas criaturas das trevas. De sua cabeça lindos e longos cabelos ressurgiram, com ainda mais brilho do que antes, sua pele estava suave como seda (apesar do corpo frio e extrema palidez), seus olhos faiscantes e belos faziam jus à sua boca agora com lábios carnudos e desejosos por qualquer ser vivente, suas unhas e dentes haviam voltado mais resistentes e dura como um diamante, a verdadeira personificação de uma beleza sobrenatural e misteriosa exalando charme e mistério tal como sua nova Senhora.

Örsolýa se levantou de uma bela cama e olhou em volta. Estava nua, mas logo se enrolou no lençol de seda que antes a cobria. Sentiu uma fraca brisa soprar por uma grande porta entreaberta e se dirigiu até lá. Quando a abriu, se deparou com uma varanda com vista para a margem oposta ao Distrito budapestino onde encontrou seu destino no Túnel e, debruçada sobre o corrimão de bronze, viu Dyvenko, sua Senhora e salvadora banhada pela luz lunar usando um fino tecido de linho.

— Aproxime-se Criança — disse lhe Myla Dyvenko — Sinta o que eu sinto, veja o que eu vejo e logo poderá beber do que eu bebo!

Anastasia caminhou até Dyvenko e a beijou. Sentiu as mesmas explosões de sentimentos, mas desta vez de alguma forma mais intensa, com cada molécula de seu corpo entrando em êxtase.

— Estás em uma nova vida, agora tudo o que ouvir, ver e sentir será cem vezes ampliado. Adapte-se e iremos viver o que todos desejam: A imortalidade e a juventude eterna.

— O que devo fazer? — perguntou Anastasia recuando alguns passos e vislumbrando a Lua sobre elas, parecendo extremamente maior naquela noite.

— Treine sua visão, treine sua audição, seu tato e olfato. Tudo agora é novo — respondeu Dyvenko, enquanto apontava para as estrelas — Mas logo evoluíra e iremos iniciar a retomada de meu trono nas Noites desse mundo. Fique até o amanhecer se quiser, como ainda não se alimentou terás o privilégio que eu não tive, o de ver o nascer do Sol uma última vez — disse Myla, enquanto voltava para o quarto.

A CondessaWhere stories live. Discover now