Capítulo 1: O dia em que te conheci

1.5K 51 5
                                    

O dia cinzento combinava com ela estava se sentindo por dentro. Ela apenas sabia. Sabia que tinha falhado outra vez. Ela já estava sem vontade de chegar em casa e contar para sua mãe que não tinha conseguido o emprego que precisava. Ela sabia que sua mãe ficaria triste, mas que iria dar um jeito de sorrir e dizer que logo ela encontraria um emprego. Ela sabia que logo seria necessário arrumar um empréstimo no banco para ajudar a pagar as contas. Ela pensou sobre cada uma delas, mas especialmente: sua faculdade. Ela queria dar uma pausa nos estudos porque este era a maior despesa. Ela ficaria triste, claro, mas aceitaria não poder ir às aulas se isso significasse que elas conseguiriam pagar por todos os itens básicos sem que sua mãe trabalhasse demais. Mas sua mãe estava determinada a não deixar que isso acontecesse. 

Enquanto ela caminhva pela  Avenida Paulista, um de seus lugares favoritos em sua cidade, ela estava perdida em seus pensamentos, preocupações e em seus medos. Ela viu um dia típico no centro financeiro de São Paulo. Homens de terno, mulheres em trajes de trabalho, a maioria deles andando apressadamente ao falar em seus telefones sem realmente olhar ao redor e apreciar a beleza desta selva de pedra. Ela viu alunos deixando suas escolas, animados, falando alto e felizes, sem nenhuma preocupação no mundo. A maioria deles indo para um dos vários restaurantes nas proximidades para almoçar. Ela andou mais blocos do que precisava, até que chegou a uma estação de metrô. Ela fez questão de verificar duas vezes a direção que ela tinha de tomar, mesmo que esta parte da cidade fosse bem conhecida, por que ela não estava confiando em sua mente no momento.

Como sempre, ela não encontrou um lugar para sentar-se e ficou de pé durante os 30 minutos. Ela não percebeu nada disso. Ela chegou na estação que precisava e simplesmente andou até o ponto de ônibus. Ela estava tentando pensar uma maneira para de conseguir um emprego,  já tinha tentado enviar seu currículo para todos os seus amigos e amigos de amigos, já tinha ido para quase todos os shoppings da cidade e entregue vários deles em quase todas as lojas. Em alguns deles, o gerente iria olhá-la com pena e dizer a verdade: "Nós não estamos contratando agora. Você sabe, a crise ...". Em outros, alguém apenas dizia que ligaria quando uma vaga estivesse disponível. Ninguém ligou. Ela entendia que eles estavam vivendo em uma crise financeira. Ela sabia que ela não era a única incapaz de encontrar um emprego. Estatísticas mostravam que o Brasil tinha agora mais de 12 milhões de pessoas desempregadas. E estava no meio de uma crise política. E de frente para uma grande recessão.

Ela não percebeu que ela estava chegando em casa, até quase perder sua ponto de parada. Ela caminhou pelas ruas de seu bairro, olhando para as casas simples e as crianças brincando descuidadamente e descalças na rua. Queria chegar em casa o mais rápido possível para se livrar do salto alto que já estava fazendo seus pés doerem.

Ela o fez assim que abriu a porta. Morava em uma pequena casa com sua mãe. Não era grande, mas era o lar dela. Confortável o suficiente para acomodá-las. Tinha paredes brancas e simples em todos os quartos, mas fora pintada  com um verde pálido do lado de fora. Cada espaço da casa mostrava a sua personalidade na mobília e decorações. Foi a primeira casa em que morou depois de seu divórcio dos pais. Era muito mais simples do que o apartamento em que vivia antes, mas ela adorava aquela casa com todo seu coração. Rapidamente, mudou de roupa e se dirigiu para a cozinha para começar o jantar. A mesma tinha azulejos cinza e branco e uma grande janela atrás do fogão, onde ela podia olhar para ela quintal e jardim de sua mãe. Lavou as mãos e abriu os armários para começar a escolher os ingredientes da refeição que ela ia fazer. Ela colocou em uma música suave no fundo para ouvir enquanto cortava os legumes. Logo a música "Just Breathe" começou a tocar e ela sorriu. Essa foi a primeira vez que ela sorriu naquele dia. Cozinhar se tornou uma terapia para e ela adorava fazê-lo.

Poucas horas depois sua mãe chegou. Ela sabia que pela forma como as chaves abriam o portão,  como os seus passos soaram no chão do pátio lateral e quando sentiu o cheiro de cigarros que sempre ficavam em sua roupa.

When You Tell The World You're MineWhere stories live. Discover now