Capítulo 3

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Achei que ficar rodeada por tantas pessoas estranhas fosse me assustar, mas até agora tudo está bem tranquilo e sob controle.

— Para onde moça? — o motorista com sotaque forte californiano me questiona antes de colocar o carro em movimento.

— UCLA, por favor. — Ele não pede mais nenhuma informação. Pelo jeito a trajetória já é conhecida para ele.

Quando já estou acomodada no carro indo em direção a minha nova "casa" pelos próximos dois anos, o peso de tudo que estou deixando para trás recai sobre minhas costas. Minhas mãos vão direto para minha garganta e a conhecida sensação de sufocamento me invade.

Respiro o mais fundo que posso tentando me controlar. Conto até dez mentalmente e tento me concentrar na paisagem passando pela janela do carro. Depois de alguns minutos que parecem mais com horas, tomo o controle de volta e respiro normalmente.

Estar me jogando nessa nova experiência depois de tanto tempo isolada, me deixa tão ou mais amedrontada do que eu estava na noite em que acordei no hospital e encontrei minha tia adormecida ao lado do meu leito.

De alguma forma eu sei que minha vida nunca mais será a mesma depois de hoje. Mudanças geram ansiedade e pânico em pessoas normais, imagine como estou me sentindo diante da enorme quantidade de coisas novas que me esperam em Los Angeles.

Quando abri meus olhos pela primeira vez após o acidente, o ar fúnebre a minha volta era inegável. Flores coloridas me rodeavam, o símbolo da inútil tentativa das pessoas tentarem amenizar meu sofrimento.

Ninguém precisou me contar o que havia acontecido, minha memória, mesmo relapsa, me deu as respostas que eu buscava. E assim que eu consegui compreender o que aconteceu, e percebi que tudo o que eu conhecia não existia mais, tranquei qualquer sentimento que eu pudesse vir a sentir e aprendi a sobreviver como podia.

Por mais difícil de acreditar que seja, eu não derramei uma lágrima sequer depois que eu acordei no hospital.

Não houve lágrimas, muito menos lamento. Eu apenas me fechei para qualquer sentimento que eu pudesse vir a sentir.

A Dra. Hunting me diagnosticou com um caso severo de (TEPT) ou como é mais conhecido Estresse pós-traumático e Alexitimia secundária, que é um distúrbio onde você perde o controle sobre suas próprias emoções, depois de sofrer um grande trauma. Parece que a vida estava decidida a me ferrar, perder minha família não foi o suficiente, eu tive que ficar em vida, sofrendo com os traumas gerados pelo acidente. Juntando esses dois problemas, o primeiro ano de tratamento foi extremamente complicado, pois além de eu não estar consciente sobre minhas próprias emoções, eu não estava nem aí para o que meus tios estavam sentindo, sem contar as crises de ataque de pânico que eu tinha.

Não gosto nem de me lembrar dessa época, me odeio por tê-los tratado da forma como os tratei naquele primeiro ano.

Foi uma batalha diária, tanto da Dra. Hunting quanto dos meus tios e no último ano minha também.

Inefável - Quando não existem palavras para descrever um sentimento. (Completo)Where stories live. Discover now