Go Away

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Era tudo escuridão. Tão escuro que faria qualquer um questionar sobre a existência da luz. E Castiel estava ali, caindo entre o escuro, indo cada vez mais fundo, apenas esperando por uma pequena faísca, que pra muitos seria esperança. Mas para ele seria apenas um sinal, de que talvez, ele devesse parar de cair e começasse a flutuar. Flutuar para bem longe, onde as estrelas brilham e iluminam toda aquela extensão, onde o universo não é infinito e a dor e finita, onde nada pode lhe atingir com tanto impacto. Onde ele possa simplesmente... Flutuar.

O silencio era perturbador, o simples som das pessoas conversando e comendo deixava tudo menos constrangedor. Ninguém ali na mesa sabia o que – ou se deveria – falar alguma coisa. Castiel apenas estava de cabeça baixa, para não encarar aqueles cabelos grisalhos que caindo levemente ate a ponta da orelha dele, seus olhos azuis vagando por todo cardápio. Sua barba um pouco grande, mas nem tanto, somente o suficiente, com alguns pelos brancos também. Porem tudo o deixava perfeito.

O moreno estava com medo de falar, de abrir sua boca e acabar dizendo alguma merda. Não que isso fosse um problema, o cara fudeu tudo e agora age como se nada houvesse acontecido. Lúcifer balançava a perna enquanto olhava para todos os lados. Balthazar havia ficado em casa, cuidando do Gabriel. Balth era o que menos tinha problemas com Chuck, já que ele era o mais velho e sempre conversava com o velho.

- Por que você foi embora? – Lúcifer pergunta sem paciência.

O clima ficou tenso e chuck parou de mexer seus olhos para olhar para o loiro, que estava o olhando também. Sua expressão podia não ser de medo ou curiosidade, mas seus olhos diziam tudo que o mais velho precisava ouvir, ou ver.

A garçonete tosse os despertando e ele pede três pratos com panquecas e mais três sucos, espera a garçonete se virar e ir para voltar a encarar o loiro. Ele respira fundo e parece pensar durante alguns segundos.

- Eu não fui embora. Apenas tirei um tempo para... – Ele para de falar e olha pra Castiel, que ate agora não havia levantado o rosto, ele suspira cansado e olha pros lados – Isso tudo tem mesmo haver comigo? Eu só fui embora, deixei vocês serem livres. E superarem vocês-sabem-o-que, sozinhos – Ele completa balançando a cabeça.

Castiel não sabia o que falar muito menos o que fazer. Ele encarava suas mãos enquanto suava frio e respirava fundo para não chorar, sentindo um nó em sua gaganta.

- Estamos aqui porque você acha que precisamos resolver alguma coisa. Mas ele nem sequer fala – Fala olhando pro Castiel, que sentia sua cabeça doer e queimar como o inferno – Ele é igual ela, os dois são, eu só não aguentava mais e... – Ele foi interrompido pela garçonete que colocou os pratos na frente de cada um.

E foi depois de ouvir todas aquelas palavras ele tinha certeza. Ele era o motivo. O motivo de Gabriel não ter um pai descente para lhe ensinar a jogar baseball ou qualquer coisa do gênero. Ele o fazia lembrar ela. E Castiel entendia, ele mesmo se odiava quando se via no espelho. Ele não foi embora, ele os deixou. Ele o deixou.

Castiel queria sair dali, correr, fugir, se esconder em um lugar mais fundo do que ele já estava, ele só não queria estar ali, com uma pessoa que o odeia e não consegue nem sequer o olhar nos olhos.

Ele sente as lagrimas descerem por suas bochechas, ele torce para que ninguém tenha notado e abaixa mais ainda a cabeça. Sente uma leve mão em seu rosto, limpando as mesmas que desciam sem parar, ele se assusta e limpa sozinho olhando para seu irmão, que estava com uma expressão de frustrado, mas ainda sim, passava confiança. O menor respirou fundo, limpou o resto das lagrimas e olhou para seu pai, que comia com um aspecto triste.

- Então... – Castiel começa forçando um sorriso e chamando atenção de seu... Pai? – Por onde esteve? Eu pensei que talvez você visitaria a vovó, mas não sei – Ele sussurra as ultimas palavras e começa a comer, se lembrando da ultima vez que havia comido aquilo.

- Sim... Eu fui lá, mas depois fui visitar o Canadá, entre outras cidades. Foi bem, relaxante, e eu pude pensar bastante – Ele fala sorrindo e Castiel retribuiu sorrindo de lado.

- Isso é bem legal Chuck – Castiel responde sentindo uma pontada em seu coração e percebe que seu pai sentiu o mesmo, mas não diz nada, apenas volta a comer, com um aspecto pior que o de antes.

Mas não era isso que ele queria? Esquecer, ser livre. Por que Castiel tinha que lhe considerar um pai se ele teve que se virar sozinho na maior parte do tempo. Isso não é ser ai, sumir e depois de anos voltar só porque o seu irmão pediu. E ainda por cima dizer que a culpa não era dele. Impressionante.

O silencio se fez presente, e talvez aquilo tenha sido um pouco perturbador, mas nem tanto comparado com a despedida, quando Chuck foi abraça-lo e ele apenas estendeu a mão e deu um sorriso que ele julgava gentil. Mas para Chuck foi como se uma parte dele estivesse morrendo bem ali, em sua frente. E pela primeira vez ele olhou nos olhos de Castiel e pode ver tudo, tudo que ele havia causado. O mais velho sabia mais que tudo que devia ter ficado e aprendido a lidar com a dor, como todos fizeram e fazem. Mas toda vez que o moreno sorria ou o olhava, e Gabriel dava risada, era como se todo seu passado voltasse e jogasse em sua cara tudo o que ele havia perdido em um piscar de olhos. E agora estava acontecendo de novo. O universo jogando na cara dele o que ele havia perdido.

Castiel foi o primeiro a se afastar e entrar no carro, deixando apenas os dois ali sozinhos, e isso era tudo que eles precisavam.

- Ele é incrível – Disse lúcifer olhando para o carro e logo em seguida para seu pai – Quando você foi, ele cuidou de Gabriel como se fosse um filho, e ele ainda cuida. Ele é uma ótima pessoa e esta tentando melhorar. Você dizer aquilo... Você não esta ajudando.

- Eu sei... Eu só... Não consigo olhar pra ele e não ver sua mãe. Eles eram tão parecidos, ate mesmo o tom da voz – Lucifer o interrompe.

- Ele ainda parece, muito mais, a cada dia que se passa ele fica mais igual a ela. Mas não acho que ele se orgulha disso.

- Mas devia. Ela era incrível. E quando ela se foi... Eu não...

- Você desistiu.

O silencio permanece por alguns segundos ate Chuck sorrir e olhar pro carro, balançando a cabeça em sinal de negação.

- Ele fez igual a ela uma vez, quando a gente brigou no colegial e ela tinha que se despedir. Igualzinho, o mesmo olhar e o mesmo aperto de mãos – Ele respira fundo para não começar a chorar no meio do estacionamento e olha para Lúcifer – O quão? – Pergunta já sabendo que ele entenderia.

- Péssimo – Ele responde e isso era tudo que o mais velho precisava ouvir para tirar suas conclusões.

- Se ele for igual a ela como você esta dizendo, ele vai conseguir. Porque ela sempre conseguia. Ela era perfeita, suponho que ele também seja. E que vai conseguir sozinho – Ele fala olhando pra baixo, mas logo em seguida olha pra cima e leva sua mão ate o ombro do menor batendo algumas vezes – Mas por via das duvidas... Cuida dele – Diz sorrindo e o loiro apenas mexe a cabeça positivamente o abraçando.

Eles se despediram sabendo que se veriam de novo. Não era a primeira vez naquele mês. E por mais que ele odiasse mentir para sue irmão, era preciso. Ambos sabiam disso.

Long NightsOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz