"Veracidade"

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Eliete caminhava radiante ao lado de Sanjit. Tinham ido ao cinema e depois jantar num rodízio, agora caminhavam lado a lado por uma rua turística cheia de artistas que mostravam variados estilos de talentos. Era toda luminosa, com muitas pessoas que aproveitavam um bom momento de lazer.

─ Fiquei feliz quando recebi seu convite. ─ Ela disse com o seu lindo sorriso que se destacava no rosto oval. Naquela noite estava com o cabelo ondulado preso num rabo-de-cavalo, usava calças e um casaco quente. ─ Não pensei que fosse voltar tão já.

─ Foi rápido. ─ Sanjit não queria mentir, na verdade nem deveria estar ali, mas o pouco que tinha convivido com ela tinha sido o suficiente para não tirá-la de seus pensamentos. Tinha jurado que aquele seria um encontro onde iria se despedir com alguma desculpa fajuta, mas agora que passeava ao seu lado não parecia algo que lhe apetecesse fazer.

Pararam para comprar dois sorvetes e depois se sentaram num banco perto de uma praça. Dali se escutava o violino de um jovem que tocava e ganhava moedas, assim como se ouviam vozes e risos divertidos dos transeuntes.

─ Eu estive pensando... ─ Ele vestia uma blusa de mangas compridas que demarcava todo corpo com músculos de fazer perder a respiração. O rosto com a barba curta lhe deixava ainda mais bonito e os olhos expressivos pareciam esconder tanta coisa. ─ Você acredita que tudo na vida tem um propósito? Digo, de acabarmos por conhecer pessoas só por um motivo.

─ Plenamente. Tudo se trata de uma aquisição de conhecimentos ou experiências. Nada pode ser em vão. ─ Garantiu a lamber o sorvete e se deliciou com o sabor doce em sua boca. Mesmo com o frio que fazia, não podia ser mais espectacular. ─ Por que me pergunta isso?

─ O pouco tempo que passei com você foi muito genuíno. É raro ver uma mulher que é ela mesma sem se importar com o que os outros vão pensar. O mundo está cheio de futilidades e depois existe você.

Eli pestanejou ao ouvir aquilo, era bom demais porque de alguma forma sentia o mesmo. Tinha tido uma conexão desde o primeiro minuto que se falaram.

─ Ainda prezo por pequenos encontros, conhecer a pessoa e ir criando algo. Hoje em dia tudo acontece muito depressa. Não que seja da minha conta, mas é bom ter esse entendimento antes. ─ Sanjit continuou a falar e olhava para todos os lados menos para os olhos rasgados que sabia que o fixavam.

─ E então?

─ Então que você nem sentiu minha falta e ainda disse que voltei tão já. ─ Brincou com um riso, e se virou apenas para levar com o sorvete que gelou seu nariz de propósito. Os dois riram em sintonia.

─ Tenho trinta e dois anos, não posso parecer aquelas meninas desesperadas. ─ Gracejou e levou o dedo polegar para limpar o pequeno ponto branco que enfeitava o nariz dele.

─ Solteirona. ─ Sanjit provocou e sentiu a cotovelada que ela lhe deu.

─ Os sentimentos hoje em dias são efémeros, as pessoas traem, mentem e querem sempre digladiar dentro de uma relação. Prefiro estar ciente de onde eu piso antes de entregar meu coração antes de amar alguém que não é de inteira confiança. Eu tenho como um princípio a Veracidade.

Sanjit ficou pálido por uns segundos e tossicou para clarear a garganta. Contar a verdade estava fora de questão, não só pelo sigilo profissional, mas também por uma pequena covardia e receio de ver a decepção que poderia causar nela.

─ Acho que deveríamos parar de nos encontrar. ─ Soltou aquilo como uma bola de fogo que se alavancou directo para o rosto dela que chamuscou.

Eli abriu a boca.

─ Por quê? ─ Perguntou sem esconder o desapontamento. ─ Já sei. É por causa das nossas culturas serem diferentes, não é? A gente pode namorar por um tempo, mas depois vai ter que voltar para a índia e se casar com uma indiana que segue os costumes de sua família. E você não quer me enganar.

GLACIAL - O Golpe Do Ano [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora