Prólogo

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Eu estava preso, novamente. Mas não era entre as paredes do meu apartamento que cheirava a desinfetante e cocaína, era entre muros altos com proteção elétrica cercado de olhos atentos à qualquer atitude suspeita; torres de vigilância com as luzes sempre ligadas e grades de ferro automatizadas que se abriam somente após revistarem meus bolsos. Qualquer objeto cortante e você ia pra solitária aonde mofaria por no mínimo duas semanas caso se comportasse bem, de contrário eles esqueceriam que você um dia teve uma vida fora daqueles portões e te deixariam apodrecer na penumbra daquele cômodo lúgubre.
Mas eu tinha consciência de que aquilo um dia poderia acontecer. Eu sempre convivi com o receio de ter minha casa invadida por policiais com um mandado de busca ou em ser abordado na rua com saquinhos de droga no bolso da calça e jaqueta.
Minhas decisões erradas traçaram o meu caminho até a cela 019 da ala B. Mais quatro rapazes de idades próximas à minha também haviam seguido as migalhas deixadas como isca pela ambição em ter dinheiro e luxo. Dois deles já eram assassinos com apenas 23 anos.
Não era confortável ou menos preocupante ter colegas de cela tão irresponsáveis com a própria vida de tão pouca idade quanto eu, pelo contrário; a maior barreira era encontrar qualquer resquício de moral ou coragem pra peitar algum deles. Eu não sabia com exatidão quais foram seus crimes, apenas ouvia os boatos que corriam entre as bocas moldosas que lotavam aquele presídio.
Eu definitivamente estava sozinho e desprovido de qualquer proteção naquele lugar onde um passo mal dado poderia ser meu último.

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