A Fuga

219 34 3
                                    

Depois de explicado tudo e repassado, eu achei que estávamos prontas para colocar tudo em ação, o dia perfeito havia chegado, sábado, no dia anterior meu tio havia viajado para o Rio de Janeiro, não disse o que ia fazer, só que voltaria no domingo a noite, provavelmente tinha ido se encontrar com seus financiadores, pouco me importava onde ele estivesse, desde que não fosse ali. Nosso plano era singelo, e eu esperava que por conta disso, sem nada muito mirabolante, ele desse certo

Cheguei cedo no anexo, não foi nenhuma surpresa para Kaio, já que vinha fazendo isso sempre aos sábados e domingos ou quando não tinha consultas pela manhã, por conta disso ele nem desconfiou de nada, eu já havia avisado Drei no dia anterior, assim que confirmei a viagem de meu tio, boa parte da ação ficaria por conta dela.

Assim que Kaio entrou no quarto de Drei, ela ficou como de costume sentada na cama esperando ele acabar de colocar a bandeja com o café da manhã na mesa, mais uma coisa rotineira, a intenção era pega-lo desprevenido. Drei pulou em cima dele e deu dois socos, fortes o suficiente para desacorda-lo, juro que senti pena dele nessa hora, consegui ouvir o barulho do osso de seu nariz se partindo, aquilo devia ter doido horrores.

Logo em seguida ela puxa a cadeira para perto da câmera, sobe em cima e depois quebra, dessa forma não tinha como ficar gravado o que aconteceria no quarto, nada seria filmado e como não havia mais câmeras do lado de fora, eu já podia entrar em ação.

Corri até Kaio só para ter certeza que ele estava mesmo vivo. Peguei as chaves em seu bolso, era preciso abrir a porta.

___ Não matei ele né?

___ Ele está vivo, agora vamos abrir a porta.

Fomos até o fundo da cozinha, ali tinha porta que nunca era usada, ia dar num muro que fazia divisa com o estacionamento da clinica onde eu parava meu carro. Abri a porta e fui com ela até perto do muro, mostrei qual era meu carro. O plano era ela ficar escondida ali dentro do carro até a hora de eu ir embora. Ainda tínhamos alguns detalhes para tratar mas era muito importante que meu tio não soubesse que ajudei ela fugir ou ele e seus " amiguinhos " viriam atrás da gente.

Assim que ele soube qual era o carro que devia entrar, fomos cuidar dos detalhes.

Coloquei as chaves de volta no bolso de Kaio, e entreguei um clipe para Drei, a intenção era simular que ela havia aberto com ele, sei que parece bem tosco, mas funcionou. Agora a parte dolorida do plano, ao menos para mim.

___ Drei, você precisa me bater.

___ Eu não vou conseguir.

___ Claro que consegue, se eu sair sem me machucar, vai ficar claro que deixei você fugir. Vamos lá um bom soco no meu olho resolve.

___ Não quero te machucar, sabe que não tenho controle sobre a força que uso.

___ Droga, precisa me bater antes que Kaio acorde. Vai.

Ela ainda não estava muito confiante em me dar uns sopapos, mas então me lembrei como seu descontrole podia me ajudar, dei um tapa em seu rosto. Aquilo funcionou muito mais do que eu imaginava. Levei um soco no estômago que me fez perder totalmente o ar e depois um soco no rosto que me apagou.

Acordei com Kaio me sacudindo, o olho todo roxo e o nariz uma bola inchada, eu teria rido de seu estado se não estivesse toda arrebentada também.

___ Ela fugiu, porra!!

___ Eu tentei impedir, ai não me puxa assim, acho que quebrei uma costela.

Isso não era encenação minha, eu mal conseguia respirar com a dor que sentia, minha costela devia estar mesmo quebrada, pra quem não queria me machucar no inicio, ela havia caprichado.

___ O que faço?

___ Liga pro doutor Klaus agora. Vamos ter que ir para o hospital, Kaio.

Fui até a cozinha e vi a porta escancarada e o clipe de metal enfiado na fechadura, segui o plano e chamei Kaio para ver, ele já tinha ligado para meu tio.

___Foi por aqui que ela saiu.

Ele correu para fora e fiou olhando por tudo.

___ Vão achar ela, logo doutor Klaus deve colocar gente especializada atrás dela

___Acho que vou para casa então.

___ Não, doutor que você fique aqui, por enquanto.

___ Isso é ridículo, eu preciso ir ao hospital e você também.

___ Ordens dele.

Engoli a raiva e ansiedade, peguei o saco de gelo no freezer e coloquei sobre meu olho que também lateja e estava semicerrado por causa do inchaço. Kaio ficava andando de um lado para outro, o que me deixava mais agoniada ainda.

___ Kaio, sossega, pega esse gelo e coloca nesse nariz, que está um horror.

O tempo foi passando e nada de novas ligações, sinal que ninguém havia pensando em procurar ela tão por perto, uma parte minha tinha medo que Drei não tivesse feito o combinado, que tivesse simplesmente desaparecido, eu já não aguentava mais a dor nas minha costela, peguei o celular e liguei direto para meu tio.

___ Isso não podia ter acontecido.

___ Eu não pude impedir, alias preciso ir no hospital, estou detonada e Kaio também.

___ Feche tudo e vão, amanhã eu volto e conversamos. Talvez até lá ela já tenha sido encontrada.

Transmiti o recado ao Kaio, que por sorte não me pediu carona para ir ao médico, eu não tinha menor intenção de passar no hospital, iria cuidar de mim mesma. Entrei no meu carro, esperei até que ele pegasse um táxi e sumisse então olhei no branco de trás.

Senti um alivio imenso quando vi que ali coberta com um lençol, Drei dormia tranquilamente.







Uma mente sem lembrançasWhere stories live. Discover now