Ando por mais dois quarteirões até chegar em casa. Moro em uma cidade pequena, com árvores nas ruas e crianças tomando sorvete na calçada. Parece que o tempo parou nesta cidade do interior.
Deixo a chave no sofá, meus sapatos no tapete e meus pensamentos no capacho de entrada.
Desbloqueio a tela do meu celular, e ao ver minha foto com Guilherme me veio uma súbita vontade de vomitar. É uma grande gargalhada: existem coisas que a gente não perde, mas se livra. E também uma grande, enorme e sufocante sensação de vazio. É assim que funcionam as fases de um término, as de aceitação pessoal ou essa é só a fase "estou-de-saco-cheio"?Troquei rapidamente o papel de parede por um gatinho fofo, e já me senti um pouco melhor.
Enquanto lavo meu rosto e me encaro no espelho, o celular vibra na pia e o equilibro rapidamente na minha mão para não escorregar."Nova mensagem de Guilherme"
Hesito por um segundo, mas leio a mensagem.
"Oi gata, o que vai fazer hoje?"
Eu não consigo acreditar na cara de pau, deveria é dizer que vou passar um óleo de peroba no rosto dele. Mas me contive, e respondi:
"Vou agarrar minha melhor amiga no quarteirão da minha casa. Claro, se ninguém já não estiver fazendo isso com ela"
Envio a mensagem e bloqueio o contato. Bufo, e solto todo o meu peso na cama.
Não sei como eu fui me envolver, mas por que não me envolveria? Ele é popular, tinha interesse e você estava entediada.
Luiza, você é estúpida.
Por mais que pareça um pensamento idiota, parece que nunca vou encontrar a felicidade na vida: estudar, entrar na faculdade, namorar, arranjar emprego, casar, ter filhos. Todos os 6 itens nesta ordem: fórmula que minha mãe seguiu religiosamente, meus tios, menos minha avó, que na época dela, a fórmula só tinha 3 itens, adivinhe quais. Dica: fazer faculdade não fazia parte dela.
E mais que eu penso na fórmula, mais eu me desespero. Me sinto sem atenção para estudar o necessário, insuficiente para passar em uma faculdade, pouco atraente para namorar, sem qualidades para um emprego e sem habilidade para ser mãe.E eu fico entediada e arranjo um traste.
Me sinto culpada, e acabo com o relacionamento.
Perco tempo pensando em tudo e não estudo.
Me sinto culpada em perder tempo não estudando.
E me lembro que estou sozinha.
Cada vez mais distante da fórmula, o que é inconcebível para mim, já que meu forte é matemática.
Luiza, você não presta.
Nesse meio tempo, já atualizei as redes sociais 5 vezes, abri minhas conversas 8 vezes e recebi 259 mensagens de 4 grupos diferentes, e desligo o aparelho, porque são coisas demais.
Esfrego meus olhos cansados e me esforço para fechá-los por um segundo, tentando superar a confusão e o aperto que sinto no meu peito.
Encarar o teto escuro do meu quarto é apavorante. Eu tenho pavor do escuro, mas não por medo de aparecer um monstro do meu armário - é, que, no escuro, é inevitável ficar sozinha comigo mesma.
Parece que todos temos coisas mal resolvidas com a escuridão.
⭐🌟🌟🌟🌟🌟⭐
São 6:30 da manhã e o som estridente do despertador arde nos meus ouvidos.
Espero a vontade de levantar em uma sexta-feira de manhã, mas como ela não vem, vou até o banheiro me arrumar para a aula.
Paro na frente da pia e respiro fundo 3 vezes. Escovo meus dentes e dou mais 5 suspiradas, 4 chacoalhadas de ombro e 6 piscadas profundas. Eu realmente não estou preparada para ver as mesmas pessoas, ter as mesmas aulas e principalmente, todos repararem que eu estou na pior.
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Nebulosa
Teen FictionNebulosa é um corpo difuso, confuso, uma poeira cósmica. É uma galáxia É a mãe das estrelas Eu sou Luiza, uma bagunça celeste. E foi assim que eu criei o meu próprio universo.