5.0 | we're broken people

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Era só mais um dia comum quando cheguei no colégio, logo encontrando com Dinah.

''Você falou com Lauren hoje? Não tenho conseguido conversar com ela esses dias.''

''Ainda não, mas ela deve estar bem, só um pouco atrasada'' respondi depois de negar com a cabeça e sentei em minha mesa, já que era possível ver o professor chegando na sala.

Pensando bem, era estranho Lauren estar atrasada. Da última vez que isso aconteceu, não acabou de um jeito bom.

[...]

Duas aulas já tinham se passado e nada da garota pálida aparecer, me deixando preocupada.

lauren?

l?

lern jergi?

l: oi

l: lern jergi é muito complicado, ainda prefiro lolo

onde vc tá?

por que não veio hoje?

me responde

o que aconteceu?

Comecei a ficar mais preocupada quando a garota parou de responder as minhas mensagens. Decidi ligar para o pai dela, para confirmar minhas suspeitas.

''Alô? Senhor Jauregui?'' perguntei após alguns segundos de silêncio do outro lado da linha.

''Olá, Camila?'' a voz do mais velho se fez presente ''Está procurando a Lauren?''

''Isso mesmo.'' respondi depois de acenar positivamente com a cabeça mas perceber que o outro não poderia ver.

''Bom, ela não levantou hoje.'' comecei a me desesperar já imaginando o pior. ''Percebi que ela estava demorando para aparecer e fui até o quarto dela. Ela não parecia estar dormindo, mas não se mexeu nem mesmo quando ofereci carona para levá-la naquele evento de histórias em quadrinhos que está na cidade.''

Congelei no lugar ao perceber a gravidade da situação. Lauren vinha falando daquela convenção há muito tempo e tentava participar da mesma durante toda a semana em que estava na cidade. Se a mesma não tinha se animado nem com a ideia de faltar um dia de aula para ficar rodeado daquelas histórias que tanto amava, nada de bom poderia ter acontecido.

''É ais um episódio depressivo?'' perguntei já arrumando meu material para sair do colégio.

[...]

Larguei a bicicleta de Dinah - que peguei emprestado para chegar mais rápido na casa de Lauren - no quintal dos Jauregui, logo me apressando até a porta.

Apertei a campainha repetidas vezes até perceber que ninguém atenderia, então levantei o tapete localizado na entrada da casa para pegar a chave que liberaria  a minha entrada, abrindo a porta com cuidado e logo subindo.

Abri a porta de seu quarto cuidadosamente, me preparando para o que poderia acabar encontrando.

Observei Lauren deitada em sua cama, com os braços por cima do edredom que a cobria e os olhos fixos em algum ponto do teto. Ela não parecia estar dormindo e muito menos tranquila. Devia estar em um estado de transe, pensando na vida.

''Oi, seu pai me disse que você estaria aqui'' falei e ri baixo quando ela se revirou na cama e soltou alguns grunhidos, provavelmente por causa da luz entrando pela janela que acabara de abrir ''Não precisa se preocupar em levantar, só é bom sentir um pouco do Sol''.

Saí de perto da janela e me direcionei para o outro lado do quarto, passando a ponta dos dedos pelas memórias presas em seu quadro - fotos com seu pai, Dinah, comigo e com nossos outros amigos, além de algumas em que ela ainda era bem pequena, com sua mãe.

Me lembrei da primeira vez em que fui visitá-la e a encontrei naquela situação, fiz a mesma coisa que naquele dia. Desde então, tinha o costume de passar por suas coisas para fazê-la falar.

''Lembra desse dia? Lembro de quando você mandou uma carta falando dessa nota'' comentei com uma risada, tirando uma tachinha do lugar para pegar uma das únicas provas em que Lauren tirou nota máxima. ''Você me contou que só foi bem porque tinham que fazer um texto qualquer, então você começou a falar sobre o Batman''.

Pude jurar que vi um meio sorriso surgir no rosto da Jauregui, mas se a mesma o fez, parou em um instante, logo soltando um longo suspiro e voltando para sua posição original na cama.

''Obrigada'' Lauren praticamente sussurrou, me fazendo sentar na ponta da cama em que ela estava ''Por estar aqui''.

''Eu sempre estarei aqui, L. Até você melhorar, por que nós somos namoradas e eu te amo''

''Isso já aconteceu várias vezes antes, não vai mudar. Eu não vou conseguir mudar'' a hispânica soltou, fechando os olhos.

Dei um longo suspiro. Apesar de estar acostumada com os episódios da garota, era inevitável ficar triste com toda aquela situação.

''Preciso te dar uma coisa'' comentei, atraindo o olhar da mais velha ''Eu sei que isso não vai te ajudar a melhorar, mas você precisa saber''

A Jauregui me olhou, sem dizer nada, mas eu sabia que a garota estava atenta, então respirei fundo e voltei a falar.

''Lembra quando nós éramos mais novas, que eu te contava sobre meu pai? Então, com uns 9 anos ele simplesmente abandonou a nossa família. A minha mãe ficou realmente mal, ela não parava em casa direito por alguns meses, aí tive que passar esse tempo morando com o Shawn'' parei para respirar por um momento ''Depois de um tempo, minha mãe voltou para casa, porém ela estava bêbada quase o tempo todo. Era quase impossível de se morar com ela, mas ainda era a minha mãe e ela estava se sentindo sozinha, o que mais eu poderia fazer além de ficar ao lado dela? Isso aconteceu até os meus 16 anos, quando ela chegou sóbria em casa e decidiu que se juntaria aos Alcoólicos Anônimos. A partir daquele dia eu passei a morar com o Shawn definitivamente''.

Terminei de contar e fomos envolvidas por um silêncio até que constrangedor. Não esperava alguma reação de Lauren, então apenas a olhei.

E foi uma boa ação, pois quando o fiz, pude perceber que a garota sorria minimamente, isso me deixou confusa.

''Todo esse tempo eu pensei que você era perfeita, que tinha a vida perfeita, agora posso ver que não é bem assim'' a Jauregui explicou, me fazendo acompanhar seu sorriso momentâneo.

Logo voltamos ao silêncio de antes, porém agora era mais confortável ao lado dela.

Tomei coragem e me levantei, logo pedindo para que a garota se afastasse um pouco na casa, assim que o fez em silêncio, acabei me deitando ao seu lado e apoiando minha cabeça em seu ombro.

Puxei sua mão para poder segurá-la, entrelaçando nossos dedos.

Naquele momento eu apenas lembrei de uma coisa que estava na minha cabeça há muito tempo.

Vale a pena lutar por nós.

Letters :: camrenWhere stories live. Discover now