Capítulo 3

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Kiara

- Moça- Um cliente me chama- Mais café, por favor.

- Sim senhor- dou um sorriso fraco, meu melhor. Tenho que admitir que não é aquilo tudo, mas nada é perfeito não e mesmo?

Faz tempo que não sorrio de verdade e nem tenho motivos, na verdade nem sei se algum dia cheguei a sorrir de verdade. Porém trabalhando aqui, com pessoas, sou obrigada a ser simpática, afinal eles não tem culpa dos meus problemas e preciso do emprego.

O Joe é um bom patrão, baixo e gordo, mas sempre bem humorado, na casa dos 50 anos, seus cabelos loiros sempre bem cortados e penteados para trás, seus olhos verdes dão um ar jovial, contudo ainda sim da para perceber as rugas e seu olhar cansado. Joe ergueu a lanchonete do zero e trabalhou duro pra chegar até aqui. O preconceito das pessoas quase o levou a falência, tudo por ele ser homossexual e ter largado tudo para seguir seu sonho de cozinhar. Até ganhar praça e clientela passou por muitas dificuldades, com direito a passar fome e tudo, mas depois o negócio impulsionou e só cresceu. Ele é exigente quando se trata dos seus clientes e da limpeza do local, pois foi com esse dilema que chegou até aqui e, como Joe gosta de dizer, não se mexe em um time que está ganhando.

Acho que foi por esse motivo que ele me ajudou tanto e eu confiei nele. Joe me olhou com certa ternura, sabia que eu tinha problemas e que eu estava com fome, sem teto. Seu amor pelos outros levou ele a me amparar em um dos momentos mais difíceis da minha vida.

Quando cheguei à cidade, andei por dias a fio procurando um emprego. As pessoas arranjavam desculpas para não me empregar e muitas me enxotaram, pois devo admitir que estava em péssimo estado, a dias sem tomar banho ou ter uma refeição descente. Quando cheguei ao bairro Joe me ofereceu comida e emprego, me tratou como gente e sou muito grata a ele.

Coloco o café na xícara do cliente e ele agradece, percebo sua mão vindo em minha direção, me arrepio, fico paralisada por um momento. "Se acalma Kiara", falo para mim mesma tentando não demonstrar para o cliente a minha luta interna. Ele, completamente alheio a meus traumas, apenas entrega uma pequena gorjeta pra mim pelo bom atendimento segundo ele. Solto o ar que nem percebi que tinha prendido e sorrio amarelo.

Esse meu pavor de homens é culpa dele. Quando comecei aqui, mal podia chegar perto de algum homem, mas acabei me acostumando, pois não preciso estar muito perto e me sinto segura, mas qualquer aproximação maior me deixa assim, completamente em alerta e apavorada.

- Kiara- Olho para o lado e vejo o rapaz que esbarrei esses dias, Christopher eu acho, todo sorridente- Oiii.

- Como você sabe meu nome?- Perguntei, já desconfiada.

- Aquele dia a garçonete te chamou pelo nome lembra? Então gravei- Diz sorrindo, meio orgulhoso por lembrar meu nome, como se isso fosse algo grandioso, que, tenho que admitir, mexeu comigo, mas tento não transparecer.

- Ah!- Disse olhando séria para seus olhos azuis. Ficamos nos olhando por uma eternidade, meu coração acelera e da um frio na barriga, então desvio o olhar. Não gosto nada de como me sinto perto dele.

- Você quer sair comigo?- Ele pergunta dando um sorriso de lado e sinto borboletas na barriga, então me lembro dele, das suas mãos, seu hálito nojento e estremeço. Viro as costas e vou servir as outras mesas, talvez se eu ignorar ele me deixa em paz.

- Não vai me responder?- Não digo nada e Christopher fica me seguindo pela lanchonete.

- Vai ficar me seguindo? - digo irritada- Você é o que? Um perseguidor?

- Não, só quero sair para conhecer você.

- Você é louco, nem te conheço.

- Por isso que quero sair com você né, pra te conhecer.- Reviro os olhos e mais uma vez dou as costas para ele, porém ele é mais rápido e passa na minha frente começando chamar atenção dos outros clientes.

- E então?- credo que cara mais insistente, já falei que não, mas continua aqui.

- N.Ã.O - Falo pausada e claramente com esperança de dar por encerrado o caso, ainda assim, parece que não o abalou nem um pouco.

- Hmm, bancando a difícil? Tudo bem, mas eu não sou de desistir fácil viu minha linda.

Viro para ele pra perguntar o que ele quis dizer com isso e deixar bem claro que não sou linda de ninguém, mas ele já está saindo porta a fora. Sinto uma pontada de decepção por ele ter ido, no mesmo momento em que me fico aflita com sua insistência. E se ele for um perseguidor? Um louco? Sinto algo diferente perto dele, mas vai que estou errada e ele quer me machucar? Estremeço só de pensar e decido que vou manter esse cara longe.

- Kiara, a mesa 11!- chama Joe me tirando dos meus pensamentos.

- Claro- digo voltando ao trabalho.

Um Novo Amanhecer ( Concluído)On viuen les histories. Descobreix ara