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(Carol)

Minhas mãos tremiam enquanto eu me apoiava sobre uma árvore em certo ponto da floresta,eu sabia que não era necessário me esconder sob as árvores devido a capa de invisibilidade que eu usava,mas não sabia ao certo porque estava fazendo isso. E se a capa falhasse e me vissem ali? então Beelion e todo aquele mundo estaria perdido,porque eu não poderia deter o rei Casser e a profecia falharia.

Luid e Tom estavam vasculhando a floresta silenciosamente atrás de mim,Ana havia lançado um encanto de ocultamento sobre eles,impossibilitando assim que fossem vistos. A guerra já havia estourado e eu podia ver vários homens Pullpers caindo ao chão ensanguentados,danificados pelas criaturas terríveis de Casser. Elas eram rápidas o suficiente para lançar golpes antes mesmo que os soldados adversários piscassem,sim eu os nomeei "criaturas"; Porque não sabia se era possível que aquelas coisas de chamas fossem homens. Eu via alguns dos soldados de Casser na forma humana,mas quando ameaçados,eles se transformavam em chamas e aniquilavam impiedosamente os adversários. Medo me corroía profundamente e fazia minhas pernas tremerem incessantemente.

Senti uma mão tranquilizadora sobre meu ombro magro e me virei para ver Luid posicionado atrás de mim; a expressão dele era sombria e seus olhos não estavam sobre mim,mas fixos na batalha que se desenvolvia adiante.

-Está tudo bem,Carolina. -Falou firmemente. -Eu estarei com você.

Quando me virei para falar com ele,o vi tombar repentinamente ao chão. Me sobressaltei e quando ergui os olhos,Ana Pullper sorria maliciosamente para mim.

-Sei que você ouviu minha conversa com Tom naquele dia fora da caverna,eu senti sua presença atrás das pedras. -Os olhos dela brilhavam com algo indecifrável.

Olhei para Luid estendido ao chão e quando olhei um pouco mais adiante vi Tom também inconsciente. Ana permanecia em sua pose despreocupada,suas roupas de couro negro brilhando á luz fraca que vinha das copas das árvores.

-Eu não...

-Meu filho e Tom não irão com você. -Interrompeu Ana. -Eu não vou deixar que meu filho arrisque a vida por uma garota que pode perder a vida tão facilmente.

Engoli seco,mas permaneci em silêncio.

-Se você tem alguma consideração por meu filho,Carolina -Ela pronunciou meu nome com desdém. - Então parta em sua jornada sozinha e deixe meu filho fora disso.

De qualquer maneira,não houve tempo para que eu pudesse formular uma resposta,pois a mulher já havia desaparecido com um movimento de dedo e levado Tom e Luid com ela.

Meu coração se apertou quando me vi sozinha na floresta. Mas talvez Ana tivesse razão,eu não deveria arrastar Luid e Tom para uma missão que era minha,não seria justo com eles; Já haviam arriscado demais por mim e se Luid morresse no caminho tentando me ajudar...eu nunca me perdoaria. Engolindo as lágrimas no fundo na garganta,me virei e me encostei atrás da árvore,a batalha sangrenta continuava e eu sentia meu estômago revirar com a visão do vermelho tão exposto.

Pensei em meu pai e no quanto ele deveria estar preocupado com meu desaparecimento,tanto ele quanto meus amigos jamais encontrariam este mundo no qual eu me encontrava agora. Talvez eu morresse ali sem ser reconhecida e sem ver meu pai e amigos. Lutava incessantemente para afastar as lágrimas,quando o vi. Sim,pela descrição de Luid,aquela figura alta sobre o cavalo só poderia ser ele; mas Casser não parou mediante a luta incessante que se desenrolava na floresta,continuou seguindo; vez ou outra lançava sua espada em um adversário,mas nada que o fizesse descer de seu animal.

Trêmula,forcei minhas pernas a seguir sigilosamente o rei por entre as árvores. Ele parou em um ponto silencioso da floresta,a postura ereta. Seus cabelos tinham uma cor tão linda a qual eu nunca havia visto antes,cinza lustroso com algumas poucas mechas vermelhas. Ele desmontou o cavalo e olhou ao redor,avaliando desconfiadamente. Eu já havia visto aquele tipo de olhar em Luid antes,e sabia que ele estava procurando ouvir inimigos. O silêncio ali era descomunal,já que a batalha se desenvolvia há alguns bons passos dali. Eu vi Casser pousar uma mão sobre a cela de seu cavalo e a outra no punho da espada (agora embanhada), o rosto estava voltado para um ponto específico e eu o ouvi pronunciar algumas palavras para seu cavalo. De perfil,eu podia ver seu rosto desconfiado e astuto. Me perguntei se ele podia sentir minha presença,mas logo descartei o pensamento quando vi um guarda se lançar contra Casser

Reprimi um grito com a mão na boca,mas Casser foi ágil ao se virar e mergulhar a espada na barriga do inimigo. Eu não sabia porque tive vontade de alertá-lo sobre o golpe,quando o correto seria torcer para que aquele guarda conseguisse aniquilá-lo e me poupasse do trabalho. Casser estava com a respiração ofegante e mesmo do ponto onde eu estava,conseguia sua mão oscilar sobre a espada,que ele embanhou novamente na lateral da cintura. Agora eu podia ver melhor seu rosto pálido,os olhos acinzentados brilhavam com leves traços vermelhos...era estranho. Contudo,Casser parecia cansado. Ele olhou diversas vezes ao redor á procura de mais inimigos,e então inclinou o rosto contra a luz do sol que penetrava as copas da árvores; ele parecia realmente exausto.

Meu coração se apertou com a idéia de tirar a vida daquele rapaz. Ali de olhos fechados sob a luz do sol,Casser parecia apenas um jovem comum.

"Mate-o,Carolina! Vá,esse é o momento,não hesite!'

A voz de Maye em minha cabeça era perturbadora. Ela queria que eu o matasse bem ali,em seu momento de vulnerabilidade. Dei um passo temeroso adiante e ajeitei meu capuz sobre a cabeça,a mão sobre o punhal.

"Vá Carolina! vá menina! crave o punhal no coração do rei."

Sacudi a cabeça a fim de afastar aquela voz.

-Eu sei o que devo fazer! -Irritei-me. -E quando achar que é hora o farei!

Vi Casser abrir os olhos e por um segundo pensei que talvez ele houvesse ouvido a minha voz,ele tirou a espada habilmente da cintura e se posicionou em ataque; recuou ao ver a outra figura encapuzada diante dele. A jovem de cabelos tão cinza quanto os dele usava a mesma capa que eu,provavelmente ela seria de Allu? Recuei alguns passos,mesmo sabendo que com o capuz sobre a cabeça,não poderia ser vista.

A expressão impassível de Casser mudou e seu rosto pálido corou diante daquela jovem,sua voz soou oscilante quando ele falou:

-Clair?

Rei Das Cinzas. (Livro 01)Onde histórias criam vida. Descubra agora