Capítulo Dois

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— Você... vocês... podem nos dar licença, por um segundo? — digo, hesitante.

— Claro. — Ouço a voz do homem.

Eu e Steve nos afastamos um pouco dos homens. Ele se vira para mim e encosta a mão em meu ombro, me fazendo parar.

— Eles não podem ouvir aqui — ele sussurra. — Mas fala baixo.

Engulo em seco.

— Como eles se parecem? — falo.

— Bem... são dois homens. Adultos. Eles estão de terno. Um deles é negro e careca. O outro é branco e tem um cabelo super arrumado. Este está com uma maleta na mão. Os dois são assustadores pra caralho. Parece que eles saíram do filme Homens de Preto.

— Eu nunca assisti Homens de Preto — digo. — Nunca achei com audiodescrição.

Por mais que eu nunca vira um terno ou um cabelo super arrumado, sei que ambos são sinônimos de seriedade. Esses homens, sejam lá quem são, estão trabalhando para algo sério. Mas o que eles iriam querer comigo? Será que tem a ver com o que aconteceu semana passada?

— Olha, eu se fosse você não ficaria sozinha com eles, não. Só se fosse em um lugar com testemunhas ao redor. Tipo... uma cafeteria. Tipo o Café do Mel. Que é do outro lado da rua e as pessoas podem olhar e... — Ele começa a falar mais rápido. — Olha, quer saber? É melhor não ir com eles! Mas eu também não vou te impedir se...

— Steve, fica calmo — falo. Ele sempre acaba se entusiasmando quando algo interessante acontece com alguém próximo. No caso, algo interessante está acontecendo comigo. E, no meu ponto de vista, isso não é nada interessante. — Vamos ver o que eles querem.

Steve me guia de volta aos homens. Consigo me virar para um deles ao ouvir sua respiração. Isso me ajuda a perceber que estou perto demais.

— Vocês querem falar sobre o que, exatamente? — indago.

— Somos da empresa NeoTech — o único homem que falou até agora responde. — Meu nome é Logan Klein. E meu parceiro se chama Stephano Fox. Nós estamos aqui para lhe propor algo. É sobre sua deficiência. Perdoe-me, mas você aceita o termo "deficiência", não é? Há algumas pessoas que não consideram a cegueira uma deficiência.

Por mais que isso ainda pareça estranho, me sinto um pouco menos tensa. Eles não falam como pessoas que queiram me sequestrar ou fazer algo de ruim. Soam como profissionais que estão em hora de serviço. Contudo, o nome "NeoTech" ainda tem um tom assustador.

— Tudo bem — falo. — Eu não me ofendo com o termo.

Comparada às outras coisas que já me insultaram, "deficiente" é quase um elogio.

— E então? — diz ele. — Podemos conversar? É algo muito sério. Será rápido. Podemos ir para o carro e falamos lá.

Cruzo os braços, numa tentativa de me sentir mais segura.

— Pode ser no... Café do Mel? — digo, levantando os ombros.

Um silêncio prevalece por alguns segundos. Isso faz minha tensão aumentar novamente.

— Isso seria...? — o outro deles, Stephano, finalmente, se manifesta. Sua voz é suave e um pouco menos grossa do que a do primeiro homem.

— Ah, é do outro lado da rua — digo.

Mais alguns segundos de silêncio. Tenho uma sensação de que eles estão trocando olhares.

— Claro — fala Logan. — Vamos, eu te ajudo a atravessar.

Invisível (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now