Capítulo 9

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A caminhada até o morro onde testaríamos o rádio foi longa. Estávamos andando no meio da escuridão, iluminados apenas pelas nossas lanternas e guiados por Alaska e Salvatore, que não pareciam se importar com a dificuldade de andar durante a noite por aqueles caminhos. Convencer Salvatore de nos acompanhar até ali, e posteriormente até a comunidade foi um tanto quanto complicado. Apenas depois de prometermos a ele que daríamos alguns suprimentos em troca de nos guiar, foi que ele aceitou a tarefa de nos ajudar.

Mesmo com os suprimentos tão escassos, tinha o sentimento que havia feito uma boa troca. Além de conhecer muito mais os truques de se mover durante a noite, teríamos um pouco mais de proteção até a comunidade. Kevin havia sido apenas ferido, e ainda havia chances de ele estar por perto, apenas esperando um descuido nosso para nos surpreender. Meu único trabalho seria entrar e sair da despensa sem ser pega, o que com o passar do tempo foi se tornando relativamente fácil.

Subimos até o topo do morro, com um pouco de dificuldade pelo peso das nossas mochilas, e separamos o rádio e o microfone. Com a ajuda de um tipo de gambiarra que Salvatore projetou naquela hora, conseguimos conectá-los. Enquanto preparávamos tudo, Alaska ficava atento, com o olhar fixo na floresta, como se estivesse esperando alguma coisa sair de dentro dela. Com tudo pronto, respirei fundo e torci para que aquelas pilhas durassem tempo suficiente para poder nos comunicar. Liguei o rádio, comecei a passar as estações, até que pude ouvir um som de uma música.

— Aqui é Joy da comunidade Exodus, pode me ouvir? — disse, pelo Walkie talkie.

De repente, a música parou, e a voz de uma mulher surgiu do outro lado.

Não escuto a voz de outra pessoa a meses, espero não estar ficando louca. — respondeu a voz. — Olá Joy, aqui é Kate da estação 53,1, e estou te escutando claramente.

— Kate, não sabe o quanto estou feliz em escutar a sua voz! — respondi entusiasmada. — Estávamos tentando fazer contato com outras comunidades a muito tempo, e finalmente conseguimos! Estou muito feliz em saber que existem outras pessoas tentando sobreviver iguais a nós.

Acho que se enganou. — disse ela, me surpreendendo. — Aqui não é uma comunidade, e sim um antigo complexo de comunicações do exército, que encontrei no começo do apocalipse enquanto procurava abrigo. Quando cheguei ele estava totalmente abandonado, mas a maioria dos equipamentos ainda estavam em bom estado. Não existem outras pessoas aqui, apenas eu.

— Droga... — sussurrei, enquanto a minha ficha caía.

— Você disse que é um complexo do exército? — perguntou Salvatore, curioso. — Há alguma informação do que causou o apocalipse? Sabe de algo? Alguma informação?

Eu não sou cientista, não tenho a mínima ideia do que causou tudo isso.— respondeu ela.— A única coisa que sei é que não somos os únicos ferrados com esse apocalipse.

— Como assim? — perguntei.

Esse sistema está conectado com o de vários países ao redor do mundo. Quando o acessei pela primeira vez, consegui interceptar algumas transmissões, e constatei que vários países haviam fechado suas fronteiras e entrado em estado de emergência. Suécia, Marrocos, Chile, Nova Zelândia, Filipinas entre outros países já haviam aderindo a isso. Seja lá o que desencadeou isso, afetou não só aqui, mas também o restante do mundo. Além disso, no começo, era comum receber mensagens de socorro, ou pedidos de ajuda de vários países, tanto de civis, como de militares, alguns em idiomas que eu nem conhecia.

— E você os respondeu? — perguntou Noah, chegando perto do walkie talkie.

O que esperava que eu dissesse?— falou Kate, com um tom de voz triste. — Não tinha como os ajudar, e não estou aqui para tirar a esperança das pessoas, ao contrário, acredito que é a única coisa que ainda nos resta.

A Promessa - Sobrevivendo Abaixo de Zero - Livro IIWhere stories live. Discover now