🍁 METAMORFOSE 🍁

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No silêncio da noite, eu mergulhei em um sonho intrincado, onde a imagem do Connor se desdobra de maneira surreal. Me via por várias vezes em um espaço etéreo, onde tudo é uma mistura de sombras e cores vibrantes.

O Connor está lá, imerso em uma aura resplandecente. Seu corpo começa a vibrar, a contorcer-se suavemente, como se estivesse reagindo a uma força interior. Observei maravilhado quando ele começa a se transformar.

- Você precisa sair daqui, agora! - grita.

- O que está acontecendo? Para onde devo ir? - questiono.

Fiquei atordoado com a transformação iminente dele, percebe o perigo que essa metamorfose representa. Determinado a proteger não apenas ele, mas todos do condomínio, reage rapidamente.

- Não há tempo para explicações. Eu estou mudando. É perigoso. Fuja enquanto ainda pode! - Connor não estava nem perto do seu cativeiro. Dizia que seu esconderijo ficava depois da campina.

Sem tempo a perder, corre em busca de refúgio. Uma maneira de me proteger dele enquanto a transformação acontece. Não estava próximo do Abadon. A noite chegava e sua transformação aos sons dos seus gritos, fazia minha nuca se arrepiar. Procurei algum objeto pontiagudo o suficiente para impedir que a possível criatura não me cause danos.

- Merda! - clamo, após tropeçar numa pedra - Porra, essa merda dói pra caralho - aquilo é atraido por mim num raio de cinco quilômetros. A voz volta e enfatiza: - Ele esta quebrando os seus ossos para atrasar a transformação. Corra, que ainda da tempo. - Não adianta. Estou sangrando - um corte profundo no dorso do pé. Connor poderia quebrar todos os ossos do seu corpo, que mesmo assim, nao cinseguiria chegar pela abertura no condomínio - Me ajuda - falei para a voz na minha cabeça.

- Vincent, ainda consigo sentir você - Connor, urrava. A entonação da sua voz, era horripilante. Dava para sentir sua agonia.

- Não, posso. - a voz continuava: - Ele não pode retardar a transformação por muito tempo. A fera dentro do garoto, deseja sair o quanto antes.

- Consigo sentir os seus batimentos, coelhinho. É excitante! - Connor, continuava a gritar.

- To perdendo sangue - a transformação é imprevisível. Ele nunca teve controle da fera que sobreponha a Connor durante as noite próximas à lua cheia.

- Vincent?! - diz, Liam - Por que esta aqui? - normalmente, faria o mesmo questionamento a ele, mas o meu medo de morrer falava mais alto.

- Me ajuda - peço enquanto, estanco a ferida com parte da minha camisa.

- Porra - Liam, escuta o uivo da criatura - A criatura esta por aqui! Vem, vamos sair daqui - com pressa e coração acelerado, Liam corria comigo nos braços desesperado. Sabiamos que a criatura, chegaria até nós a qualquer instante. A adrenalina em meu corpo gelar. O intermediário gritava nos meus pensamentos. Ele dizia: - Não morra! A fera está alcançando vocês. Ele nos farejava através do meu sangue. Se eu nao estancar direito esse ferimento, não sobreviver até a ambulância chegar. A casa dos Brown ficava mais próxima da pequena rota de fuga. O corte fazia com que o meu corpo entrasse em dormência. Após passar pelo esconderijo, Liam me coloca no chão e joga gasolina na entrada do buraco. Tirou o isqueiro do bolso e lançou na gasolina derramada. O monstro não passaria por ali, até o fogo cessar.

- Você planejou isso? - perguntei enquanto, despertava o sapato.

- É..Basicamente - ele parecia ter tudo planejado. Corremos em direção a sua casa empilhando alguns móveis, trancando portas e janelas, procurando garantir a nossa segurança até os nossos pais chegarem. Essa metamorfose desconhecida, destroe Connor de dentro para fora. Ele esta emocionalmente fragilizado. Posso sentir.

- Que merda você foi fazer naquela floresta? - diz - Se eu não tivesse ido atrás, você estaria morto a essa hora - Liam, estava contendo sua raiva.

- Derrame água sanitária, derrame na entrada da porta - as barricadas seriam facilmente destruidas pelo animal - Isso vai confundi-lo - isso interceptaria sua entrada. As vozes continuam balbuciando palavras desconexas em minha cabeça.

- Ele odeia fogo. No inicio não dei ouvidos, mas aquele velho tinha razão sobre esse animal - correu para a cozinha. Procurava por algo.

- Temos que subir, Liam. Não podemos ficar aqui - mal conseguia acomodar meu pé no chão, sem lacrimejar de dor.

Ciente do que poderia acontecer, caso Liam escutasse os gritos infames do seu irmão. Gritei e esperniei, incansavelmente. Agora, seu irmão dividiu o peso do seu segredo. A soma dos sacrifícios está vinculado ao valor daqueles que amamos. O intermediário e a entidade, estão certos sobre uma coisa. Ele quebra partes do seu corpo para atrasar sua transformação, quase todas as noites naquela floresta. Connor diz que aquilo virou uma coisa corriqueira durante suas transformações. Tudo isso para chegar a tempo no bunker. O abrigo o mantém a salvo de si e das pessoas. Após a minha chegada na cidade, Connor conta que ficou dificil de controlar suas transformações. Seus rastros era imperceptível. Hoje, não pode dar um passo fora de casa sem que as pessoas comentem sobre a fera de Abadon. Sua transformação, é algo imprevisivel. Se automedicou algumas vezes, mas nada que pudesse controlar ou sedar a criatura. A fera fica insana quando ele tenta controlá-la.

- Não sem antes limpar essa ferida. Temos que cuidar dela e amanha te levo para o hospital - Liam, ficou balbuciando. Preocupado com o tamanho do corte, ele começa a dar o ponto falso. Fechando mais rápido a ferida.

- Sem anestesia é foda! - grito, socando a parede. A agualha e a linha, era o menor dos meus problemas. Liam tinha prática em dar pontos e suturar a ferida - Vamos para o sótão, por favor! - fiquei, relutante, enquanto ele tirava minha calça e meias.

- Vou por suas roupas na maquina - envolto em um turbilhão de ansiedade, subi as escadas e entrei em seu quarto. Abri suas gavetas, procurando uma bermuda ou uma calça para vestir.

- Porra, porra, porra!! - esbravejei enquanto, uma das gavetas saltou da cômoda - Eu vou..Eu não sei o que fazer - os urros da fera ecoavam por toda Abadon.

- Vincent! - as ondulações dos urros da fera, causava algo que se parecia como uma labirintite.

- O que foi? - pergunto, bravo - Me escuta. Nada vai impedi-lo - mesmo o homem que é puro de coração e faz suas preces à noite, irá se transformar num lobo quando o mata-lobos florescer e a lua do inverno brilhar. Impedir a fera só tardia sua fúria. O fogo ou qualquer outra coisa, vai tornar ele implacável.

- Como sabe disso? - sua voz saiu turva.

- Acredite, você não tem ideia - botar fogo para conter a fera, nao vai surtir efeito algum. E assim, dentro desse espaço protegido, ele me abraça em meios aos urros da criatura através dos muros.

- Vincent, estou aqui - sua forma muda gradativamente. O espetáculo entre a luz e escuridão, apenas começou.

- Liam, ninguém pode me proteger. Você não pode me proteger - sinto uma mistura de emoções e uma estranha conexão com as sombras. É como se tivesse tido um deslumbre do que poderia acontecer, algo que ultrapassa os limites da compreensão humana. Assim como a entidade falou, quando mostrou Connor fugindo do animal que o atacou.

Connor se transforma e o ambiente ao redor também responde à sua mudança. Os contos, mitos e lendas se torna um redemoinho de energia, como se a própria realidade estivesse dando forças ao lobo.

Subitamente, o terror se dissipa, me deixando com uma sensação de solidão e uma intensa curiosidade sobre a natureza dessa metamorfose. O mistério dessa visão persiste ao despertar, deixando-o com a sensação contraditória e além do meu entendimento comum.

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