|Capitulo 46|

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Capítulo 46

|Mariana|

Depois de dias seguidos a desabafar com a Raquel e a chorar oceanos durante a noite tomei a decisão de ir falar com o Francisco. Sei que lhe devo uma explicação e talvez um pedido de desculpas, sim, é verdade que ele me disse coisas horríveis mas eu também não tinha sido a melhor namorada ultimamente.

A Vânia andava por casa com um enorme sorriso no rosto devido ao facto de eu e o Francisco termos terminado, e, como já esperava, ouvi bocas durante horas seguidas. Admito que aquilo me estava a irritar profundamente mas tentava sempre manter a calma o máximo que conseguia — afinal, não convém que uma grávida se enerve.

Suspirei, olhando para a minha barriga de cerca de cinco meses. Acariciei-a e, de imediato, lembrei-me do toque do Francisco, lembrei-me de todas as vezes em que ele me tocou de diferentes maneiras. Eu tinha saudades dele... Tenho saudades dele. Como é que eu o pude deixar? Como é que eu fui capaz de deixar para trás o homem que amo? O homem da minha vida? O pai da minha filha? Sinto-me uma merda e tenho a perfeita noção que o sou.

Rodei a chave na ignição e comecei a conduzir então pelas ruas de Pedroso, em direção ao Estádio Dr. Jorge Sampaio onde, pela primeira vez numa semana, iria ver o rapaz que faz o meu coração palpitar. Sabia que, muito provavelmente, estava chateado comigo e que iria ficar mais depois de me ver no seu local de trabalho... No entanto, era o único sítio onde eu tinha a certeza de que o encontraria. Ao longo desta semana, fui duas vezes a casa dele e ele não estava lá, portanto, fui obrigada a tomar esta a decisão e a escolher vir, de certa forma, incomodá-lo ao seu local de trabalho.

Passado cerca de vinte minutos, cheguei ao estádio onde ele e o resto do plantel da Equipa B do Futebol Clube do Porto se encontravam. Suspirei e saí do carro, colocando a mala no ombro. Cumprimentei os seguranças com um simples "bom dia" e dirigi-me para as bancadas. Assim que os colegas do meu ex-namorado deram por mim, pararam imediatamente o que estavam a fazer, chamando a atenção do Francisco que se virou para me poder encarar com uma expressão de desilusão.

— Posso saber o quê que estás aqui a fazer? — Inquiriu, aproximando-se de mim. O Francisco estava nitidamente chateado e as suas palavras soaram de maneira extremamente fria.

— Precisamos de falar sobre a nossa filha. — Respondi revelando já saber o sexo do nosso bebé.

Os olhos do Francisco brilharam e percebi que estavam prestes a chorar de felicidade, mas, no entanto, não se iria permitir a isso.

Err... Certo... E queres falar sobre o quê mesmo? — Voltou a questionar, cruzando os braços.

Era óbvio que ele estava apenas a tentar disfarçar a forma como verdadeiramente se sentia.

— Sobre a péssima atitude que eu tive contigo e sobre como vai ser daqui para a frente, afinal, temos uma filha em comum. — Respondi de forma óbvia.

Ele assentiu silenciosamente, mostrando-se disposto a ouvir o que eu tinha a dizer mas sempre com toda uma postura fria.

— Preferes falar depois do treino? — Questionei, olhando-o nos olhos enquanto acariciava a barriga.

Sorri fraco quando ele colocou a sua mão morena em cima da minha e acariciou também a minha barriga. Lembrei-me de todas as vezes em que nós ficávamos horas assim, apenas a acariciar o local onde se encontra a minha bebé, a nossa bebé.

— Bom... Honestamente, o melhor é falarmos sobre isso agora. Não te vou obrigar a assistir ao treino só para podermos conversar acerca da nossa filha. — Constatou, erguendo o seu olhar para o meu rosto.

— Em primeiro, queria pedir-te desculpa pela forma como saí de tua casa. Tenho noção de que se estivesses acordado nunca permitirias a minha saída e eu não queria que tu me visses a partir. — Expliquei, deixando um breve suspiro escapar pelos meus lábios. — Sei que foi uma atitude idiota da minha parte, e, sei também que tu nunca me vais perdoar por ter feito o que fiz, apenas quero que saibas que foi o melhor para ti.

Suspirei e olhei os seus olhos, vendo-os cheios de lágrimas. No entanto, por detrás delas eu sabia que se encontrava raiva e dor, eu tinha-o realmente magoado e odeio-me por isso.

— Em relação à nossa filha, temos de ver, Francisco. Se fores para o Vitória de Guimarães vai ser mais complicado, porém, eu estou disposta a levar-ta lá de quinze em quinze dias quando tu não jogares fora e, se quiseres, pode passar uma semana contigo ou assim. — Disse e o jovem moreno assentiu. — Em relação à gravidez, acho que posso sempre avisar-te quando vou fazer ecografias para ires comigo. Não quero que ela cresça longe do pai devido aos erros idiotas que a mãe cometeu.

— Certo... Parece-me justo. — Limitou-se a proferir, dando de ombros subtilmente.

— Tudo bem, então quando for a próxima ecografia eu aviso-te. — Proferi e o jovem moreno assentiu. — Xau rapazes, xau mister. — Acenei à restante equipa e treinador e virei costas saindo dali.

Simplesmente não queria acreditar na forma como ele falou comigo! Certo, eu mereci, mas sei lá... Estava à espera que ele desse a sua opinião das coisas, que me contrariasse, não sei.

Mas tudo o que recebi dele foi apenas silêncio ou respostas curtas proferidas de forma fria e isso mata-me por dentro, mata-me por dentro saber que o magoei ao ponto de falar assim comigo, mata-me por dentro saber que ele anda um caos, mata-me por dentro saber que eu sou a culpada de toda a sua dor.

Entrei dentro do carro e tranquei-me lá, peguei no telemóvel e mandei mensagem à Raquel contando o que se passou enquanto sentia os meus olhos encherem-se de lágrimas. Contudo, a culpa de me encontrar assim não é dele, é minha.

Eu é que errei, eu é que arco com as consequências agora. Só lamento que ele tenha desistido de nós, lamento e muito.

Shut Up |FR| ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora