Um maldito elogio.

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Harvard era enorme. Sim, definitivamente enorme e tão cheia que me senti sufocada a medida que as pessoas passavam por mim, ou me esbarrando ou fingindo que eu era invisível. Ou quando as mãos se estendiam em panfletos de fraternidades, gritando para que os calouros fizessem parte delas tanto quanto gostariam de estudar ali.

Eu, por sinal, era uma das calouras.

Tentando respirar, tentando achar uma brecha saudável para conseguir caminhar até os dormitórios compartilhados que nada tinham a ver com os grupos genéricos e muito bem classificados em cursos, gêneros e interesses, continuei seguindo em silêncio para a esquerda. Continuei seguindo. E aquela decisão não pareceu tão boa quando encontrei um grupo de rapazes em sua rodinha, assobiando para as garotas que passavam e azucrinando os rapazes fora do padrão musculoso.

Prendi a respiração.

Se eu passasse rápido, sem ao menos piscar ou respirar muito, não teríamos problemas.

Eu não teria problema com nenhum deles.

Fiz exatamente isso; ajeitei a alça da mochila preta que carregava e segui em frente, semblante fechado, nenhuma piscada direta, nada.

Obviamente, machos precisavam de mais do que esses sinais para entenderem que não se deve tocar numa garota ou provocá-la.

"Psiu." Ouvi um deles assobiar para mim.

Ignorei.

"Não vai falar com a gente, princesa?"

Ignorei outra vez.

"Ei, vem cá. O Dennis vai cuidar de você."

Ignorei.

Estava quase que me livrando totalmente das sombras daquele grupo quando senti uma mão tocar o meu ombro, me forçando a parar. Automaticamente, segurei no pulso daquela mão e girei meu corpo para visualizar o seu dono melhor.

Sorri sem mostrar os dentes.

"O que você quer?" Perguntei tão séria que ninguém poderia jogar a culpa em mim, no final.

"Seu número? Nome?" Eu nem ao menos dei tanta atenção assim e girei o braço pertencente a mão que me segurava.

Naquele instante sabia que não podia vacilar.

"Não fale comigo sem que eu fale com algum de vocês antes, ou darei queixa de assédio na próxima vez. Meu pai é policial, vocês estarão ferrados." Avisei.

Um dos rapazes gargalhou tão alto que girei a cabeça para lhe encarar e pude dizer, com certeza, que nossos olhos se fixaram por cinco segundos antes dele me medir da cabeça aos pés.

"Bela regata." Elogiou ele.

Dei as costas.

Nem mesmo mais uma palavra precisou ser dita.

Levaram cinco segundos e uma regata elogiada para ele ter cismado comigo.

Quando a neve cairWhere stories live. Discover now