O aeroporto

67 0 0
                                    

Todos os dias, depois das aulas, espero pelo meu pai no aeroporto durante uma hora e meia até ele sair do seu horário de trabalho para irmos juntos para casa. É sempre uma dificuldade encontrar lugar para me sentar por causa da quantidade de pessoas. Quando não encontro, costumo ir para a casa de banho durante algum tempo e depois voltar para a sala de espera para ver se já existem lugares disponíveis. Normalmente resulta.

Chego à sala e avisto dois lugares vazios. Sorte.

- Desculpa, este lugar está ocupado? - Pergunto ao rapaz aparentemente da minha idade sentado ao lado do "meu" lugar.

- Não sei. - Responde-me ele com indiferença, o que me irrita.

- Não sabes? - Estranho, arqueando a sobrancelha.

- Não. Quer dizer, estava aqui uma senhora mas não sei se ela volta. - Ugh.

- Ah. - Sento-me na mesma, pois normalmente essas pessoas não costumam voltar, a não ser que deixem as suas coisas em cima da cadeira - o que não é o caso.

- O que vais fazer se ela voltar? - Ele tem os seus cotovelos apoiados nas suas coxas e a sua cabeça virada para mim. Chega. Se não querias ninguém ao teu lado podias ter dito logo, idiota. Levanto-me e pego na minha mala para ir para o outro lugar vago, que é três filas atrás deste em que eu estava. - Onde vais? - Olha-me de baixo.

- Para outro lugar. - Respondo-lhe, sem mostrar grande emoção.

Tiro o meu livro para me distrair - não resulta. É impressionante como as pessoas podem ser tão rudes. Por que é que ele não foi sincero? Custa assim tanto? O meu olhar de raiva podia matá-lo agora mesmo. Deve estar a sentir-se tão confortável naquela cadeira sem ninguém ao lado, que nem vê o seu egoísmo. Realmente tenho pena de pessoas assim. Não consigo olhar para ele. Vou para a casa de banho.

Volto para a sala de espera depois de ouvir que um avião iria partir com a esperança de que este poderia ser do rapaz com cabelo preto. Procuro por ele e lá está. Suspiro. Avanço alguns passos para voltar para a casa de banho, no entanto, sou vista e decido naquele momento que não me devia esconder, e sim enfrentar o problema. Quero fazê-lo arrepender-se da sua atitude - encosto-me à parede branca da divisão, mesmo à frente da sua cadeira. Pego no telemóvel para ver as horas. Ainda falta uma hora. Vou ficar aqui uma hora. EM PÉ. Isto é, se este insensível não me deixar sentar ao seu lado. O que é provável. Não! Tenho de acreditar que existem mudanças nas pessoas, arrependimentos.

- Sabes...que te podes sentar aqui. - Ele diz-me finalmente depois de olhar para mim tantas vezes num espaço de 10 minutos.

- Não é preciso. - Continuo em pé, teimosamente.

- Vais ficar aí em pé? - Desvio os olhos, evitando-o. - Quando é que é o teu voo? - Solto um riso abafado. Agora já queres saber de mim?

Ouço-o suspirar. - Desculpa. Não te queria chatear desta maneira. Só não gosto quando as pessoas estão ao pé de mim, não fico muito confortável.

- Sentes-te confortável quando deixas as pessoas chateadas? - Atiro a minha raiva.

- Não mas eu estava só a fazer-te uma pergunta, queria saber a tua resposta.

- Bem, como pudeste ver, só me chateaste por isso...

- Não era a minha verdadeira intenção, desculpa.

- Qual era a tua verdadeira intenção? - Indago rapidamente.

- Podes-te sentar de uma vez, por favor? - Suspiro e cedo, avançando até à cadeira à sua direita. Noto que ele deixa sair um sorriso, porém, vira a cabeça para o lado oposto da minha visão para eu não reparar. - Podias ter-te sentado noutro lugar qualquer, sabes disso, não é? - Ele refere-se aos lugares que foram deixados pelas pessoas do voo que eu pensava que era o dele. - Sei. Mas também sei que irias pedir desculpa pela tua atitude se te fizesse pressão.

- Hm. Sabes que eu só te desculpei porque és gira, não é? - Começo-me a rir. - Estou a falar a sério! - Ele risse pela sua ironia. - Podemos começar de novo? - Ele estende a sua mão.

- Claro. - Aperto-lha. Sorrimos. - O meu nome é Y/N.

- Sou o Yoongi.

- Qual é o teu destino, Yoongi? - Lembro-me, depois de ouvir uma senhora a informar que o avião para Daegu iria partir.

- Para ser sincero, já não tenho a certeza. E tu?

- Estou só à espera que o meu pai saia do trabalho.

- Ele trabalha aqui?

- Não, mas é aqui perto.

- Vais estar aqui amanhã?

- Sempre.

"Última chamada para Daegu" - A senhora do altifalante declara.

- Pode ser que eu também esteja. - Yoongi encosta-se à cadeira e fecha os olhos.

Imagine BTS → YoongiWhere stories live. Discover now