GLACIAL - O Golpe Do Ano [DEGUSTAÇÃO]

"Meu Problema"

─ [...] Eu aceito. ─ A voz baixa reverberou com exactidão, porém sem emoção. Apenas se dignou a esperar os votos e aguardar a troca de alianças, enquanto fixava o olhar azul esmorecido dentro dos esverdeados impactantes.

Valquíria era um problema sim, mas tinha luz na moradia de sua alma que rivalizava com a escuridão total de Camilo. Ela segurou na mão dele com todo carinho quando colocou o maravilhoso anel de ouro branco no dedo.

─ Eu, Valquíria Hayes, prometo te amar na saúde e na doença, na alegria e na tristeza até ao fim dos seus dias. ─ Disse e engoliu em seco quando Camilo retirou a mão com rapidez, e quase não a tocou direito quando foi a sua vez de colocar a aliança. Sem contar que manteve os lábios pressionados sem pronunciar uma única palavra que todos tanto esperavam.

Houve um burburinho constrangedor, mas o Conservador soube dar a volta a situação e prosseguiu com os seus conselhos matrimoniais e palavras de sabedoria até os declarar marido e mulher.

─ [...] Pode beijar a noiva. ─ Concluiu por fim, mas o clima já estava rodeado de um constrangimento que era palpável pelos demais. Holanda tossicou baixo e Leandro a encarou com cara feia.

Valquíria deu um passo em frente e não esperou que o mais novo marido fizesse algo, sabia que ele não faria, apenas segurou o rosto dele com as duas mãos e levantou o queixo para frente a fim de o beijar. Camilo não recuou de imediato, não abriu muito os lábios, mas deixou que a boca carnuda que o tinha enfeitiçado naquela noite, se juntar aos seus de um jeito intenso e provocador.

Aplausos soaram, mas o recente casal se afastou com a mesma rapidez que se tinha juntado. Foi Val que se pendurou no braço forte dele e começou a acenar em todo seu sorriso para as pessoas que os assistiam. Palmira chorava de emoção por ver sua menina mais nova casar, comentava com as mulheres de sua família e não podia esconder o orgulho.

Rapidamente todos foram se sentar e a festa começou em toda sua pompa. Camilo comeu e conversou com todo mundo sem nem pestanejar, conseguia roubar a atenção de um jeito curioso e participou dos rituais africanos com a família dela sem se importar, diferente de Valquíria que estava perdida do lado dos Vaughan. Ambos receberam presentes e se sentaram em poltronas com os pais de cada um, assistiram a dança ritmada e as cerimónias tradicionais totalmente coloridas e com canções maravilhosas em iorubá. Viviane tentava dançar junto das mulheres da família de sua nora que lhe tinham enrolado tecidos africanos e lhe ensinavam como reproduzir os passos com toda paciência, mesmo ela não conseguindo acompanhar.

O corte de bolo também foi rápido demais e depois se seguiu a dança dos recém casados. Val se agarrava no corpo alto e forte, mas não demorou até o marido se afastar para a troca entre os familiares que deveriam se juntar na pista para se lhes ajuntar. Foi Monalisa quem ficou par do seu cunhado, era baixa demais e nem os saltos a ajudaram a chegar sequer ao ombro dele.

─ Sabe, a Val é nossa pequena. Sempre foi muito rebelde, fala e faz o que quer. Eu sei que a forma como tudo aconteceu foi errada, mas ela tem um bom coração. ─ Disse em toda sua preocupação, era claro que era a mais amorosa e recatada entre as irmãs.

Camilo dançava muito bem, conseguia conduzi-la de um jeito único, mas quando queria deixava de ser o falador excepcional e se fechava dentro da escuridão da sua concha rija e cheia de problemas.

─ Não nos conhecemos direito, mas lhe peço que dê uma oportunidade. Que tente aprender a amá-la. ─ Pediu com os olhos cheios de lágrimas, não sabia dizer a razão, mas mais facilmente temia Camilo do que Leandro. ─ Não lhe fará nenhum mal?

Ele travou a mandíbula de imediato e esquivo como sempre se afastou e fez uma vénia educada.

─ Foi um prazer dançar com você. ─ Disse e se esgueirou para longe da pista onde seu pai dançava com a noiva, sua mãe com o pai delas, Eliete estava a retrucar alguma coisa com Leandro e seu tio se divertia com Palmira.