A Separação

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Quando Ella entrou no quarto se deparou com as duas crianças sentadas na cama. Ana estava encolhida nos braços de Christian que a apertava de forma possessiva e ao mesmo tempo carinhosa.
Enquanto observava os olhos assustados da pequena menina, ela soube que precisava fazer algo, e teria que ser rápido, não poderia deixar um homem sujo e nojento tocar aquela doce menina e ter prazer nisso. Isso era nojento e asqueroso, e a mulher não mediria esforços para proteger Ana.

—Christian, Ana. —Ela sentou-se ao lado deles. —Amanhã nós vamos sair daqui, ok?
—Para onde? —Christian perguntou curioso. —Por quê?
—Ele quer machucar a Ana, como ele faz comigo, e nós não podemos deixar isso acontecer. Certo?

Christian não teve dúvidas quando respondeu um sincero "SIM", ele nem cogitaria para responder isso. Por mais que tivesse apenas sete anos seu extinto de proteção contra Ana era muito grande, e só de pensar que ela poderia passar por tudo que ele passa na mão daquele homem, o faz temer. Ele jamais suportaria ver Ana chorando por ter apanhado. Aquele rostinho angelical realmente não deveria ter sinais de tristeza.

—Como nós vamos fugir? —Christian perguntou.
—Amanhã quando eles chegarem eu quero que vocês se escondam atrás do sofá, eu direi que Ana está no quarto, e assim que eles entrarem eu tranco a porta, e nessa hora eu quero que você saia com a Ana e corra o máximo que puder. Peça ajuda a algum policial. Você pode fazer isso Christian?
—Posso.

Ele não podia, o medo era grande, mas a vontade de proteger Ana era maior que tudo. Ele tinha que ser muito corajoso para isso, e seria por ela.

No outro dia por volta das onze os corações estavam acelerados, mas tinham muita esperança que tudo desse certo.
Quando ouviram o barulho da porta foi o sinal para que as duas crianças se escondessem atrás do sofá. Assim que a porta foi aberta Ella viu o cafetão entrando com um homem de aparência grotesca ao seu lado. Ele era horrível, tinha uma cicatriz enorme no rosto que parecia ter sido feita por unhas, sem contar o cheiro que tinha. Com toda certeza ele assustaria a pequena Ana.

—Onde ela está? —Pergunto o cafetão.
—Eu não quero que você a machuque. —Ella foi sincera. —A menina só tem quatros anos.
—Não se preocupe. —Disse o outro homem e Ella sentiu nojo de seu tom. —Será mais como prazer. Agora, onde ela está?
—Ela deve estar no quarto. —Disse o cafetão depois do silêncio de Ella. —Vamos, eu te acompanho até lá.

Assim que os dois seguiram para o quarto, Ella foi rápida e conseguiu trancar a porta com a chave, mas sabia que logo aquela porta iria ao chão.

—Agora. —Ela gritou e Christian se levantou puxando Ana, mas parou ao ver que sua mãe ficara parada. —Christian! Vá! Salve a Ana.

Ele não conseguiria deixar sua mãe para trás e Ella sabia disso, o que a fez correr em direção a eles e segurar a mãos das duas crianças correndo porta a fora.
A rua estava deserta, era como uma cena de filme de terror, e os corações acelerados não ajudavam muito.
Logo eles foram alcançados pelo cafetão, mas ele não podia agarrar aos três ao mesmo tempo, então pegou apenas Ella tentado arrastá-la de volta. De uma forma inexplicável, o amor que ela tinha suprido por aquelas duas crianças lhe deu forças para lutar, e foi isso que ela fez até se soltar e tentar correr, mas apenas um disparo pode ser ouvido e o mundo parou por um nano segundo.
Christian olhou para a mãe e a viu cair de joelhos ali na sua frente, seu coração se apertou quando viu a dor passar por seus olhos. O cafetão deu um passo, mas o barulho das sirenes das viaturas o fez correr para o lado oposto deixando na rua a mulher e as duas crianças.
Anastásia e Christian correram para Ella. Christian a abraçou tentando dar-lhe forças, mas sabia que ela estava muito machucada.

—Christian. —Ela sussurrou com a pouca força que tinha. —Me perdoe por ter sido uma péssima mãe, você merece mais, e eu sei que vai ter. Cuide da Ana.
—Mamãe. —Ele disse chorando.
—Shii... —Ela sussurrou. Ela tirou algo de seu bolso e entregou na mão das crianças. Dois colares. Metade de um coração para Christian, e a outra metade para Ana. As únicas pessoas que conseguiram fazê-la sentir o amor. —Seja corajoso Christian. Cuide da Ana. Não a deixe levarem de você.

Ela sorriu e com muito esforço sussurrou um pequeno "Eu Te Amo", ele quase foi impossível de ouvi-lo, mas as duas crianças o ouviram.
As viaturas estacionaram e só agora Christian percebeu que pessoas corriam por todo lado. Ana se assustou e o abraçou apertado, os policias logo os tiraram de cima do corpo da mulher morta, o que causou muito esforço, pois os dois não queriam deixá-la ali.
Duas ambulâncias chegaram ao local. Em uma os paramédicos desceram correndo e levaram o corpo da mulher na tentativa de trazê-la de volta, mas eles já sabiam que não haviam esperança, o tiro havia acertado seu coração. Seria impossível.
Da outra ambulância certa médica de cabelos castanhos e olhos claros desceu, ela caminhou até as crianças não queriam ser tocadas e não pronunciavam nada, apenas seguravam firme a mão um do outro.
Um carro preto estacionou no local fazendo os pneus cantarem no chão. O homem que saiu do carro recebeu a noticia que sua garotinha havia sido encontrada e ele precisava recuperá-la.
Ao ver a pequena Ana seu coração se encheu de alegria, ele corre até a filha, mas quando tentou tocá-la se assustou com o grito que ela deu. Ana se agarrou a Christian, mas o pai a tomou mesmo assim em seus braços enquanto a médica tentava acalmar o menino que se desesperou ao ver Ana sendo arrancada daquele jeito de seus braços.

—Christian! —Ana gritou ainda segurando sua mão.
—Ana. —Ele gritou e usava toda sua força para segurar a pequena não dela.
—Não me deixa Christian.

Os pedidos de ficarem juntos foi em vão. O pai de Ana foi se afastando enquanto a médica segurava Christian em seus braços, as mãos escorregaram e tudo que viram foi o olhar de desespero e dor de serem separados. Isso não podia ser real.
Os dois gritavam o nome um dos outros, mas eram em vão.
Quando Ana caiu dos braços do pai, Christian soltou-se da médica e correu para abraçá-la, ele a apertou forte enquanto ambos choravam.
A médica correu recebendo ordens de que deveria levar Christian para o hospital e cuidar dele, que o pai da menina cuidaria dela, e foi o que fizeram.
O pai agarrou a pequena cintura da menina e de uma forma quase impossível conseguiu tomá-la de Christian enquanto a médica o pegava no colo.
Ana esticou as mãos para ele que fez o mesmo gesto, mas de nada adiantou, e um último olhar disse a última frase.

"Eu Vou Te Encontrar"

Eu e Você, Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora