Segunda Parte - Vinte e Dois

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Com colaboração da Babi Souza

 
O calor da Califórnia pareceu utópico no momento em que Caleb colocou seus pés hesitantes nas calçadas de Wolverhampton. Viu-se esvaziar, imediata e tristemente, do otimismo recém-adquirido e cuidadosamente cultivado nos últimos meses. Quase como se tivesse deixado para trás uma versão entusiasmada dele mesmo, enquanto era inadiavelmente engolido pela atmosfera fria e cinzenta de seu país-natal.

Mal se lembrava de como seu apartamento era escuro e gelado. Cheirava à umidade e vazio. Se pelo menos Barbara estivesse por ali. Se pelo menos estivesse para chegar, em algum momento. Talvez houvesse alguma alegria, ou algo parecido com isso. Mas ela não viria, então acendeu um cigarro e torceu para que Londres, e aquele emprego ótimo, e aquele namorado bonito estivessem tratando-a bem, embora ainda soasse engraçado para Caleb colocar "Barbara" e "relação monogâmica" na mesma situação.

Sentiu falta da vivacidade dela, e de como exigia que ele também se sentisse vivo, quase como os dias acalorados e coloridos da Califórnia.

Desistiu do banho, que estivera almejando durante suas horas de voo, no momento em que soltou seu corpo na cama. Retirou o celular do bolso e achou seu antigo SIM Card na carteira. Estava desativado por falta de recarga. Tentaria recuperar o número em outro momento.

Dormiu o pior sono de sua vida por duas ou três horas, acordando o tempo todo, tendo pesadelos dos quais não se lembrava, mas resultaram em uma camiseta empapada de suor. Quando decidiu levantar, sua cabeça parecia pesar uma tonelada, e enquanto caminhava para o banheiro, ficou imaginando que ela havia sido substituída por uma bigorna, como em um desenho animado.

Tomou um banho quente, mas nunca tão quente quanto gostaria graças ao chuveiro que, assim como o sistema de calefação, nunca consertava. Puxou algumas roupas quentes de seu guarda-roupas e se zangou com o maço de cigarros vazio, então refez o mapa mental que havia construído durante o banho. Passaria primeiro para comprar cigarros, depois faria o resto.

Não precisava visitar Bud naquele dia. E Deus sabe o quanto não fazia questão de ir visitar Henry também. Mas queria desesperadamente sair de seu apartamento – mais tarde descobriu que não bastava. Para aliviar a aflição em seu peito talvez precisasse sair de si mesmo.

Ao invés de pegar o ônibus, decidiu ir caminhando até o centro. Vinte minutos depois estava no estúdio de tatuagem. Não estava exatamente surpreso que tivesse alguém em seu lugar – ele mesmo havia dito à Bud que não precisava esperá-lo voltar. Ainda assim, viu-se um pouco menos animado. O que faria quando acordasse no dia seguinte? Por qual motivo levantaria da cama?

Gastou uma hora conversando com Bud sobre sua viagem e o curso enquanto bebiam algumas cervejas. Quando saiu do estúdio, um pouco zonzo e definitivamente mais tranquilo, desistiu de ir visitar Henry. Podia ir no dia seguinte. Ao invés disso, fez seu caminho até a Middle Cross, e de lá até Bilston, virando na Woolpack Alley. Quando passeou pelos arredores do Mander Centre sabia exatamente para onde estava indo, embora não tivesse coragem de admitir.

Desceu pela Garrick em direção à Snow Hill, virando à esquerda para cair na Temple Street. Era uma rua pequena, como a maioria das ruas do centro. Levava apenas alguns metros até morrer em uma encruzilhada com a Worcester. Caleb acendeu um cigarro e caminhou, muito lentamente, pela beirada da rua pouco movimentada. Contou três carros no estacionamento do Wulfrun, e cinco no estacionamento do Casino. Em frente à ele, o prédio antigo de tijolos a vista. Logo acima da porta, em letras de metal, leu "Wolftown News".

Olhou para as janelas do segundo andar, mas as cortinas estavam baixadas. Atravessou a rua e andou até a esquina, escorando o corpo na parede do edifício enquanto terminava de fumar seu cigarro. Olhou o relógio em seu pulso. Faltava pouco para as cinco. Seria esquisito se esperasse?

Segredos InabitáveisWhere stories live. Discover now