Capítulo 36 - Possessivo.

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Quanto mais tempo ele passava só me encarando, mais eu ficava tensa e tentava fingir que nem tinha percebido seu comportamento. Em uma tentativa de passar o nervosismo, eu comecei a enrolar uma mecha do meu cabelo nos meus dedos ainda o ignorando curvado na minha direção com os braços sobre a mesa.
-pensei que você fosse passar a tarde comigo
Ele quebrou o silêncio com sua voz grossa e firme. Eu só olhei pra ele dois segundos depois e fiquei confusa com seu olhar bravo, só agora notei que ele não tinha motivos pra isso. Não tenho nada com ele... Não tenho obrigação de passar o tempo todo com ele.
-mas eu...
-quem era aquele?
-eu já disse que é meu amigo
Respondi rápido ainda com as orelhas baixas agora encarando a mesa na minha frente. Eu tentava não elevar minha voz para o mesmo nível de irritação que a sua estava.
-eu fiquei esperando você e passou a tarde inteira lá dentro
Suspirei decidindo não responder mais nada. Eu não lhe devo explicações, eu não sou nada pra ele e ele está com ciúme por um motivo idiota. Então não liguei mais e esperei as lobas servirem nossos pratos. E quando eles chegaram, ele ainda continuou reclamando sobre o mesmo assunto enquanto comia.
Isso já estava ficando irritante, e eu também interrompia ele quando ia falando coisas absurdas sobre Sebastian. E eu já estava quase gritando com ele, mas ele não desistia e continuava falando e falando sobre sua tarde que ele passou sozinho me esperando tentando me fazer sentir culpada por ter feito isso com ele. Eu não sou obrigada a passar meu tempo todo com ele! Na cela era diferente, eu era obrigada sim. Mas aqui fora sou livre. Quem ele pensa que é?
-já chega desse assunto porque não sou nada pra você e me desculpe se quis ficar a tarde com meu amigo e ter deixado você sozinho
-você disse que iria!
Ele agora parecia querer chorar igual uma criança brava por causa de algum brinquedo que não funcionava. E oque não estava funcionando, pra ele, era sua teimosia tentando me fazer ver que eu devia sim ter passado a tarde com ele.
-eu não disse nada disso, eu disse pra você ir visitar seus amigos
-ha... Chega... Mas fique sabendo que eu tô chateado com você agora...
Eu mordi minha língua para não rir. Oque ele disse agora era tão ridículo que eu pensei que ele estivesse brincando, mas não estava, ele estava tentando me fazer sentir culpada de novo. E ele conseguiu porque agora estava olhando para seu prato me ignorando.
Eu também decidir fazer isso e comecei a comer tentando me distrair. Uma hora ele é possessivo e outra sensível demais tentando fazer eu acreditar que é culpa minha se o deixei assim. Isso parece idiota... Mas eu não conseguir ficar com raiva dele sendo que ele estava chateado comigo. Eu iria me desculpar mais tarde.

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Quando voltamos para nossa cela e tudo se acalmou, ele ainda me ignorava e estava sentado na sua mesinha com os braços cruzados sem olhar pra mim. Eu me sentei também e olhei pra ele me divertindo com sua expressão zangada, eu me perguntei se ele ficaria sem conseguir me olhar também. Mas estava sendo difícil porque ele agora se sentou com as pernas sobre a mesa e ficou de costas pra mim. Isso é infantil e engraçado, mas eu tinha que resolver agora.
-ei... Qual é seu problema? Quer que eu peça desculpas?
Fiz uma voz carinhosa no final e me aproximei da parede de vidro ficando bem atrás dele.
-na verdade quero sim
Entortei a boca não gostando de me sentir inferior a isso. Eu não gostava de pedi desculpas a alguém que está sendo infantil, e também quando a culpa não era minha. Eu tinha pedido que ele me deixasse sozinha! Porque ele não me obedeceu?
-tá bom... Desculpa deixar você sozinho a tarde inteira esperando por mim
Falei rápido rolando os olhos impaciente, esperei ele se virar para me mostrar seu sorriso satisfeito e eu retribuir com uma careta brava divertindo ele ainda mais.
-pronto... Não foi tão difícil assim
Ele riu me deixando ainda mais irritada e depois ouvimos a porta de entrada. Era uma senhora loba segurando alguns papéis brancos caminhando de cabeça erguida parando na frente da cela de Robert. Mas depois se virou e checou mais alguma coisa nos papéis e olhou pra mim me deixando nervosa.
-parabéns Srt. Ayres, você é uma loba de raça pura, poderá sair amanhã
Eu ofeguei surpresa querendo comemorar, mas aí eu pensei em Robert. Ele estava triste ali sentado olhando para a loba esperando alguma coisa.
-mas você terá de esperar o outro dia, seus resultados estão normais mas precisamos ter certeza de que...
Ela parou e olhou de novo para os papéis se confundindo com alguma coisa. E depois coçou a cabeça olhando para nós dois de novo.
-parece que confundimos seus papéis, talvez você seja liberado amanhã mas... Eu vou me certificar para que não haja erros
Ela foi embora pensando consigo mesma sobre isso, e depois que ela bateu a porta, Robert vibrou colocando as mãos na cabeça e começou a andar de uma lado para o outro sussurrando alguma coisa.
-que foi?
Perguntei contente também mas escondendo minha felicidade tentando me fingir de educada. Ele sorriu com os olhos brilhando quando me encarou e eu quase tirei minhas dúvidas sobre aquela iluminação real nos seus olhos. Ele estava feliz também... Mais empolgado do que eu.
-posso te levar pra conhecer meus amigos, você pode morar com a gente! Só se você quiser é claro... Mas eu ficaria muito feliz se você...
-tá eu aceito... Fica calmo
Eu ria da sua ansiedade e levantei minhas mãos tentando acalma-lo porque ele estava pulando dentro da sua cela.
-você vai gostar deles, nós costumamos acampar nos fins de semana. Você tem casa?
Balancei minha cabeça dizendo que não admirando sua felicidade cruzando as pernas e esperando ele continuar seus planos de quando nós estivermos livres.
-ótimo! Pode morar na casa que meus pais deixaram pra mim, quer dizer... Eles não costumam me visitar... E quando me mandaram pra cá, me disseram pra mim voltar pra casa quando terminasse. Parece que eles esqueceram que tem um filho
Ele ficou triste de repente e eu tentei pensar em alguma coisa para dizer e mudar esse assunto.
-como é lá na sua casa?
Eu não sabia porque havia perguntado. Ele contou até os mínimos detalhes e não parou mais de falar. E eu só agora tinha percebido que eu tinha aceitado morar com ele... Isso é tão estranho pra mim. Morar com alguém que só conheço a alguns dias. Mas ele parece ser tão confiável... Alguém que cuidaria muito bem de mim. Pela sua possessividade que eu notei hoje a noite.

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