Capítulo 3

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Está tudo acabado, pensava Louise melancolicamente, Eu apenas não imaginava que o meu fim seria dessa forma. Sorriu em meio ao mundo que desmoronava ao seu redor.  Akemi e Len ainda eram muito novos para entender o que se passava e tudo o que faziam era chamar seu nome com uma expressão de medo. 

  Fortes batidas na porta a fizeram ter certeza de que não havia mais nada que pudesse fazer. Não fora uma boa mãe e agora se arrependia disso, nunca aproveitou o tempo que tivera com seus filhos, Akemi com sua delicadeza, Len com seu jeito de criança e Angel, sempre tão responsável. As lembranças chegavam a serem dolorosas, uma lágrima solitária lhe escapou.

  —Akemi, Len... Sinto muito, por tudo. 

  —MÃE!

   Angel estava gritando seu nome desesperadamente, mas ela não respondia. Deixou-se levar pelo desespero e começou a chorar como não fazia há anos.

  A porta estava trancada e isso acabou atrasando os militares russos, até o momento em que eles começaram a atirar e com um chute a derrubaram. Com ataques ao povo eles esperavam pressionar o governo, e desta vez o objetivo era o mesmo.

  Adentraram o apartamento que a principio estava vazio, revistaram todos os cômodos e encontraram uma mulher e três crianças. Era um desperdício o que tinham de fazer, sempre acabavam encontrando uma mulher bonita e acabavam a matando, sem duvidas era um desperdício. 

  Hoje seria mais um dia entediante fazendo seu serviço e nada mais.

             

  Com o som da porta indo abaixo, Angel sentiu seu coração martelar no peito e abafou um grito. Mãos fortes a puxaram para o lado, permitindo a passagem de mais quatro militares no quarto, a bandeira da Rússia estava estampada em seus uniformes. Ela se debateu tentado escapar, mas isso apenas piorou as coisas, o aperto ficou mais forte ainda, deixando seus braços dormentes. 

  O homem que parecia ser o líder da operação começou a dar ordens em russo, os outros saíram do quarto levando Angel e seus irmãos para fora, e em seguida sua mãe que ia por sua própria vontade. Desceram as escadas até a entrada. Todos os outros habitantes do prédio estavam lá, ajoelhados ou em pé.

  Ela estava procurando por rostos amigáveis no meio da multidão quando a realidade a atingiu na forma de uma queda direto ao chão e acabou batendo sua cabeça com força. Arfou e passou a mão pela testa, sentindo um corte não muito fundo.

—Angel!

  Ouviu a voz de Jeff, mas ela parecia distante. Ao poucos recuperou o foco e tentou se levantar. Olhando para cima viu a mão estendida dele, aceitou-a rapidamente e já estava de pé novamente. Com mais uma olhada ao redor viu que todos os habitantes estavam reunidos e com a mesma expressão de terror. O russo que parecia ser o líder pigarreou e começou a falar em um tom arrastado na língua que todos poderiam entender:

 —Todos vocês já devem ter ideia do que está acontecendo então vou encurtar as coisas. Se alguém chamar a policia ou qualquer tipo de ajuda morre! Se bem que todos vão morrer cedo ou tarde.

  Ele soltou uma gargalhada que mais parecia um latido. Jeff se encolheu ao lado de Angel, que permanecia quieta e ao mesmo tempo tensa.

—Agora, dêem um jeito de se comunicar com o governo. 

  Seguindo as ordens dadas, os outros russos entraram no pequeno quadrado que era o gabinete da recepção. Podiam-se ouvir suas vozes ao telefone cada vez ficando mais alteradas. Jeff sussurrou ao ouvido de Angel:

 —Sabe, o governo nunca cede, eles... Acabam matando todos os reféns e depois... Costumam incendiar o prédio.

  A última frase permaneceu ecoando por sua mente. Desde que sua casa pegara fogo ela passou a temer o poder das chamas que consumiam tudo lentamente e lhe causaram uma dor terrível enquanto corroíam sua pele.

  —Como eles podem fazer isso? O governo deveria cuidar do povo! - sussurrou em resposta.

  Nesse momento os outros russos retornaram com um sorriso de divertimento estampado em seus rostos, dando a entender que aproveitariam o que estava por vir. Pararam ao lado do que os estava esperando e começaram a relatar as negociações com olhares rápidos direcionados aos reféns.

—O mundo é mais cruel do que você pode imaginar. - concluiu ele com um olhar triste.

  Repentinamente, um dos russos sacou uma pistola que carregava no cinto e disparou. Não houve tempo para nada, a bala acertou Jeff na cabeça e ele caiu em cima da garota a seu lado, cobrindo-a com o sangue que agora saia aos montes de um buraco em sua testa.

  Angel sentiu um aperto no coração. Segurou-o mais firme que pôde e o deitou no chão. A visão o a aterrorizou mais do que as risadas. Seu melhor amigo estava morto em seus braços, queria chorar, gritar e, principalmente, fazer aqueles desgraçados pagarem pelo que fizeram, mas a única coisa que fez foi falar seu nome com a voz falhando:

 —Jeff...

  A mãe dele que estava por perto foi a primeira a gritar, seguida por outras pessoas que o tinham como um amigo querido. Ela correu até o filho, porém, antes que chegasse também foi ao chão com mais um disparo. 

  Preocupada, Angel procurou sua família no momento em que os russos atiraram novamente. Os olhos de sua pequena irmã, que antes eram tão cheios de vida, perderam o foco e tornaram-se frios, enquanto perdia sua vida para algo tão brutal. Sua mãe e irmão caíram em seguida. A destruição de todo seu mundo pareceu acontecer em câmera lenta, para aumentar seu sofrimento.

  Com um grito, precipitou-se em sua direção enquanto ouvia o barulho dos disparos. Um deles a atingiu na perna e a fez cair, em seguida todos os barulhos pararam seguidos pelos passos dos russos. Um deles se aproximou e colocou o pé sobre sua cabeça, forçando-a contra o piso sujo agora com o sangue de seus habitantes. O cheiro era parecido com ferrugem.

—Você tem muita sorte, não é garotinha? - falou ele, as palavras saindo meio enroladas.

  Pôs o pé no chão novamente e se agachou. Coma apenas uma mão, puxou os cabelos da garota e levantou seu rosto deixando-o próximo ao seu.

 —Parece que tem algum histórico com fogo, seria muito divertido ver se sobrevive desta vez.

  Gargalhou uma última vez e bateu com sua cabeça no chão. 

  Angel viu o mundo escurecer completamente.

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