Dia da mudança

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– Então você vai se mudar hoje? – O dia havia se encerrado e todo aquele drama de Eunha por causa de organização poderia finalmente acabar.

– Sim, Eun. Pode dar graças aos céus agora. – Yuju disse e riu a mais velha enquanto comia seu sanduíche de queijo e peito de peru.

– Você sabe que eu gosto de você, mas eu vou dar graças sim. – A garota de cabelos castanhos tinha uma máscara facial no rosto que a deixava bem engraçada. – E vê se não atrapalha o casal enquanto elas estiverem transando.

– Ah sim, eu vou entrar no quarto pra atrapalhar as duas! – Debochou do comentário da amiga.

– É porque três lésbicas na mesma casa geralmente não dão muito certo. – Quando o amiga lhe disse isso, Yuju respirou fundo, olhando para os lados como se quisesse mudar de assunto.

Talvez ela não tivesse pensado muito bem, mas comentar sobre sua sexualidade até que seria uma coisa importante, mas agora que a burrada já tinha sido completa, teria que seguir com isso até que fosse o momento certo para contar.

– Ah não... Vai me dizer que você olhou nos olhos dela e disse que era heterossexual? Ai Yuju você é engraçada, ela deve ter acreditado bastante. – Riu a mais velha.

– Não foi exatamente assim que aconteceu, eu só não disse que era lésbica... Mas isso não vai atrapalhar em nada, acredite em mim. – Tudo bem que as frases que terminavam com "Isso não vai acontecer", "Acredite em mim" sempre acabavam acontecendo. Mas a Jung não precisava saber disso, não é?

– Quero ver como vai esconder isso, duas lésbicas na mesma casa e nenhuma delas sabe que você é lésbica também. – Aquela frase a tinha confundido, mas a questão é que Yuju estava se enfiando em uma furada.

– Você vai ser sempre assim não pessimista? Um dia quando estivermos sentados contando sobre nossas vidas, rindo e contando experiências amorosas eu prometo que digo pra eles. – Isso nunca iria acontecer e as duas sabiam disso.

– O que você precisa é arrumar uma namorada e sair dessa seca, já estou vendo criar músculos nesse braço direito... Olha o esquerdo como está magrinho. – Ele segurou o braço da amiga, balançando de um lado para o outro.

Eunha era uma garota muito engraçada quando queria, sabe aquela que perde os amigos com as suas piadas idiotas? E apesar de Yuju não querer admitir ela já estava a dois ou três meses sem transar, estava começando a se sentir meio mal por não ter conseguido sair com ninguém nesse meio tempo, mas sua vida se tornou uma loucura depois que se formou, e arranjar uma namorada não foi sua prioridade ao terminar a faculdade.


– Desculpa aí pegadora, a comedora do país, a que transa três vezes por dia. – Disse a mais velha do quarto enquanto fechava a mala que continha todos os seus pertences.


– Vou te inscrever em um site de namoro, acho que você precisa.


– Desde quando você se preocupa com a minha vida amorosa? – Yuju arrastou a mala até a sala.


– Quando você arranjar uma namorada vocês vão trabalhar, ganhar dinheiro, se casar e depois vão pra bem longe daqui, esse é o meu objetivo. – Riu, mas a piada acabou quando Yuju olhou sem graça para a garota.



* * *



Andou pela rua iluminada e cheia de vida até achar a casa que estava prestes aviver, ao tocar a campainha ele ouviu alguém discutindo e até chegou a pensarque fosse na casa ao lado já que SoWon não parecia fazer o tipo encrenqueira,grudou a orelha na porta da frente pra tentar entender o que era masdesgrudou-se dali quando viu alguém vindo.


– Olá, eu sou a nova inquilina e você deve ser a namorada de Sowon... Prazer, ChoiYuna. – Entendeu-lhe a mão com um sorriso no rosto e sua mala na outra mão.


– Olha, não sei onde você vai morar, mas não é na minha casa. – O mulher fechoua porta na cara da garota.


Choi deu um passo para trás meio paralisada com aquilo, sua esperança de vivernaquela casa começou a morrer, se a namorada da dona da casa era assim, imaginacomo iriam ser os seus dias lá dentro? Mas poxa, ela tinha gostado tanto dacasa. Logo, Sowon apareceu na porta a convidando pra entrar e pedindo milnovecentas e sessenta e sete desculpas.

– Eu não esperava que ela fosse pirar assim, por favor não vá embora... Eurealmente preciso desse dinheiro. – Os olhinhos da proprietária brilhavam e Choinão conseguiu negar, ela tinha um coração extremamente mole.


– Kim Sojung eu espero que essa garota não esteja aqui em casa... – a namoradaentrou na sala e ela não tinha uma expressão muito feliz, tinha uma posturaautoritária e tratava a dona da casa de uma forma não muito amorosa quanto seesperava.


– EunBi, essa é Choi Yuna. – Por algum motivo Sowon aceitava ser tratada assim,parecia que ela não tinha muita voz na sua própria casa.

A namorada olhou dessa vez mais normalmente para a inquilina, passou de umacara feia pra uma sem expressão, já era um começo. E agora mais do que nuncaela tinha que fingir ser hetero, não por medo de EunBi, porque se as duasbrigassem ela teria mais chances do que a castanha, mas porque achou que aquilocomplicaria Sowon, que foi tão doce e gentil com ela todo o tempo. Talvez oesforço de dizer mentiras valesse a pena? Naquele momento ela achou que sim.

– Vou colocar minhas coisas no quarto... – Saiu a garota meio sem entender seesse comportamento perduraria por todos os dias seguintes. Mas infelizmente oprimeiro mês já havia sido pago, e não seria fácil arranjar outra casa semqualquer dinheiro no bolso. Maldito pagamento adiantado.

Na sala, o casal ainda brigava e a dona da casa conseguiu convencer suanamorada a considerar a ideia, Yuju não era a única sem grana, e estava ficandodifícil para as duas também e é claro que uma renda extra seria extremamentebem-vinda. Sowon estava bem insatisfeito com a sua condição emocional, amorosae financeira, a sua namorada tinha crises de ciúmes psicóticas e ela nãoconseguia entender que aquilo era algo doentio e um relacionamento extremamenteabusivo.

– Sowon, eu não vou ir trabalhar até ela sair, não quero você sozinha com outramulher. – SinB trabalhava no turno da noite e isso a deixava louca já que nãopodia saber o que sua namorada fazia durante esse período, aquilo magoava a garota,sua própria namorada não tinha confiança em si, e ela estava passando a ter amesma atitude: não confiar em Hwang Eunbi.

– Não se preocupe, eu sou heterossexual. – Yuju entrou na sala mirando SinB nosolhos de uma forma bem séria, ela já tinha se acomodado no andar de cima eusava seus chinelos felpudos quando desceu as escadas. A ciumenta lhe fitavacom raiva e inveja.


– Eu te disse amor. – Sowon disse baixinho e o sua namorada saiu da salalevando sua mochila nas costas e deixando um pacote de climão na sala.


Yuju meio descarada sentou na poltrona e começou a mexer no celular, elatentava não se importar, ignorar o que acabara de ver, mas aquilo não era nemum por cento aceitável pra ela, fora criada com os princípios de que um casaldeve sempre se respeitar, mesmo com suas indiferenças.


– Por que não responde ela? – Choi não aguentou e a pergunta saiu de seuslábios atingindo Sowon na cozinha. – Por que não se posiciona? Sempre deixa elate controlar e fazer o que quiser de ti?


– Ela é tudo que eu tenho, a pessoa mais importante. – Colocou outro prato nolava-louças, meio cabisbaixa e cansada.


– Pelo o que eu sei a pessoa mais importante pra você tem que ser você mesmo. –Aquilo fez a cabeça de Sowon se erguer e um suspiro sair junto com um sorriso.


A garota não respondeu por não saber o que dizer, e quando ouviu o barulho dospés de Yuju andando pela casa saiu da cozinha lhe entregando uma toalha bordadacom um "Bem-vindo" na sua parte de baixo, fazendo-a olhar nos olhos.


– A água quente só funciona se você ligar o chuveiro e em seguida girar oregistro ao contrário. – A dona da casa sorriu, e virou as costas, mas Yuju acutucou chamando sua atenção.


– Obrigada... – Foi simples e sua expressão era de real gratidão com uma misturade preocupação, tomou para si a causa de Sowon e decidiu em sua própria menteque não deixaria ela ser colocada para baixo como fora essa noite.


Sowon voltou à cozinha e sentou-se no chão daquele cômodo pensando um pouco,não quantas lágrimas haviam caído, mas sabia que daqui a dez minutos estaria noandar de cima ouvindo SinB a xingar e a mandar fazer coisas. Enquanto isso anova hóspede tomava um banho quente, ela estava a pensar o que seu pai faria emuma situação dessas. Se afastar ou fingir que não ouvia com certeza não era umaopção, mas o que ela deveria fazer?    

A inquilina - GfriendWhere stories live. Discover now