Capítulo 27 - Au revoir, le bon sens

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- Puta que pariu! - exclamou Clarice, assim que acordou no dia seguinte, de cara pro relógio sobre sua escrivaninha.

Ela estava atrasada.

Praguejando todos os palavrões que sua amizade com Eduarda lhe proporcionou o aprendizado, a garota saiu chutando tudo o que viu pela frente e pegou sua toalha, correndo para o banheiro. Havia passado mais uma noite acordada e, ao se olhar no espelho, de relance, quase caiu para trás com a escuridão das olheiras que tinha abaixo dos olhos.

Merda.

Ela sentia tanta saudade de uma vida saudável.

Logo Clarice, que sempre havia prezado por todas as noites de sono na faculdade, a ponto de fazer todos os trabalhos com antecedência, só para não ficar acordada quando poderia estar dormindo...

Mas a sua vida estava mesmo um caos tão completo desde o primeiro dia de aula. Tudo parecia estar confabulando para dar errado ao mesmo tempo. Ou, ao menos, para enlouquece-la - o que acontecesse primeiro. Maldita hora que ela decidiu fazer qualquer coisa com Antônio. O que será que havia acontecido com o ex-orientador para ele tentar abusar dela numa segunda-feira de manhã?

Clarice odiava segundas-feiras de manhã.

Dez minutos depois, os cabelos completamente embaraçados, sem tempo para arruma-los, a garota jogou as mochilas sobre os ombros e correu até a universidade. Felizmente, ela morava há apenas duas quadras da entrada do campus, e, com todas as últimas corridas que havia feito para chegar a tempo nas aulas, ela já estava praticamente em forma atlética.

Praticamente, claro, porque toda sua desenvoltura física foi-se embora assim que ela precisou subir as escadas do departamento. Sério, para que tantas escadas?! - ela pensou, enquanto praguejava.

Ela pegou impulso no corrimão para começar a subir o último lance de escada, quando se chocou com um corpo sólido do outro lado.

- Ora - a voz debochada de Antônio disse, e o estômago da garota embrulhou - Olá.

Clarice apertou o corrimão com força.

- Para que tanta pressa, Clarice? Vai tirar o Joãozinho da forca? - sorriu - Se bem que você jamais impediria João se se matar, se ele quisesse mesmo se matar. Por mais bonitinha que você seja.

A bile subiu pela garganta de Clarice, e ela engoliu em seco, sentindo as mãos transpirarem sobre a madeira do corrimão.

- Do que você está falando? - ela conseguiu perguntar.

- Ah - o sorriso dele aumentou mais - Você sabe exatamente do que estou falando - apertou o queixo dela - Você não é tão bobinha quanto faz as pessoas acharem que você é.

- Eu preciso passar - ela falou, o maxilar trancado.

- Vai ser um prazer te ver subir essa escada, não se sinta impedida.

Antônio, então, apenas deslocou minimamente seu corpo para o lado, deixando um espaço pequeno para a garota passar. É claro que ela conseguia passar ali, mas não daria para impedir que seu corpo se resvalasse no dele.

Clarice sentiu a vontade de vomitar aumentar olhando para aquela situação. O que, claro, só fez o professor sorrir mais.

Ela impulsionou o corpo para cima, passando o mais rápido que conseguia, no pequeno espaço entre ele e o corrimão. Mas não rápido o bastante para a mão dele não toca-la, pouco abaixo do quadril. E não rápido o suficiente para ela impedir toda a ânsia de vômito, de nojo, de culpa, inunda-la por completo mais uma vez.

Diversas Formas de Nós [COMPLETA]Where stories live. Discover now