Hospital

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Quando meus olhos viram meu irmão ensanguentado no meio do asfalto, comecei a me desesperar. A gente acha que essas coisas só acontecem com os outros, não com os nossos.

Juliana ligou para a ambulância, e comecei a chorar, desesperada com o que poderia acontecer.

Depois de alguns minutos, que mais pareceram uma eternidade, a ambulância chegou, e me pediram para que eu me afastasse do corpo, mas logo aleguei que eu era irmã dele.

– Você tem que vir conosco para fazer a ficha de entrada do seu irmão.

Olhei para minha amiga com receio de deixá-la sozinha, e parece que o paramédico entendeu nossa troca de olhares.

– Me desculpa, mas somente uma de vocês poderá ir na ambulância.

– Tudo bem, Lua, eu vou depois. – Minha amiga sorriu, segurando em minha mão, como se quisesse me passar conforto e calma.

– Mas...

– Vamos logo. – Disse o paramédico.

Entro no veículo hospitalar e ligo para minha mãe:

“– Alô?

– Mãe?

– Por que você está com voz de choro, meu anjo? O que aconteceu. – O nervosismo em sua voz era notável

– Foi o Lucas, mãe... – Engoli em seco, tentando conter um soluço involuntário. – Ele sofreu um acidente e está indo para o hospital. Estou com ele.

– Qual o nome do hospital para que vocês estão indo?

– O Santa Isabel.

– Ok, estou indo.”

A ambulância foi cortando caminho por entre os carros e logo chegamos ao hospital. Vários enfermeiros já estavam à espera e pegaram a maca onde meu irmão estava deitado, inconsciente. O levaram para a ala cirúrgica, enquanto eu tive que ficar sentada na sala de espera, aguardando por respostas.

Depois de algum tempo, meus pais chegaram e minha mãe me abraçou assim que me viu.

– Como ele está?

– Faz pouco tempo que o levaram para sala de cirurgia. Ainda não tenho nenhuma noticia.

– Mas ele estava...

Minha mãe foi interrompida por um pigarro. Nos desvencilhamos do abraço e vimos que era o médico quem chamara nossa atenção.

– Creio que vocês sejam os pais de Lucas Johnson. – Assentimos. – Então... infelizmente ele perdeu muito sangue e precisará de uma transfusão.

– Eu posso doar? – Perguntei.

– Desculpe, mas infelizmente não. Você é de menor. Os aparelhos podem mantê-lo vivo por apenas dois dias. Ele precisa urgentemente de uma transfusão. E no nosso estoque não temos o tipo sanguíneo dele.

Sinto meu corpo ficando mole e minha visão escurecendo. Logo sinto meu corpo se chocando contra o chão e não enxergo mais nada.

Ao abrir meus olhos, eles se incomodam com a claridade do local onde estou. Ao acostumá-los com a luminosidade, vejo que estou num quarto branco.

– Eu estou no céu?

– Ainda não, Lua. – Ouvi a voz de Juliana, despertando-me de meus devaneios. – Sente-se melhor?

– Meu irmão está a beira da morte e você me pergunta se estou melhor? Sério?

– Desculpa... – Abaixou a cabeça, envergonhada.
– Eu quem peço desculpas... é que toda essa situação me deixou assustada.

Sorrimos uma para outra, pedindo desculpas silenciosas. Logo em seguida a porta se abriu fazendo com que nós duas olhássemos para o médico que acabou de entrar.

– Fico feliz que tenha acordado. – Sorriu cordialmente. – Você teve uma queda de pressão, mas já está liberada.

Levanto ainda um pouco zonza da cama e vejo que meu celular está em cima de uma mesa que ficava ao lado da cama. O pego e olho os meus contatos. Toda essa ideia de transfusão mexeu muito com a minha cabeça, e saí caçando pessoas que talvez pudessem doar sangue para meu irmão. Mas infelizmente nenhum parece ideal.

Ao sair da sala, não encontro meus pais e Juliana havia ido tomar um café. Decido ir para casa, espairecer as ideias. Mas acabo me desviando da rota e vou para a pita de skate, onde conheci o Jhonatan. Sentei-me debaixo de uma árvore e comecei a chorar.

O remorso cai sobre meus ombros. Se meu irmão não sobrevivesse, eu vou sempre me lembrar de que nunca fui uma boa irmã com ele. Sempre brigávamos e não nos dávamos bem. Talvez essa sua aproximação repentina nesses últimos dias seja porque ele estava prevendo alguma coisa.

Os soluços saem de minha boca sem que eu posso controlá-los. Sinto que alguém senta ao meu lado e toca meu ombro:

– Por que está chorando? – Diz o rapaz.

– Não é da sua conta. – Digo limpando meus olhos e tirando sua mão de meu ombro.

– Só quero ajudar, calma. – Levantou os braços, como se declarasse paz.

– Desculpa. – Abaixei a cabeça. – É que meu irmão sofreu um acidente e agora ele precisa de uma transfusão de sangue.

– Quem sabe eu não posso ajudar?

– Como? – Olho em seus olhos sem entender aonde ele quer chegar.

– Eu posso doar meu sangue para ele. – Diz o óbvio.

– Sério? – Um sorriso espontâneo de esperança surge em meus lábios.

– Sim. – Diz ele se levantando. – Vamos?

– Mas como posso saber que posso confiar em você? Vai que você é um drogado, aidético, sei lá? – Olho para ele desconfiada.

– Se eu quisesse te fazer algum mal já teria feito. E acho que esse eu fosse alguma dessas coisas que você citou, eu teria cara de cansado e acabado.

Só agora pude analisar por completo seu rosto. Ele parecia que nem sequer tinha olheiras, exalava saúde por seus poros.

– Ok, vamos. Mas se estiver me enganando irei denunciá-lo.

Fomos andando em silêncio até o hospital e, quando me lembrei um coisa crucial, estaquei no meio do caminho, o que fez o garoto me olhar com cara de confuso.

– Vai ficar parada aí?

– Esqueci de perguntar o seu nome.

– Justin.

– Agora que sei o seu nome, já posso te denunciar caso tente alguma coisa contra mim. – Lancei uma piscadela, o que lhe fez rir.

Continuamos o caminho em silêncio. Assim que chegamos à sala de espera, minha mãe que estava sentada, assim que nos viu levantou-se e olhou estranho para Justin.

– Quem é esse rapaz? – Perguntou, olhando seriamente para nós dois.

– É um amigo meu. – Menti. – Contei a ele o que houve com o Lucas e ele disse que faria o possível para ajudar.

Minha mãe olhou séria para ele, o que fez com que ele sorrisse de nervoso e engolisse em seco. Mas logo ela desfez a carranca e sorriu.

– Fico feliz em saber que você tem amigos tão bondosos e dispostos a te ajudar, filha.

Seguimos os três para uma sala e Justin parecia mais nervoso do que antes, mas, pela sua feição, pude ver que ele estava disposto a ajudar.

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