Capítulo 10

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Enzo

Aperto os olhos, tentando entender porque diabos o mundo está ao contrário. O que é uma ótima explicação para minha dor de cabeça, mas tentar lembrar exatamente o que aconteceu apenas piora a dor. Tento tocar o ponto que parece pronto para estourar, mas apenas tenho resistência, seguido por dor. Ótimo, estou amarrado também, qual é a próxima categoria? Um vilão malvado com uma mesa de instrumentos para me torturar?

-Vejo que finalmente a bela adormecida acordou. - Encaro o homem que entrava em minha linha de visão. Ai estava o vilão malvado. - Não parece tão impressionante.

-Esperava o Rambo? Tenho certeza que se eu arrancar a camisa e amarrar uma fita vermelha na cabeça eu chego perto. - Encaro o rosto familiar. E volto o olhar para a bengala. Só podia ser uma pegadinha, o grande e cruel vilão tinha participado do 007? - Com licença. Não quero estragar todo o momento, mas pode me explicar o que exatamente estou fazendo amarrado, pendurado, e olhando para um antagonista de um filme de 1960?

-Parece que você tem um senso de humor muito bom para alguém prestes a implorar. - Sem olhar para mim, ele faz um gesto, e sou jogando com tudo no chão. Gemo um pouco, mas consigo me ajoelhar e olhar em volta. Em uma parede próxima, uma fileira perturbadoramente grande de armas estava espalhada por estantes e mesas como uma decoração sinistra de covil maligno. - Eu posso ser breve Enzo. Implore, implore para mim sua vida e lhe darei uma morte rápida.

-Hã... -Olho em volta, balançando o corpo levemente, e então o encaro sorrindo de orelha a orelha. - Será que mandar você se fuder me mata também?

Ainda estou sorrindo quando ele acerta meu rosto com a bengala. Respiro fundo, movendo o maxilar, para amenizar a dor, o gosto de cobre praticamente inundando minha boca. Cuspo, e encaro o sangue que começa a pingar, erguendo olhar para o rosto inexpressivo do velho. Ele me dá as costas, e caminha até a parede de armas, soltando uma das prateleiras, puxando-a até nós, e se abaixa até nosso olhos ficarem no mesmo nível. Ele sorri de forma perturbadora, antes de puxar uma faca Bowie, e segura-la em meu ombro.

-Sabe meu caro soldadinho. Eu poderia apenas mata-lo. - Ele arrasta a faca pela extensão da pele, e eu mordo os lábios. Encarando a fenda que decorava meu braço. - Mas sabe o que torna divertido deixa-lo vivo, e quebra-lo? E que você vai cair até um ponto em que irá implorar a morte.

Eu estou pronto para retribuir com uma gracinha, quando ele acerta a lateral da minha cabeça com o cabo. Dor se espalha por um tempo, e ele abre um corte em minha sobrancelha, tornando difícil enxergar. Fico tenso quando ele limpa o sangue, e berro no momento em que ele enfia o tecido na minha boca.

-Shhh. Não preciso me distrair com seus comentários arrogantes. - Ele puxa um chicote com espinhos curvos de metais, e dá a volta no me corpo, algemando meu tornozelos no lugar, tornando impossível que eu me movesse. - Aproveite a dor soldadinho de chumbo.

Tento olhar sobre o ombro, mas subitamente uma dor descomunal, faz com que eu grite contra o pano. A dor continua, o som de estalo do chicote cria um ritmo que marca meus gritos. Ele finalmente para, e eu dobro o corpo até tocar a testa no chão, aproveitando o frio do concreto. Estou tomando folego, quando ele se aproxima, e o chicote acerta minha costas de novo, dessa vez muito pior. Ele havia coberto os espinhos com algo, e os esquentara. Ele dilacerava minha costas a cada golpe, a carne queimando e sendo rasgada quando ele puxava os espinhos.

-Sabia que misturar Hidróxido de potássio e Tripolifosfato de sódio causa uma dor terrível? Além de acabar gerando vômitos e queimaduras? - Eu dobrei o corpo novamente, sentindo a dor como ondas. Eu respirava devagar. O enjoo e a dor se intercalavam, e eu tentei não demonstrar o quando doía. - É claro que a dor pode piorar ainda mais se forem jogados em ferimentos, quem dirá se usados junto com ferro em brasa? Mas você não liga não é?

Ele jogou o chicote de lado, e eu encarei o sangue que o cobria. Ele chiava contra o metal ainda quente. Estou tenso demais tentando avaliar os danos para perceber o que ele está fazendo, até ser tarte de mais, e o pé de cabra atingir minhas costelas. A força e o bastante para tirar o pano, e eu cuspo sangue, e logo em seguida me curvo ao vomitar. Minha garganta queima, e eu faço um esforço gigante para erguer o tronco, e cuspir nele. Ele sorri para a mancha vermelha em sua camisa branca, e acerta o outro lado com o pé de cabra, nem sequer me deixando respirar antes de atingi-lo em meu obro, o osso fazendo um som grotesco ao quebrar.

-Que tal fazer algo para se distrair? - Ele encara a ponta de ferro, e a atravessa em minha coxa, me obrigando a engolir um palavrão. Minha visão treme um pouco, pontos negros se movendo. - Que tal um exercício mental? Quando é 1000-7? 

-998? - Ele ri, e acerta o cotovelo logo abaixo do ombro quebrado, a pele se distorcendo, e o osso fazendo um rasgo profundo. - 993

-Excelente. Continue. - Ele puxa uma lamina muito fina, e começa a cortar meus braços, pescoço, mãos e pernas, como se eu estivesse cheio de cortezinhos de papel. Estou pronto para manda-lo ao inferno, quando ele puxa um barril para perto, prendendo uma mangueira a ele. - Vai precisar se quiser continuar acordado.

-984, 977... - Estou respirando pesadamente a cada número, quando ele me encharca com o conteúdo do barril. Tive a sorte de fechar os olhos, mas cada parte do meu corpo queima, como se eu tivesse mergulhado em ácido. Respirando fundo, sentido o corpo começar a entrar em pânico, luto contra o instinto de implorar. - 970, 963, 954...

-Água sanitária faz um estrago terrível não acha? Além de queimar muito. - Me controlo para manter os olhos fechados, e tento me distanciar daquilo, ignorar a dor e a perda de sangue. - Claro que você ainda vai sofrer mais um pouco. Ou já decidiu implorar?

-Eu imploro que você gentilmente vá para o inferno, seu desgraçado. - Sei que ele está a minha frente, e tenho a confirmação ao sentir a bengala deslocar meu maxilar. - Tenho certeza que irá se enturmar.

Ele se diverte por mais um tempo, me espancando com uma grande variedade de objetos. Quando me dá pausas, enquanto avalia o que usara em seguida, tento supor o quão fodido estou. Da última vez, cheguei à conclusão, que que estou com no mínimo 100 ossos quebrados, ainda tenho 106. Se eu conseguir me soltar ainda existe a chance de escapar. Observo ele puxar uma corda com gancho, e prende-la ao nó em minhas mãos. Sou erguido a alguns metros, e abaixo de mim, um tanque cheio d'água se abre. Ótimo, eu ia morrer afogado.

-Acho que você não irá realmente implorar não é? - Encaro o rosto dele, e dou de ombros, o corpo doendo por estar pendurado. - Eu só preciso mata-lo no fim, então divirta-se se afogando.

Observo-o me dar as costas, e me balanço testando a resistência da corda. Eu conseguiria ficar em pé, mesmo com a coxa ferida, e ao que parece ele não iria sequer esperar que eu o atacasse. Ótimo. Forço o corpo para frente de vez, e atinjo o chão com força, o ar escapando conforme, me obrigo a ficar de pé. Agarro uma faca em frente aos meus pés, e a giro, sentindo a tensão desaparecer das minhas mãos conforme a corda cai aos meus pés, a corda que restringia meus pés caiu também, eu testei os movimentos. Eu estava quase totalmente quebrado, mas conseguia correr, e ao menos um dos meus braços ainda prestava, teria que servir.

Obrigando o corpo a se equilibrar, avanço da melhor forma que posso, usando o corpo para derrubar o homem. Ele perde o folego ao cair, e me encara assustado. Dou um sorriso da melhor forma que posso, o sangue escorrendo dos meus lábios, e enfio a faca de forma descuidada em qualquer lugar que consiga, ouvindo-o berrar de dor e xingar-me. Apenas paro quando ele para de se debater sob mim, e encaro o estrago que fiz, enojado. O corpo parece um boneco que deve o enchimento retalhado, o rosto também, com grandes pedaços faltando e um dos olhos transformando em um buraco oco e ensanguentado.

-Espero que encontre seus amigos no inferno. - Afasto o corpo, do cadáver, as mãos vermelhas do meu sangue, e agora do sangue dele. 

Cambaleio pelo banker vazio, me apoiando na parede até chegar a porta, e encaro a roupas usadas para frio extremo. Ótimo, colocar aquilo detonado do jeito que estava seria uma verdadeira provação. Respirando fundo, visto a roupa da melhor forma que posso, e ajusto os equipamentos de proteção no rosto. Eu teria que procurar cuidado medico, mas primeiro, tinha que achar meus amigos. Ir muito longe machucado soava idiota até para mim.

Bravo Soldado - Homens da Lei - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora