– Eu te amo.
Eu disse enquanto ela aspirava o pó branco alinhado no meu pau. Ela pareceu engasgar e começou a rir e tossir. Por fim, respondeu:
– Vai se foder.
– Tô falando sério.
Ela saiu de cima de mim e se sentou na minha frente, com uma expressão séria.
– Desculpa. Isso acontece as vezes, mas não vai rolar.
– Rolar? Não tem nada pra rolar, eu só disse que te amo.
– Ama nada.
– Como você sabe?
– Não dá pra ter amor quando tem dinheiro envolvido.
– É assim que os casamentos funcionam.
– É diferente.
– Como?
– Nos casamentos o homem não paga pra trepar com a esposa – ela se esticou e se deitou ao meu lado, mas pareceu evitar olhar pra mim.
– E muitos deles não trepam também.
– O que você quer, hein?
Fui por cima dela e coloquei o resto do pó em seus peitos.
– O que quer dizer? – cheirei a maior parte que havia posto. Senti meu cérebro queimar, como se uma corrente de alta voltagem passasse pelas sinapses do lado direito e então chupei o resto de seu mamilo. O gosto amargo descendo pela minha garganta me causou um pouco de ânsia, mas aquilo já era esperado.
– Falando essas coisas, assim do nada.
– Não quero nada – me joguei de costas na cama e minha cabeça ficou no meio de seus pés. Senti a euforia começando a bater enquanto eu olhava a porta do quarto de ponta-cabeça – só senti uma coisa e pensei em te contar.
– Não foi amor.
– Como sabe?
– Nós nem nos conhecemos.
– E isso importa?
Ela recolheu suas pernas e as abraçou, sentando na cama. Eu me sentei de frente pra ela e a olhei eu seus olhos. Ela parecia examinar minha cara esperando por um sinal de que eu estivesse brincando. Quando não viu nenhum, disse:
– Você é louco?
– Por que diz isso?
– Você liga pra uma puta pra transar e fala que ama ela?
– As vezes uma boa trepada é a melhor prova de amor que você pode dar.
– Não... – ela parou por um tempo, pensando – talvez... Mas só quando as pessoas se conhecem, namoram, têm uma história juntos!
– Nah, isso aí é só uma babaquice que as pessoas falam pra criar leis e vender livros. O amor em si pode durar menos que o grau de um tiro, pode durar segundos: Aqueles segundos em que você encontra uma pessoa e ela ilumina seu dia e todo o vazio do mundo não importa mais e você agradece a deus por estar vivo, mesmo não acreditando nele.
– Olha, eu não sei da onde você veio, mas aqui as coisas não funcionam assim não... Não dá pra chamar algo que dura tão pouco de amor.
– Esse é exatamente o problema – disse, acendendo um cigarro e passando o maço pra ela – existem dezenas, talvez centenas de pessoas no mundo que podem nos fazer sentir isso, mas a gente tenta amar a mesma pessoa, o tempo todo e por toda a vida. Tentamos forçar esse sentimento mais do que ele pode suportar, e aí a gente acaba fodendo com tudo.
– Como você faz então? – acendeu um cigarro e me devolveu o maço.
– Eu? Eu me contento em amar as pessoas por curtos períodos de tempo, que é o tanto quanto consigo: Noitadas em bares, encontros inesperados...
"Ou mesmo numa boa trepada."
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As Crônicas da Decadência
Short StoryUma série de histórias do dia a dia por David Conatus