Clarke Griffin

1K 109 35
                                    

    Estacionei o Mustang a poucos metros do parque. Desci do carro e caminhei pela grama gelada e úmida. A medida que entrava mais e mais na trilha a vegetação tomava um tom claro, até que tudo ao meu redor fosse tomado por neve. Eu estava no ponto mais alto de todo o parque, a minha frente o lago congelado refletia os tímidos raios de sol do começo da manhã em sua superfície lisa.

    Caminhei por mais alguns minutos, contornei o lago até uma das poucas partes não completamente congeladas. Me coloquei ao lado de uma árvore na beirada e observei a paisagem calmamente. O que sobrou do meu celular vibrou como um monstro escandaloso no meu bolso.

    - Onde você está?! - Raven gritou em meu ouvido.

    - Bom dia para você também. - Bufei. - Estou no Great Smoky Park. Cheguei a pouco tempo. Estou bem. Estou sozinha. Precisava pensar. E não, não vai ser a última vez que vai me ver. - Silêncio do outro lado da linha. - Mais alguma coisa?

    - Volte antes do café. - Não pude deixar de rir.

    - Tudo bem. - Raven desligou pouco depois.

    Seu comportamento não era estranho levando em conta a situação. Analisei os pontos em minha mão e depois a paisagem a frente. Suspirei com pesar e coloquei as mãos nos bolsos.

    Passos pesados e ritmados no meio de todo o silêncio me tiraram de minha prisão mental. Do outro lado do lago uma mulher corria com respiração ofegante, os cabelos loiros escapavam de sua toca e se debatiam contra o vento gelado. Ela atravessou a ponte de madeira lisa com cuidado e voltou a seguir a trilha de asfalto molhado. Meu coração acelerou ao constatar a presença da minha vizinha ali, pela segunda vez uma onda de adrenalina tomou meu corpo de uma só vez. As duas só aconteceram quando ela estava presente e eu queria descobrir o porquê daquilo.

    Dei alguns passos para trás e sai da neve, com um movimento rápido ela desviou de meu corpo em uma reclamação baixa demais para que eu ouvisse.

    - Espera! - Exclamei levantando os braços. Ela parou a poucos metros de mim. Tirou os fones de ouvido com desaprovação e me encarou com ódio. - Eu queria me desculpar por ter sido grosseira com você.

    - Está desculpada. - Caminhou de costas com um sorriso azedo.

    - É sério! Você veio para me ajudar e eu fui uma completa imbecil. - Soltei o ar de meus pulmões e sacudi a mão ferida. - E obrigada por isso a propósito. - Sorri um tanto constrangida. Demonstrar qualquer emoção não é algo que eu faço com frequência, mas não custava nada tentar.

    Ela pareceu baixar a guarda e guardou o IPod no bolso do casaco.

    - Não foi nada demais. - Deu de ombros. Levantei uma sobrancelha. - Eu trabalhei durante um tempo no hospital local. - Me aproximei devagar. Ela pareceu desaprovar de início, mas logo estávamos caminhando lado a lado.

    - Por que não continuou? Você faz um ótimo trabalho. - Ri suavemente, ela sorriu tímida.

    - Aquilo não é para mim. - Respondeu. Sua postura mudou rapidamente, os ombros pareceram tensionar. Mudei o assunto antes que as coisas piorassem.

    - Desculpe por ter fechado a porta na sua cara no outro dia. Eu não me lembro muito bem, mas...

    - Tudo bem, sério. Não se preocupe com isso. - Assenti. - O que veio fazer aqui a essa hora?

    - Eu precisava pensar. Costumo vir aqui para colocar a cabeça no lugar, se é que isso é possível.

    Nós conversamos por um bom tempo, tenho certeza que cobrimos uma boa parte das trilhas do parque apenas com uma conversa amigável como combustível. Cada detalhe que eu descobria sobre ela mais eu queria saber e foi assim que eu percebi... eu nem ao menos sabia seu nome.

CASTELLUMOnde histórias criam vida. Descubra agora