Let's play?

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Pov Laura

Levava um pedaço da panqueca banhada em mel a minha boca, olhava minha mãe em pé na pia tomando apenas seu café me olhando fixamente

- Você está diferente Laura

Acabei de mastigar tranquilamente, engolindo logo em seguida o alimento totalmente triturado me virei para ela tomando um gole do suco laranja esperando que a mesma continuasse.

-Não sei o que aconteceu com você, e repito o que disse minutos atrás que Deus lhe conserve assim, vou trabalhar.

Minha mãe me deu um beijo na testa pegando sua bolsa na cadeira e saindo com um sorriso no rosto, não era a única pessoa nessa me sentindo melhor,  fiquei observando a porta fechar, mamãe sempre fora uma mulher forte, meu pai nos abandonou quando tinha acabado de fazer cinco anos, ela estava grávida de dois meses quando isso aconteceu, perdeu o bebê quando completou três meses de gestação, meu pai pagava pensão quando o senso de ter uma filha pairava sobre ele, tudo era para Ingrid minha meia irmã, fruto de uma traição, não tenho raiva dela mas não me peça pra gostar dela, não tem como a ver como irmã, quando meu pai só lembra da existência dela e abandonou nossa casa por ela e a mulher dele, e desde então é apenas mamãe e eu, ela sempre trabalhou e me impede que ajude com os gastos, ela quer que foque em meus estudos e realize meu sonhos que sempre apoiou, aperto os olhos ao ver que nem mesmo isso estou fazendo, já era para estar a um ano em alguma faculdade me tornando a musicista que ela esperava, meu peito doí  ao lembrar que ontem pela noite havia quebrado o violoncelo que ela havia feito um empréstimo para me dar de presente de quinze anos, fui até a janela olhando lixeira que ficava do lado de fora e o mesmo não estava ali, o caminhão que recolhe o lixo já devia ter passado, sou uma péssima filha, lágrimas brotam em meus olhos e olho para cima afim de evitar que rolem pela minha bochecha, estou cansada, sinto falta do Thomas, minha mãe me sofre ao ver que não supero e me culpo dia após dia desde o ocorrido, mas como superar quando sei que eu o matei? Maldita noite em que o obriguei a me levar naquela festa, era para ele estar aqui e não enterrado a sete palmos do chão, olho na parede da cozinha e começo colocar em prática meu trabalho de todo o dia, enrolo meu cabelo em um coque com os pés no chão  arrumo a cozinha, passo um pano, estendo as camas, aquele ritual básico de toda manhã em um casa onde mora duas mulheres organizadas, o cuckoo na parede anuncia que são nove horas e como se despertasse em minha mente, lembro que anônimo me espera, vou até meu quarto olho o notebook em cima da minha cama  dessa vez não recuo o ligo imediatamente, sinto minha alma pesada e quero conversar com alguém, não, preciso e  quero conversar com ele, quero me sentir leve, o mesmo apelido de ontem aparece na tela e clico vendo a sala entrar e lá está ele abaixo de três pessoas com o mesmo nome, tinha que ser ele, seria coincidência demais alguém usar o mesmo nick, antes que continue com meus esclarecimentos internos, três cores aparece na tela, verde era Eduardo42, azul era Bjunior, e roxo anônimo, clico na aba roxo e sorrio ver a constatação

-Anônimo para você: Que bom que pode entrar violoncelista  

-Você para anônimo: Como pode ter certeza que sou eu?

-Anônimo para você: Acabou de me dar certeza

Acabo que gargalho baixinho e bato a mão na testa havia me entregado legal

A conversa fluía tranquilamente, era quase onze horas, tinha almoço para fazer, a conversa estava agradável, descobrir que ele tem vinte dois anos, a única coisa do nome que ele me falou é que começava com J,  gostava de música e filmes, tem dois irmãos que não moram com ele, adora comer besteiras, apesar de ser controlado que seu trabalho não permite sempre sair da linha com alimentação, me perguntei se era alguma profissão com a academia, o único assunto que ele não gostava de falar era seu trabalho, quem sabe algum dia ele me fale, foi o que me disse.

Plim

Olhei na tela do computador ao ouvir minha notificação

-Anônimo para você: Não vai me dizer qual é seu nome violoncelista

-Você para anônimo:  L, como você fez comigo, começa com L

-Anônimo para você: Luana? Larissa? Laura?

-Você para anônimo: Fez o mesmo que fiz para você, só que o único nome que pensei foi João e Jurandir.

-Anônimo para você: E disse que não era nenhum dos dois, acha que me pareço com João? Jurandir?

Esses nomes eram para pessoas mais velhas, creio eu, e comecei a rir, será que estava conversando com um homem com idade para ser meu avô?

 -  Por acaso acertei nas escolhas com o nome L?

-Você para anônimo: Não vou te responder essa, tenho direito a um segredo, como você faz com seu trabalho

A conversa fluiu mais um pouco, ele disse se esvair aqui, que estava a dois meses tentando esquecer algo que o machucou, me espelhei nele, porém nenhum de nós quis comentar sobre, como ele disse não precisamos mexer na ferida que já está aberta

-Anônimo para você: Vamos jogar?

-Você para anônimo: jogar?

-Anônimo para você: Sim, vamos nos dar características, mas por fotos.

Olhei para a tela duvidosa

-Você para anônimo: Não vou te mandar uma foto minha nua ou seminua se é isso que está pensando

-Anônimo para você: Caralho, não é isso que pensei, pensa que sou um tarado, estuprador?

-Você para anônimo: Talvez sege

-Anônimo para você: você também pode querer ver meu belo corpo nu

Cai na gargalhada alto, coloquei a mão no teclado para digitar, ele foi mais rápido

-Anônimo para você: É a foto dos olhos, somente isso, aos poucos vamos nos descobrindo, nunca fiz isso aqui e nem poderia, mas você me inspira confiança

Quando acabei de ler minha tela foi coberta por uma imagem, dois olhos amendoados, pareciam como mel, abrir a boca em choque, era a coisa mais linda que já vi em toda minha vida.

-Você para anônimo: Seus olhos são lindos, não tem como competir com os seus, vou enviar os meus, ajustei a webcam, logo a foto estava sendo enviada esperei um pouco

-Anônimo para você: Seus olhos também são lindos, são azuis esverdeados, uma diferença que poucos podem ter.

Sorrir, ele acertou em cheio, eram poucas pessoas que acertavam, ou falavam azul ou verde, herança do meu pai, minha mãe tem os olhos escuros.

-Anônimo para você: L, agora te chamo assim, tenho que sair aqui o dever me chama, amanhã à noite nos vemos, lá pelas oito, estarei livre

Você para anônimo: Como sabe que vou entrar J?

-Anônimo para você: Eu sei que vai e você também, tchau

Vi seu logoff e suspirei fechando a tela do notebook, era verdade, nós dois sabíamos que entraria a paz floresceu dentro de mim novamente, Larissa iria amar saber disso, porém queria ter um segredo meu, somente meu.

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