Um velhinho muito especial

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Nesse momento, Wagner viu um velhinho maltrapilho, aparentemente bêbado, atravessando a rua, vindo na direção da mesa. Ele atravessava por entre os carros que estavam parados no sinal. Ele se apoiava nos carros, provocando protesto dos motoristas. Então, ele parou diante de um carro e começou a gesticular, como que discutindo com o motorista. Foi então que o sinal abriu e os carros começaram a se movimentar. O velhinho não saía da frente do carro, e, por isso, o motorista começou a avançar lentamente.

Wagner se levantou e correu até a cena.

— C*****!- gritou para o motorista. "Não está vendo que o homem não está bem?" - e, então, segurou o velho pelos ombros e o acompanhou até a calçada, perto da mesa onde Ademir observava a cena, rindo.

— Senta aí, tio! - disse Wagner para o velhinho. "Descansa um pouco aí".

O velho era o típico mendigo urbano: maltrapilho, cabeludo, barbudo, vestindo uma blusa de lã surrada e suja, apesar do calor. A barba mostrava-se claramente suja, bem como o rosto brilhava, expondo uma oleosidade oriunda da falta de banho. Seus olhos brilharam quando pousaram na garrafa de cerveja que estava sendo aberta em frente a Ademir.

Ademir disse ao garçom:

— Geraldão, traz um tira-gosto reforçado aí pro tiozinho!

— O quê? - perguntou o garçom.

— Ah, sei lá! Faz um sanduba legal pra ele. E traz mais um copo!

O rosto do velhinho se iluminou, e ele sorriu, exibindo dentes amarelados. Wagner perguntou:

— Mora onde, tiozinho?

Quando falou, o velhinho surpreendeu pela voz firme, pausada e bem entonada:

— Eu sou um cidadão do mundo, meus amigos. Um cidadão do mundo.

— Poxa! O tio fala bonito! Nasceu onde, tio? - perguntou Wagner.

O homem nada respondia. Continuava com olhos fixos na bebida, como que hipnotizado. Quando o Geraldão trouxe o sanduíche e um outro copo, o velho passou a devorar o alimento, como se não houvesse comido há dias.

— Vocês dois ganharam o céu hoje! - disse, finalmente. "Por isso, eu vou responder uma pergunta para vocês. Podem perguntar qualquer coisa".

Ademir e Wagner se entreolharam. Foi Ademir quem falou.

— Como assim, tio? Que tipo de pergunta?

O velho respondeu:

— Você está fazendo duas perguntas. Qual delas quer que eu responda?

— Oh, tio! Dá um tempo! Explica esse negócio de pergunta... - disse Wagner.

O velho disse:

— Vocês não queriam saber uma coisa? Não foram procurar um pastor para saber resposta de uma pergunta? Se fizerem para mim, eu responderei.

De novo, Wagner e Ademir se entreolharam, desta vez boquiabertos e com os olhos estalados. O aspecto do velhinho, apesar de ainda ser o mesmo, apresentava alguma coisa diferente, que não sabiam definir.

— Ôôo... quê isso...!? Como sabe que nós fomos procurar um pastor? - perguntou Ademir.

— É essa a pergunta que quer que eu responda?

Ademir quase disse que sim, mas sentiu um estranho calafrio. Olhou de novo para Wagner, que estava sorrindo, como se não estivesse percebendo o que acontecia. Então, disse:

— Não, não é a pergunta. Queremos saber por que existem tantas igrejas se a Bíblia é uma só.

O velhinho sorriu, coifou a barba e respondeu:

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⏰ Last updated: Sep 27, 2017 ⏰

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