Capítulo 3: Não está morto o que dorme eternamente

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Quando acordou, Sushi estava numa pequena cela vazia e trancada a grades. Era frio, e tudo exalava um ar úmido com cheiro de concreto e mofo. Ele se aproximou da grade e olhou para fora. Viu um corredor com ao menos mais dez celas como a dele de cada lado, todas vazias exceto por duas. Em uma, jazia André. Em outra, Caio.

— Ei! Ei! — gritou Sushi, mas não houve resposta, e os amigos sequer se mexeram.

— Eles não vão te ouvir — ecoou a voz de Guilherme do fundo do corredor. Ele vestia um manto azul e vinha com passos tranquilos. — E, se ouvissem, não faria diferença. Eles não podem te ajudar. Estão tão perdidos quanto você. — A fraca luz no teto escurecia a silhueta dele, mas Sushi sentia que ele estava sorrindo.

— Que é que você fez com meus amigos?

— Nada de mais. Apenas um pouco de sonífero para que a espera na cela não fosse tão dolorosa. Fizemos o mesmo com você, é claro. Mas você teve o azar de acordar mais cedo. — Guilherme foi até as celas dos outros dois, entrou e acordou-os a chutes e berros. Sem demora, eles estavam olhando ao redor, confusos e tremendo. — Como seu amigo já acordou e os preparativos já foram feitos, já podemos iniciar as atividades! — disse Guilherme. Batendo palmas, convocou outras figuras encapuzadas, que entraram no corredor e se aproximaram depressa. — Levem os três para o altar — ele disse.

As duas figuras concordaram. Rapidamente, abriram a sala de Sushi e o tiraram de lá. Os três Jogabilideiros se entreolharam, com angústia no olhar. Embora estivessem reunidos novamente, isso não trazia muita esperança. Os apóstolos os algemaram enquanto Guilherme saía por uma porta de metal enferrujada, e logo depois empurraram-nos para a frente. Tudo o que podiam fazer era obedecer.

A Turma do Video Game foi guiada até o fim do corredor. Os apóstolos, que iam por trás, carregavam lâmpadas a óleo que jogavam sombras para todos os lados e rangiam sem parar. As muitas celas passavam ao lado e, apesar de vazias, continham pedaços de tecido e restos de comida. Ao abrirem a porta, chegaram num salão gigantesco, cujo fim não se enxergava em lado algum. Por todo canto, rígidas pilastras enormes cresciam até sumirem no teto, tão distante que derrotava a luz da lamparina. No ar, seus passos ecoavam junto com os ruídos das algemas, e pelo enorme salão de pedra caminharam.

Foram levados à parede oposta, onde havia um altar, uma suave elevação circular no chão. No centro, três famliares pratos fundos cheios de um líquido escuro se organizavam sobre os contornos de um complexo desenho geométrico de giz na pedra fria. Atrás disso, estavam os apóstolos e seu líder, Guilherme, alguns segurando em tochas.

Os carcereiros interromperam os três prisioneiros a poucos metros dos degraus. Forçaram-lhes a se ajoelhar para que outros dois seguidores de Sonic viessem e acorrentassem suas algemas ao solo. Os apóstolos contemplavam os inimigos derrotados em silêncio, mas não sem prazer.

Guilherme se aproximou e parou perto dos desenhos. — E pensar que vocês sempre se acharam tão bons.

— Diz logo teu plano — falou Caio.

A congregação riu junto com Guilherme. — Agora, eles até reconhecem nossa superioridade. Já presumem que temos um plano digno de ser ouvido! Bom... não temos tempo a perder. — Ele pigarreou. — A cada cem mil anos, os astros ao redor da Terra se alinham na forma de um ouriço. É um fenômeno constatado há milênios, presente nos mais antigos textos religiosos da Mesopotâmia. Um evento astronômico sem igual e, segundo nossos profundos estudos, a forma de um ouriço não é mera coincidência. Os astros estão diretamente ligados a Sonic. Quando tomam a forma de um ouriço, é porque a janela para nosso mundo está aberta para ele. Nesses momentos, nosso deus, até então intangível, pode tomar uma forma física em nosso mundo e apoderar-se dele como quiser. E adivinhem a sorte de vocês: a última vez que esse evento aconteceu foi há exatos cem mil anos. Conosco, vocês presenciarão algo que ninguém nunca viu nesse universo.

A Turma do Video Game em O Mistério do Prato FundoWhere stories live. Discover now