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Naquele dia quando eu cheguei em casa e pesquisei sobre fotografias, descobri um mundo maravilhoso em algumas páginas e cada documentário que assisti,  eu tinha mais convicção da minha decisão. Não uma decisão que fosse para sempre, mas por enquanto era o que eu precisava.
Percebi que não só há um mundo sobre duas rodas e além do mar, como também a lente de uma câmera poderá me mostrar outros infinitamente mais incríveis.

Durante alguns dias, onde olhava eu via fotos, bebês fofos em altidór gigantes, foto de grão de ervilha na latinha, galeria do celular e fora as fotos que Ben havia esquecido comigo... Onde quer que eu olhasse, a fotografia e mais fotografias estavam presentes.

Convencer tio Yuri foi super fácil. Bastou falar duas vezes que eu o amava, chamei-lo de pai, fiz algumas promessas e "vúala". Já tio Vitor... Eita, vish, armaria, credo!

-Estou muito velho pra receber esse tipo de notícia... Vou infartar...  Ai, ai, ai... Não aguento mais! Chama o médico!

-Para de drama, tio!

-Fotos não dá dinheiro! O que custa você escolher medicina?

-Tenho horror a corpos abertos... Não tenho estômago para isso! 

-Engenharia?

-Lembra que sempre ficava em reprova em matemática?  Sem chance!

-Advocacia! Linda profissão... O Júlio por exemplo. Para você que gosta de viver na cadeia... Você pode ser delegada... Juíza... Juíza, filha. Ia ser tão lindo! Já pensou os meus amigos falando...  Sua filha é doutora! Esculta o som... Doutora Ma... lia.

-Pai, eu odeio ler...  Vou te confessar uma coisa... Sabe quando os professores manda os alunos ler duas, três páginas de um livro?  Pois eu lia uma linha sim, cinco não...

-Nossa, filha! Como você passava?

-Acho que os profes queriam se livrar de mim!

-E você fala disso assim?

-Sinto muito,  mas é a realidade paizinho.

-Tudo bem! Agora escolhe outro curso... Esse ai eu não pago!

-Tio... Tudo bem!  Yuri disse que pagaria se o senhor não aceitar.

-Traidor!

-E não chamo mais o senhor de pai, só pai Yuri agora.

-Tudo bem, faz logo essa bendita matrícula!

-Obrigada, paizinho. Te amo muito. Beijo. Tchau!

-Também te amo. Beijo!

Fiquei super feliz agora que consegui convencer, não só tio Yuri, mas também tio Vitor a deixarem eu fazer o curso de fotografia.

Mais uma vez vou a praia ver se consigo encontrar os garotos donos do cartão de memória que esqueceram. Tenho feito isso quase todos os dias e nada de vê-los novamente. Pesquisei sobre os ditos nas redes, mas não achei nada relacionados.

Lembro quando Benjamin falou que voltaria sempre a praia e hoje foi mais um dia que eles não apareceram. Fui a praia com a esperança de ver Paloma também, mas ela foi mais um que deu um perdido na minha esperança.

...

Tentava insistentemente fazer umas tal panquecas com a ajuda inútil da internet. Segui todos os passos que está no vídeo. Mas...

-Funciona, vai! Vira, danada! -joguei a frigideira pra cima e mais uma vez desceu voando uma gosma amarelada misturado com preto e um cheiro de queimado. -Droga! Isso não tem cara de panqueca! -Olhava mais uma tentativa frustada de panqueca durinha como a do vídeo.-Já vai! -Desliguei o fogo e tentei limpar antes de ir atender, mas a Campainha tocava sem para. -Já vai, agonia! -Abri a porta e me assustei com meu corpo sendo empurrado por um abraço e Paloma chorando. -O que aconteceu? -Ela soluçava sem parar.-Não chora!

-Posso ficar... Um tempo aqui? -Ela falou ainda soluçando perto do meu ouvido.

-Claro! -Me separei dela. Fechei a porta e puxei-a para sentarmos no sofá. -O que aconteceu?

-Não quero falar!-Ela deitou e colocou a cabeça em meu colo. Fiquei sem saber se eu podia passar a mão no cabelo dela, até ouvir: -Faz cafuné em mim?

-Assim? -coloquei meus dedos no meio dos cabelos. Fiquei alguns minutos observando ela quase dormir em meu colo até quando ouvi a barriga dela rosnar como um leãozinho. Ela não chorava mais apesar dos olhos inchados. -Está com fome? -Ela me olhou e sorriu.-Não sei fazer nada! Estava tentando fazer panquecas, mas não deu certo!

-Posso fazer? -Ela sentou e eu afirmei com a cabeça. Ela levantou e foi até a cozinha.-Olha! A massa já está pronta.

-Faz outra porque essa ai não está prestando!-Fui até a cozinha ver como ela ia fazer. Paloma lavou a frigideira que eu havia sujado e colocou no fogo. Fiquei tipo: Que macumba ela fez pra isso virar? -Que macumba você fez pra isso virar?

-E o que você fez nessa cozinha? As panquecas se revoltam e aconteceu uma guerra aqui?

-Eu tenho certeza que aquela é o líder da gangue.-Mostrei uma que estava pregada no teto. Sério! Não é ceninha de novela ou desenho animado não. Ficou uma pregada no teto!

-Não... -Paloma ria. -não acredito! Como... Como? Só acredito... Porque tou vendo! Na boa... Como é possível?

-Para de rir vai. -Fiquei com vergonha dela rindo da minha culinária no teto.

-Melhor cena do dia! Ufa! Ai, ai doeu! -Ela respirou fundo para controlar o riso. -E essas panquecas vão ser servidas com o que?

-Nutella serve? -Fui a geladeira pegar um pote. -Que tal um filme?

-Claro! Vai procurando um bom romance!

-Romance?!?

-Se não quiser, tudo bem! -Ela se aproximou com as panquecas.

-Tudo bem!-Escolhi um e coloquei no aparelho. -Só achei que não gostasse de romance!

Passamos uma boa parte da tarde assistindo o filme e comendo as panquecas que por modesta parte, já que a massa foi eu que fiz, ficaram uma delícia.

A garota começou a dormir uns vinte minutos depois que o filme começou. Me deitei por um instante por trás dela, mas mais uma vez eu tive medo que ela acordasse e acabei saindo de fininho. Ela era linda! Mas por que ela chegou chorando aqui?

A imagem daquele cara asqueroso machucando e fazendo ela chorar no dia que a conheci me fez acreditar que era ele o motivo de hoje também. Mas o que eu posso fazer? Ela não confia em mim!

Um Novo Começo (Malia & Eduarda) Où les histoires vivent. Découvrez maintenant