Ao Encontro

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Antes que o sol nacesse, nós voltamos para o carro e ainda dirigindo em torno da floresta, entramos num trilha pequena e cheia de galhos secos. Eu conseguia escutar os estalos sempre que passávamos por cima de um. Fora isso o silêncio me incomodava. Afinal a polícia estava atrás de mim.

_ A polícia logo nos encontrará _ disse olhando em todas as direções, imaginando que estavam a espreita, só esperando o momento certo de nos pegar.

_ Não se preocupe filho _ disse com um sorriso despreocupado. _ Logo estaremos no avião.

_ Não consigo entender como você pode estar tão tranquilo _ Insisti.

_ Digamos que é o mesmo princípio de quando falamos com um estranho. _ pausou para olhar para mim. _ Você não precisa entender, pelo menos não agora.

Ele falou com tanta confiança que me calei e observei. Afinal observar poderia me ser muito útil.

Não demorou muito para chegarmos a uma pista clandestina. Era tudo muito rústico e improvisado, mas como meu pai havia dito, lá estava um pequeno avião a nossa espera.

Dois homens devidamente alinhados em seus ternos finos nos esperavam como guarda costas na entrada do avião. Subimos em silêncio e nos sentamos de lados opostos. Eu queria ter a privacidade de pensar sem que nada interferisse.

Meu pai passou boa parte do voo mexendo em seu notebook. Às vezes o pegava me olhando pelo canto do olho. Como se temesse alguma reação da minha parte.

Tentei me esquecer de onde e com quem estava e me concentrei no meu livro. Revisei cada pintura, cada referência. Fiz isso até pegar no sono.

Tentei abrir meus olhos poucos minutos depois, mas uma luz forte e ofuscante me cegou.

_ Acorda James _ soprou Amanda no meu rosto. _ Sua borboleta está quase alçando voo, você vai perder o momento _ disse puxando minha mão.

Me levantei ainda confuso. Olhei ao meu redor e percebi que estávamos na reserva. A rara borboleta 88 mexendo suas perninhas, se preparando para um voo.

Amanda me entregou o livro e comecei a pintar a borboleta. E entre um traço e outro olhava para ela para ter certeza que tudo aquilo era real. Antes de concluir a pintura, deixei o livro no chão e a abracei. Seus braços estavam frios, mas seu hálito quente me aqueceu.

_ Você não terminou o desenho _ disse ela entre um beijo e outro.

_ Posso reencontrá-la em outro momento, mas não quero perder nenhum minuto com você!

_Você está bem? Parece preocupado _ disse franzindo o cenho.

_ Tive um pesadelo ruim, foi só isso. _ E ela nem imaginava o quanto aquele pesadelo era assustador. Eu apenas esperava que ela fosse real.

_ Quero tomar um banho na cachoeira _ disse segurando minha mão e me levando rumo a cachoeira do Buracão.

Chegamos após poucos passos e mergulhamos para debaixo da cachoeira. Ela se aproximou e soprou no meu rosto como um déjàvu:

_ Eu te amo...

Eu não fechei os olhos como antes, dessa vez eu a beijei em resposta, um beijo que me tirou o fôlego. Eu a abracei, a beijei e me concentrei em cada expressão que minha reação causou nela. Ela irradiava felicidade e eu estava feliz por não ter errado por uma segunda vez.

Voltamos juntos e felizes para a pousada, mas ela queria passar no bar para comemorarmos. Fiquei esperando para que Susan entrasse e brigasse comigo, mas nada aconteceu.

Comemoramos e voltamos juntos para o meu quarto. Quando entrei Amanda foi até o banheiro, mas quando olhei para a sacada vi Susan. Ela olhou para mim, mas alguém apareceu e a empurrou.

Acordei com a turbulência do avião. Olhei ao meu redor e meu pai ainda estava no notebook. O avião balançava e o barulho me deixou ainda mais atordoado. Me levantei e fui para o banheiro. Lavei o rosto ainda sem acreditar no que tinha visto.

Aquilo que eu vi no quarto era uma lembrança ou apenas parte do sonho?

O avião balançou mais algumas vezes e quase cai no banheiro.

_ Está tudo bem filho? _ perguntou meu pai batendo na porta.

Eu abri a porta ainda com o rosto molhado e com a cabeça confusa.
Voltei para o meu lugar em silêncio, mas ele não desistiu, sentou-se ao meu lado e continuou olhando para mim.

_ Estou bem _ disse sem olhar para ele.

_ Quer falar sobre a Amanda? _ perguntou tentando despertar minha atenção.

_ Como sabe sobre ela? _ perguntei ainda mais confuso.

_ Você disse esse nome umas três vezes enquanto dormia. Quem é ela?

_ Alguém que conheci na reserva _ respondi ainda tentando digerir tudo.

_ Ela tem algo haver com a morte da Susan?

_ Não... Não, ela não tem nada haver com isso.

_ Onde ela está?

_ Não sei...

Ele se levantou e buscou o notebook.

_ Tente encontrá-la _ disse colocando o notebook no meu colo. _ Se isso for importante para você é claro.

Ele se levantou e me deixou sozinho. Entrei no Google e digitei Amanda modelo e dei enter.

A foto dela foi a primeira a aparecer. Fiquei em choque olhando para ela. Era surreal como a internet podia trazer informações sobre tudo. Sobre ela.

Na Wikipédia tinha tudo. Nome completo, nomes dos pais, amigos e carreira.

Ela era famosa. Tinha trabalhado para muitas campanhas de sucesso, mas por baixo de toda aquela maquiagem eu conseguia ver puramente a Amanda que conheci na reserva. O olhar ainda era mesmo.

Em baixo da foto principal falava o endereço dela. Dizia Greenpoint, Nova York.

Paralisei quando li Nova York. Eu estava indo para perto dela. Eu poderia vê-la de novo. Eu poderia me redimir, e no fundo sabia que com ela ao meu lado eu seria mais forte.

Eu estava indo ao encontro da minha borboleta mais rara. Estava indo ao encontro da Amanda.

O Colecionador de BorboletasWhere stories live. Discover now