Capítulo 12 - Destino

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Carlos deitou Lucas e caiu do lado dele, o chão era frio e úmido, não se importou, estava cansado e dolorido demais para reclamar, tinha sido salvo de uma nova morte por fuzilamento e estava grato por isso. Deitado olhava para o alto, não havia estrelas ou lua, era um céu estranho, vazio, sem vida, como uma imensidão de nada. Uma luz fraca iluminava todo ambiente mais não dava para identificar da onde vinha, ele olhou para os lados e apenas umas arvores secas decoravam o local. Aparentemente não havia perigo e semi morto ou semi pós morto adormeceu.

- O que você fez Pilatos?

- Eu nada, e você?

- Também nada, para onde eles foram?

Assim como Pilatos e Ângelo os capangas ficaram confusos, os dois sumiram bem na frente deles.

- Vamos voltar e tentar descobrir o que aconteceu.

De volta a colônia eles conversavam com Elisa.

- E eles sumiram logo em seguida e isso é tudo.

- Nunca ouvi sobre espíritos desequilibrados se teleportando antes.

- Então Elisa, tem ideia de onde eles foram parar?

- Não e sinto que eles estão por conta própria por enquanto, fomos chamados para ajudar um desencarne em grande escala que vai acontecer. Todos precisamos ajudar a receber as almas dos que virão para essa colônia.

- Entendido, ajudarei com certeza. Tudo bem para você Pilatos?

- Sim, talvez eles precisem de um tempo sozinhos. Confio nos desígnios de Deus.

- Então vamos, vai ter uma palestra de como vamos agir.

Eles se foram e algum tempo depois Lucas acordava em algum lugar no umbral.

- Enfim acordou, tome foi o melhor que consegui.

Lucas não levantou apenas se apoiou melhor no tronco que estava recostado e bebeu o que parecia mais lodo do que agua, ele tossiu e jogou quase tudo fora.

- É eu sei é horrível. Sabe onde estamos? – Lucas olhou em volta antes de responder não muito feliz.

- Sei, só gostaria de saber como chegamos aqui.

- Bem a gente ia ser fuzilado e eu fiz como você disse, orei pedindo para que alguém nos tirasse dali. Deve ter sido bem forte porque quando olhei de novo estávamos aqui.

- Entendi, mais de todos os lugares não espera voltar para o umbral. A gente não deve estar pronto para ser resgatado então.

- E agora?

- Agora vagamos como almas penadas pagando pelos nossos pecados.

- Tá brincado né?

- Mais ou menos.

Carlos abaixou a cabeça.

- Eu devia ter escutado minha mãezinha sabe, ela tentava me por nos eixos mais era rebelde demais para isso.

- Eu também não fui o melhor filho então...

- Já consegue levantar?

- Não, mais pelo menos meu cotoco de mão parou de sangrar.

- Você já devia estar melhor, você dormiu por três dias cara.

- Como é, três dias? Para mim é como se tivesse passado apenas uns minutos.

- Que nada, a gente não apareceu aqui onde estamos agora não, eu acordei e te carreguei até achar esse lugar, eu ouvi vozes e não quis arriscar.

- Obrigado por isso, possivelmente vozes daqueles que também já faleceram e como nós não fez nada de bom para serem resgatados.

- Aqui e tristão, quero sair daqui, parece que nunca é dia, mais se você prestar atenção da pra sentir o tempo passando.

- Sim, aqui não tem nada agradável, nós demos sorte de cair em um local calmo de certa forma. Eu andei bastante pelo umbral e há áreas bem populosas. Espíritos de todos os tempos e formas, passando por suas próprias provações até chegarem ao verdadeiro arrependimento, merecerem ser resgatadas ou em último caso serem levadas a força para renascer. Foi isso que Pilatos me explicou quando acordei na colônia.

- Seja como for, realmente não quero ficar, me sinto muito mal aqui. Todo dia me lembro das coisas que fiz e das pessoas que enganei e machuquei mesmo que não diretamente.

- Há energia do ambiente é pesada mesmo, imagine um local onde todos pensam no que fizeram, mesmo que não seja em voz alta, nós sentimos essas emoções muito mais fortes de quando éramos vivos.

- Eu vou procurar algo para comer, minha barriga está doendo.

- Acho que você não vai encontrar, mais boa sorte. Procure não ser visto, há espíritos que como eu fazia para Bartolomeu procuram almas para aprisionar e usar de escravos.

- Agora você está me assustando.

- Só tenha cuidado, vou descansar mais um pouco ainda não tenho forças para levantar.

Lucas acordou com Carlos o arrastando.

- O que foi Carlos, porque está me arrastando?

- Fique quieto, e se tiver força ande o mais depressa que puder.

Lucas já conseguia andar e com um pouco de ajuda conseguiu sair de onde estavam.

- Agora vai me dizer o que foi?

- Achei os caras que você falou, lembra da história que me contou sobre as correntes com a letra do nome do seu "dono".

- O que tem?

- Eu dei de cara com eles quando fui procurar o que comer, eu consegui correr mais quase fui pego. Outras pessoas não tiveram a mesma sorte. Era um local realmente deprimente, muita gente chorando e sofrendo. Eu quase me perdi nos meus pensamentos.

- Qual letra eles carregavam?

- Não prestei atenção, estava mais preocupado em não ser visto.

- Será que Bartolomeu voltou ou seria outra pessoa.

- Eu prefiro não descobrir, eles trataram bem mal as pessoas que pegavam. Cara eles tinham um chicote, tipo na época da escravidão.

- Ainda não estou cem por cento, mais não sinto mais dor e já consegui caminhar. Assim que eu melhorar nós o procuraremos.

- Você enlouqueceu? Acabei de dizer que eles são maus.

- Por isso mesmo, sei tudo que passa com as pessoas que estão presas e não as deixarei com eles. Vamos liberta-las.

- Você apanhou na cabeça mais que eu pensei. Tá doidinho da silva. Lucas, a gente não pode com eles. E porque eu me arriscaria por gente que nem conheço?

- Não peço que entenda Carlos, você não passou pelo que eu e outros passamos nas mãos deles. Agradeço por ter cuidado de mim esse tempo e não ficarei chateado se não quiser vir.

Ele soltou um longo suspiro e abanou a cabeça levantando a mão em sinal que se rendia.

- Não é como se tivesse alguém me esperando, mais se a gente se ferrar vai ser tudo culpa sua. Vou falar em seus ouvidos até o fim de nossa eternidade.

Lucas sorriu e esticou a mão e logo trocou rindo, fez um sinal de positivo agora com a mão boa.

- Precisamos dar um jeito nessa sua mão.

- Eu dei uma boa olhada na mão do capanga que nos pegou, acho que consigo fazer uma parecida.

- Então faça logo, tem gente nos esperando e acho bom que lá eles tenham comida.

Lucas estava estranhamente feliz, uma nostalgiao abateu mais era algo bom, ele começou a trabalhar para plasmar uma prótesemais não era tão simples como pensou que seria ali no umbral.   

A uma escolha do umbralOnde histórias criam vida. Descubra agora