Capítulo 2 - Ameaça.

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Outro dia iniciava-se na agitada Dejima e com o alvorecer, o sol trazia consigo as marcas de destruição deixadas por um grande e misterioso ataque. Contudo, o que mais despertava a atenção não só dos civis, mas também das pessoas que acompanharam e testemunharam de perto do que chamaram de "demônio das chamas", foi que o anjo caído poderia ter tomado e destruído todo aquele território, porém não o fez.

Akamatsu refletia enquanto sentado em frente ao futon no qual Masaki jazia deitada, tudo fazia e não fazia sentido, ponderou. Talvez, a descendente das chamas tenha se tornado realmente  amargurada e atormentada pelos fantasmas que assolaram e destruíram sua infância, ou talvez apenas estivesse procurando um ponto final em sua peregrinação longínqua e solitária.

Bom dia... — Masaki abria seus olhos pausadamente enquanto observava as olheiras de seu parceiro, que ao vê-la acordada sorriu.

— Bom dia! Ainda bem que acordou, eu já estava... 

— Preocupado? Esse é o seu estado normal de espírito! Ficou sentado a noite toda aqui? — Ela riu replicando à sua maneira comum, mas ainda preocupada com o companheiro.

— Ah o suave tom da sua ignorância me tranquiliza, Masaki! Afinal, me recorda que você já está bem o suficiente para voltar ao trabalho burocrático! E sim, eu não podia deixá-la só... Te amo demais para fazer isso! — Ele a brindou novamente com um sorriso que fizera aparecer suas covinhas. 

Masaki riu e sentou-se e tornou a encará-lo nos olhos. 

— Eu sei, meu amor, mas antes de me empurrar do penhasco do serviço burocrático, primeiro tem a obrigação moral de me contar o porquê de eu estar aqui, e segundo, você tem de se cuidar! — Ela respondeu incisiva.

Ele respirou fundo enquanto Masaki o encavara com uma e suas sobrancelhas arqueadas.

— Tudo bem, prometo que serei mais meticuloso com minha saúde, mas só se me jurar que também cuidara de si mesma! — Ele respondeu a bronca carrancudo. — E digo mais, não sou eu o médico aqui, a única coisa que eu sei fazer, além de ser seu capacho, e claro, alem de brigar... 

­— Esqueceu-se de que você também passa vergonha... — Interrompeu Masaki mais uma vez de forma anedótica.

— Ah claro! Mas isso é apenas um detalhezinho sórdido! — Ele desistiu de brigar e ambos sorriram ainda encarando-se nos olhos, até as batidas na porta extinguirem o gesto quase que instantaneamente.

Valerie, a médica local, havia ido verificar o estado de Masaki, mas não fora em virtude dela que o casal cessou as carícias mútuas, mas sim pelo medo de que fosse algum dos senhores feudais daquela região, pois como Xogum, Masaki não deveria se relacionar com o senhor de seus exércitos. 

Muito embora Dejima seguisse ideais emancipatórios, ainda perduravam os mandamentos e regras segundo a tradição e religião. 

A pequena ilha era um território feito para acolher refugiados expulsos ou impedidos de adentrar o território japonês, Valerie era uma médica que servira o império russo e que há muito fugira da guerra, seus dons não se limitavam à cura, de modo algum, suas especialidades eram a perda e a dor, mas por vinte anos ocupou seu tempo prestando assistência médica à população daquela ilha e por algumas vezes assessorava Masaki em assuntos de cunho militar.

— Bom dia, Xogum! O dia parece ter começado bem... — Ela educadamente pronunciou ao abrir a porta e encarar o casal de maneira sutil.

— Valerie, é ótimo te ver novamente! Mas, seja franca e breve, o que aconteceu? — Masaki pronunciou de uma vez, ansiosa. — Esse odor de fumaça e as cinzas no kimono de Akamatsu já estão me deixando a beira de um ataque de nervos! 

The Flaming Woman - A guerreira CarmesimWhere stories live. Discover now