Capítulo 3

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Os dias se passavam e eu não parava de pensar naquele homem. O que está acontecendo comigo? Eu sempre fui tão profissional. Não conseguia parar de pensar nas nossas transas, no jeito autoritário dele e naquele olhar triste que carrega uma história. Decido procurar por ele, depois de inúmeras pesquisas no Facebook eu encontro seu perfil, meus olhos brilham e meu estômago embrulha. Abro sua página e está fechada, consigo ver somente sua foto do perfil e umas publicações de alguns anos atrás. Sua foto é a mesma que vi no celular, dele e do seu filho. Um status me chama muito a atenção:

"Por mais que a primavera e o verão chegue, meu coração sempre será um dia pacato de outono e congelado como o inverno!!"

Engoli em seco e imaginei mil e uma coisas. Então mandei um convite para ele. Me assusto com meu celular tocando:

— Alô?

— Como você ousa a mandar convite no meu Facebook pessoal? Você está pensando que é quem para se atrever a isso? Você é só uma prostituta, se coloque no seu lugar, eu te pago para me dar prazer, somente isso. Minha vida pessoal não te interessa nem um pouco. Você é um ser desprezível, depósito de esperma e fim.

— Você é um babaca — estava tremendo de nervoso — Se você acha que pode me ofender assim está enganado, eu não preciso de você, não preciso do seu dinheiro. Posso fazer sexo por dinheiro sim, mas não sou uma pessoa amargurada da vida como você e... — tum, tum, tum... o idiota ainda ousa desligar na minha cara. Se ele não ligasse privado, juro que retornaria e falaria umas boas para ele.

Olho para o relógio e já são 19:40, meu próximo cliente vem me buscar as 20:00. Dou uma última olhada no perfil dele e vejo que ele trabalha na empresa mais famosa de publicidade da cidade, a Performance. Penso em bater lá, mas depois vejo que não vale a pena, afinal só seria mais humilhada, melhor seguir minha vida como sempre foi. Ouço a buzina de longe, olho pela janela, meu trabalho me espera, revirei meus olhos, pego minha bolsa e saio.

As 22:00 termino o serviço. Me sinto suja, mas suja na alma, só me sentia assim quando comecei a fazer programa, depois me "acostumei" com isso, mas hoje esse sentimento voltou à tona. Para espantar esses pensamentos eu ligo para o Léo, meu melhor amigo desde que cheguei aqui na cidade, estuda comigo na faculdade, ele é uma figura.

— Léo, está fazendo o que?

— Nada minha gatinha.

— Vamos sair pra beber, eu pago!

— Arrasa viada — caiu na gargalhada — só me fala onde é que daqui a pouco estou por ai.

Depois de mais algumas conversas eu desligo, sento na beira da calçada e fico pensando em tudo que aconteceu no último mês, nem me dei conta de como a hora tinha passado, escuto uma voz me gritando:

— Bah meu amor, levanta do chão rapariga!

A tristeza que estava em mim foi embora dando lugar para um sorriso largo em meu rosto. Impossível ficar triste perto do Léo, uma amizade verdadeira cura tudo.

Levei ele para um barzinho com música ao vivo, desabafei tudo com ele. Contei tudo que anda me assombrando. Depois eu e ele caímos na farra, entramos na primeira balada que achamos, precisava me distrair e me divertir e ao lado dele é diversão garantida.

                                 //

Os meses se passaram e enfim chegou minha formatura, o grande dia. Liguei para minha mãe:

— Oi mãe, como a senhora está? Estou morrendo de saudades, estou me formando hoje e logo irei passar as férias em casa.

— Oi minha filha, fico muito feliz por você, eu sabia que você iria ser meu orgulho. Não demore a vim, viu? — ouço minha mãe tossindo e uma voz fraca — também estou com muita saudade.

— Mãe a senhora está bem?

— Estou meu amor, não se preocupe.

Neste momento Léo aparece:

— Vamos Bah, está começando.

Eu só assenti com a cabeça.

— Mãe preciso ir, depois te ligo, beijos.

Desligo o telefone e vou em direção ao Léo de cabeça baixa e preocupada com minha mãe, quando me esbarro em um cara e sem nem ao menos olhar para cara dele peço desculpas e continuo andando. Este homem, por sua vez, me segura pelo braço, me leva a força para o estacionamento e me joga dentro do carro. Eu assustada olho para ele e encontro seu olhar. Em um tom de voz baixo e ofegante eu consigo dizer:

— Anderson?

BÁRBARA: A PROSTITUTAOnde histórias criam vida. Descubra agora