PRÓLOGO

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Quatro anos antes

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Quatro anos antes...

São Sebastião cidade de São Paulo.

Eu tive coragem, finalmente venci o mal, mas e agora? Esse é o pensamento que me ocorre ao acordar pela manhã depois de uma noite tenebrosa que corajosamente enterrei meu passado para sempre naquele galpão.

Escondido por trás de uma cortina de tecido escuro, eu observo a rua pela janela da sala. O movimento na favela parece calmo, meus pais já foram trabalhar e pelo horário minha irmã está na escola.

Preciso de ajuda!

Penso rapidamente e mais uma vez observo o movimento das pessoas circulando tranquilamente pela rua estreita de chão batido em frente à casa dos meus pais. Minha mente voa em pensamentos desordenados, o pânico me atormenta e a tranquilidade aparente parece uma bomba relógio a ser detonada a qualquer momento. Se os caras baterem aqui estarei ferrado e o sonho de frequentar uma faculdade vai por água abaixo.

Meu padrinho!

Ele é a única pessoa que realmente pode me ajudar a resolver esse problema. Penso numa alternativa e não tem jeito, eu preciso ir ao encontro dele. Tomado por uma coragem repentina, corro até o quarto e escolho a primeira muda de roupa que encontro pela frente. Visto-me rapidamente e saio com cuidado, pois a ansiedade consome cada célula de meu corpo.

No trajeto até a casa dele presto atenção aos mínimos detalhes. Toda atenção é pouca, as ramificações do inimigo estão espalhadas por toda parte e a qualquer momento suspeito que seja um cara morto.

Desvio o caminho por atalhos onde sei que seria mais difícil de ser encontrado e rezo para ter forças de chegar ao meu destino sem ser notado.

A casa do meu padrinho fica próxima a minha, mas aqui até o barulho do chinelo ao andar nas ruas de chão batido é conhecido. As pessoas se conhecem e, por isso é bom ficar bem atento.

Após andar quinze minutos espreitando entre muros e barracos, chego a uma ampla casa de material, uma das poucas aqui do bairro com essa estrutura.

Ao chegar sou bem recebido. Ele não é meu parente, mas é a pessoa que sempre esteve presente em minha família. Meu pai o considera um homem de muito caráter.

Vou direto ao amplo sofá de três lugares em tecido Suede na cor marrom e sento na beirada enquanto crio coragem para falar. Um filme passa em minha cabeça, ele fecha a porta e vem em minha direção um tanto apreensivo. O padrinho é a única pessoa que sabe dos meus problemas aqui no bairro. Esfrego uma mão a outra e as apoio às pernas. Sinto-me como se tivesse uma bola em minha garganta, ela dói quando falo, mas antes que uma vertigem nervosa provoque um colapso em meu organismo, começo a falar.

— Padrinho — engulo a saliva, enquanto tento buscar autocontrole. — Eu fiz uma coisa muito errada, mas necessária, pois não aguentava mais aquela situação.

Ele fica paralisado, aos setenta anos de idade tenho certeza que meu padrinho não imaginava ouvir esse tipo de revelação da minha boca. Respiro profundamente e tento me acalmar da agitação que meu corpo se encontra. O medo transpira em mim.

Conto em detalhes tudo que aconteceu. Ele leva à mão a cabeça careca formada apenas por pequenas mexas de cabelos grisalhos nas laterais e respira fundo. Meu padrinho não é bobo, já deve ter associado o estado de pânico que me encontro ao perigo que agora estou correndo por conta da prestação de contas que ajustei na noite passada.

— Você fez o que estou imaginando? — ele pergunta numa calma que me assusta.

— Sim e agora estou sem saber o que fazer — sem falar nada, ele anda de um lado a outro em sua sala de visitas apoiado em sua bengala como de costume. Meu padrinho é um ex-policial aposentado e amigo de minha família. — Receio que tudo se repita novamente — encaro seus olhos impassíveis. O homem esguio de quase dois metros de altura parece sem reação e o meu desespero só aumenta.

— Você precisa sair daqui com urgência — ele diz enquanto seus pensamentos viajam em possibilidades analisando a situação. De repente senta-se ao meu lado e coloca a bengala apoiada ao sofá. — Vamos fazer uma viagem para amenizar a situação, enquanto isso, eu preparo sua mudança com segurança para o Rio de Janeiro.

Eu sempre sonhei em morar no Rio de Janeiro, cidade de gente alegre e divertida, mas como um garoto de dezessete anos poderá viver num lugar desconhecido sem ter um centavo no bolso para se sustentar? Questiono-me sem coragem de dizer que isso é praticamente impossível.

— Padrinho... — ele já imagina minha preocupação e se antecipa.

— Alan, você precisa pegar os livros e estudar. Deixe o resto por minha conta, mas depois eu vou cobrar e quero receber cada centavo investido na sua mudança. Você é um garoto esperto e vai vencer na vida de forma honesta, por isso eu estou investindo em seus estudos.

Ele conhece minha trajetória de vida e sabe que meus familiares não têm condições de bancar minha moradia no Rio de Janeiro, principalmente tendo que pagar aluguel e toda estrutura básica para que eu possa me manter.

— Eu aceito padrinho, não tenho alternativa.

Ao responder, sinto um calafrio tomar conta de meu corpo pelo desafio que precisarei enfrentar para mudar de vida.

Alguns meses depois...

Encaro o resultado da minha bolsa de estudos e mal acredito.

EU CONSEGUI!

Essa conquista soa como um grito de liberdade após momentos tensos que passei numa prisão domiciliar causada pelo medo por ter mexido com pessoas erradas. Finalmente, agora eu vejo uma luz no fim do túnel e tenho a chance de mudar minha vida.

Eu prometi a uma pessoa muito importante seguir o caminho do bem, infelizmente, pessoas sem escrúpulos a arrancaram da vida para a morte e hoje me sinto pronto, liberto para ser o verdadeiro Alan. Aquele que vai causar na cidade maravilhosa e com essa determinação aviso meus pais sobre a decisão de estudar em outro estado.

Embora assustados, eles ficam radiantes pelo sonho de ver o filho na faculdade, mas para mim é um novo desafio a ser enfrentado.

Antes de partir recebo a visita de meu padrinho que me entrega o jornal local e a notícia que meu algoz agora é procurado pela polícia. Um sorriso bobo se forma em meu rosto como um bônus pelo sabor da liberdade após anos de luta sem esperanças.

Finalmente sinto-me liberto como um pássaro fora da gaiola. A liberdade não tem preço e hoje me sinto livre para voar na conquista de novos horizontes. Com a passagem em mãos e uma mochila de roupa nas costas, pego o ônibus com destino ao Rio de Janeiro. Minha bagagem é pequena, mas a esperança é imensa.

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Se você gostou do capítulo deixe a estrelinha e não esqueça de comentar. Ficarei imensamente Grata! Rosa Martine!

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