{8} CONTAGEM

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Morá não conseguiu dormir nada o resto da noite. Barton, Johá e Lia haviam saído há mais de quatro horas e ela só conseguia pensar se já estavam na estrada da Floresta Morta, onde estariam mais seguros por um tempo. O dia começava a nascer e a preocupação do povo de Orm estava no ápice. Ninguém sabia quando Falem e seus subordinados chegariam para a Contagem, e a Nahin agora tinha um motivo a mais para ficar apreensiva.

Assim que os primeiros raios de sol tocaram as ruas da vila, Morá saiu para sua tradicional inspeção pelas casas. Seu objetivo era encontrar qualquer coisa que os moradores tivessem consigo que pudesse ser motivo para um castigo por parte de Falem. Todos da vila sabiam dos riscos de possuir qualquer arma, então ninguém guardava nada que pudesse parecer uma mínima ameaça. A Nahin sabia muito bem que as contagens só serviam para meter medo no coração das pessoas para que nem lhes passasse pela cabeça a ideia de se rebelarem.

A primeira casa que Morá visitou foi do Sr. Drumond, um homem careca e gentil que se desdobrava para cuidar de suas três filhas depois de ter perdido a esposa para uma doença grave. Ela entrou na casa apertada que cheirava ao chá de ervas que todos em Orm se acostumaram a tomar. Drumond pediu que a Nahin se sentasse enquanto lhe servia o líquido verde em sua melhor caneca.

- Começou por aqui, Sra. Nahin? - perguntou o homem, sentando-se à mesa para acompanhar a visita no chá.

- Sim, você é o primeiro.

Morá viu a porta de um dos quartos ser abeta, enquanto uma jovem de cabelos ruivos saia carregando uma pequena criança com seus quatro anos de idade, uma terceira, um pouco mais velha que a caçula, veio logo atrás segurando na barra da saia da irmã. Estavam todas com o medo estampado no rosto, como qualquer morador da vila em uma manhã de contagem.

- Venham aqui e cumprimentem a Sra. Nahin - ordenou Drumond.

As três garotas se aproximaram com passos rápidos e deram bom dia para Morá em um coro fraco. A Nahin sorriu-lhes e tentou acalmá-las.

- Vai ficar tudo bem, minhas queridas. Só fiquem caladas e façam tudo o que eles mandarem. - Voltou a atenção para Drumond enquanto as meninas ocupavam seus lugares à mesa para tomarem seu chá. - Só preciso ver as ferramentas novas que você trocou semana passada. Quero ter certeza de que eles não as usaram como desculpa para qualquer coisa.

O homem anuiu.

Morá estava com pressa mas terminou o chá com a maior calma antes fazer a vistoria, não queria deixar transparecer que algo estava fora do normal.

Assim que terminou a vistoria na casa de Drumond, sem encontrar nada suspeito, a Nahin seguiu para a próxima. A vila já começava a mostrar sinais de vida com as pessoas seguindo com a rotina alterada com a tensão.

O pastor de ovelhas mantinha seus animais no cercado, não os levaria para pastar hoje sabendo que se não estivesse na vila quando a contagem começasse seria punido; as donas de casa não colocavam suas roupas no varal pois sabiam que seriam rasgadas e jogadas no chão por puro sadismo dos Espectros, assim como os cães eram presos em casa para que não fossem mortos pelos soldados negros em busca de diversão. Era um dia triste na vila.

Ao passar pela casa de Barton, Morá viu que o velho Montes já saíra para seu ritual diário em sua horta. Apesar de saber que o único neto estava agora trilhando um caminho incerto, ele parecia estar bem, como se nada estivesse acontecendo. Entretanto, Morá sabia que estava com o coração em pedaços, contara toda a verdade a ele sobre Barton ter grandes possibilidades de morrer naquela viajem. Ela achou melhor assim, nada que dissesse convenceria Montes que seu neto precisava partir, exceto a verdade.

𝑨́𝒖𝒓𝒆𝒐𝒔 - 𝑪𝒂𝒎𝒊𝒏𝒉𝒐 𝑷𝒂𝒓𝒂 𝑺𝒉𝒊𝒏𝒆̂Onde histórias criam vida. Descubra agora