Era 18:00 quando eu sai do trabalho acompanhada de Caio. Passamos todo o caminho de ida conversando sobre coisas banais e aleatórias, cantando musicas da Sia e falando do novo funcionário da empresa (essa parte somente Caio falou).
Quem mora em grandes metrópoles sabe que há momentos em que o trânsito é imprevisível, mas eu estava torcendo para estar um enorme engarrafamento e eu não poder ir ao pequeno "evento" organizado por Paulo Jasper. Isso faria de mim uma péssima amiga?
Deixe-me explicar a situação. Com o recente noivado e os planos de casamento, Clara e Paulo Jasper (C&P) resolveram encarnar o cupido e querem arrumar amores para todos os amigos solteiros (que basicamente se resume à Caio e eu). E sinceramente, eu somente desejo passar longe do amor novamente.
Se eu ganhasse um real por cada vez que me ferrei com o amor, eu estava rica. Acontece que nem mesmo isso eu tenho sorte. Admiro quem tem coragem de recomeçar, colocar a cara e coragem e correr atrás de um novo amor, mas isso não é para mim. Meu coração cheio de remendas não aguenta mais uma.
Entretanto, para a minha sorte, não havia trânsito e muito menos engarrafamento. Sendo assim, Caio e eu chegamos em casa às exatas 18:15.
- Vá tomar banho, Deusa. Eu vou separar a sua roupa - diz me empurrando em direção ao banheiro.
- E você não vai se arrumar?- pergunto confusa.
- Amor, sou belo naturalmente. Já você...
- Não termine - digo e fecho a porta.
Por que eu fui escolher Caio para ser meu amigo mesmo? Ah, eu não sei.
Ligo o chuveiro e deixo a água levar toda a tensão e raiva acumulada durante o dia. Às vezes é difícil manter o bom humor e o sorriso. Para falar a verdade eu nem sei porque estou meio ranzinza. Somente sei que tudo que eu queria era ficar em casa, comendo alguma comida calorosa, com um belo copo de Coca.
É estranho dizer que algo me diz para não ir?Esqueça Atena, deve ser somente a preguiça falando mais alto, como todas as vezes.
Saio do banheiro terminando de enrolar meu cabelo em uma toalha. Um belo vestido na cor preta está esticado sobre o colchão, acompanhado de um colar e brincos dourados e brilhosos. Um salto alto delicado repousa sobre o chão, encostado ns cama. Eu odeio admitir mais Caio é a salvação fashion da minha vida.
Me visto e seco meu cabelo com secador. O penteo e deixo solto naturalmente. Em meu rosto passo apenas um pouco de pó, rímel e batom matte nude. Sem propagando enganosa. Olho para o relógio e vejo que ja são 19:10.
- Vamos, Caio - grito pegando meu celular e carteira.
- Estou aqui, meu amor - diz aparecendo na porta. Lindo, como sempre.
- Por que você é gay? - pergunto lhe dando um selinho antes de passar para a sala.
- Porque homem é a melhor coisa da vida e você sabe disso - afirmou.
- Leva meu celular - peço o entregando o aparelho.
- Vou cobrar viu?
- Te pago com beijos.
- Nunca, levo.de graça mesmo - riu e fecho a porta, trancando tudo - Será que vai ter pessoas bonitas?
- Talvez, isso é algo imprevisível, Caio. Você dirige né?
- Você me deixa escolha.
- Sabe que eu te amo, né?
- Você, Atena, é mais falsa que nota de três reais.
- Assim você me ofende.
The Roses é um bar local, onde toca músicas ao vivo. As pessoas dançam, se divertem, bebem e comem, basicamente. Além disso, meio que virou nosso local de encontro. Sempre acabamos marcando no The Roses e hoje não seria diferente. O bar fica próximo ao centro, alguns bons quarteirões da minha casa.
- Vamos entrar como na faculdade - pedi.
Quando nos conhecemos na faculdade, tínhamos mania de andar de mãos dadas, desfilando. Eramos viciados em filmes adolescentes como Means Girls, então sempre tentávamos imitar Regina George entrando.
Caio rir e segura meu braço. Desfilando, entramos no local, emora tenhamos passado despercebidos. Tento segurar a risada mais falho, recebendo um olhar de repreensão de Caio.
- Vamos eles estão ali - diz me arrastando.
Observo o local e as pessoas, uma mania que tenho desde criança. Até que meus olhos recaem sobre a mesa onde meus amigos estão e de repente, eu desejo somente voltar para casa.
E como alguém andado na rua, distraído com a bela paisagem ao redor, sem perceber cai em um buraco. Você somente quer sair dali, mas não sabe como.
É exatamente dessa maneira que estou me sentindo. Presa em um buraco sem saber o que fazer. Um buraco específico, com nome, sobrenome e RG.
Eu somente travei como uma estúpida garotinha do ensino médio. Por questões de segundos aquela Atena, de sete anos atrás retornou como em tornado. Rápido e de maneira destruidora.
Ele estava ali na minha frente. Diferente, mas era ele e eu o reconheceria até mesmo depois de três décadas.
- Tudo bem, Deusa?- pergunta Caio segurando meu ombro e me levando de volta a realidade.
- Estou cansada, amor- sorriu e me sento na cadeira vaga.
Caio imita meu gesto até que seus olhos batem em Bernardo. Consigo até mesmo imaginar o que se passa em sua cabeça nesse momento.
- Caio e Atena, esse é Bernardo meu primo - apresenta Jasper com um sorriso. Forço um sorriso e olho para Caio em busca de socorro, mas ele apenas encara fixamente Bernardo.
- Deusa é ele! O gostosão do escritório - comenta animado, quase sussurrando.
- Aonde?- procura ao redor rapidamente.
- O primo de J.
Destino, eu lhe dei uma cuspida na cara em alguma vida passada?
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RomanceAtena já acreditou ter encontrado o amor da sua vida, mas infelizmente essa dádiva não é para todos. Agora adulta, com uma profissão que ama e os melhores amigos do mundo, ela se sente feliz. Infelizmente a vida é uma estrada cheia de curvas imprevi...