tell me your secret

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Pov. Justin
1 mês depois

Olho a boca de Scooter abrir e fechar várias e várias vezes, porém não ouço nada, meus pensamentos estavam voltados para ela, para a violoncelista, a "L", um mês que estávamos conversando todos os dias, estou arriscando demais entrar no mesmo site, com o mesmo apelido, todo esse risco vale a pena para conversar com ela, de certa forma ela tem se tornado uma ótima amiga, ela me ouve e mesmo não sabendo quem eu sou, ela me aconselha, diz para fazer o que meu coração pedisse, não deixar ninguém me por limites, que sou humano, de certa forma ela chegou no que me afligia, sempre tenho pessoas a todo momento me impondo regras e esquecem que sou falho, ela sofre, sei que sim, tem dias que conversa comigo, mas a sinto distante me fazendo perceber o quão forte ela é, pois mesmo em seus dias ruins entra somente para alegrar meu dia ou noite, e neste momento ela deve estar me esperando, e eu estou aqui nessa maldita reunião que Scooter marcou em cima da hora para nós dois, se perco o contato com ela, Scooter seria o culpado que não pode esperar até amanhecer, entortei a boca num ato estressado

-Justin ouviu o que te disse? 

O olhei com minha melhor expressão de tédio que tenho no rosto.
-Não, eu não ouvi Scooter, só que nós dois já sabemos que sei seu discurso de trás para a frente.
-Tudo bem Justin, você tem as duas semanas que pediu de descanso, eu vou para casa e por favor se comporte filho, sei que está calmo e aceitou o que ouve a três meses atrás, mas me prometa que não vai atrás dela.

Me ajeitei sobre a cadeira que estou , endurecendo meu corpo, para que me lembrar constantemente sobre o ocorrido, eu já me conformei, ele sabe disso.
-Não aceitei, só me conformei, sei que não sou culpado, e não, não irei atrás, não quero nunca mais ver aquela mulher na minha frente.
- Que bom que entendeu, bom descanso e qualquer coisa me procure no celular que venho correndo.
Me levantei o abraçando, Scooter sempre me cuidou como um filho e me trata como um, me pux orelha quando preciso e me apoia quando necessário, olhei minha mala feita no canto e me jogo na cama do hotel que estou hospedado essa noite, rapidamente peguei meu notebook vendo que estava quarenta minutos atrasado, merda, ela, com certeza, deve ter saído, e não conseguirei mais contato com ela, loguei rapidamente, batucando meus dedos sobre minha perna, sorrir ao ver que  ela ainda está conectada, soltei o ar que nem havia percebido que segurava em uma espécie de alívio.
-Anônimo para Violoncelista: Desculpa, tive uma reunião de emergência por isso esse atraso enorme.
Esperei os quinze minutos mais longos de minha vida, até que a resposta veio na cor amarela.
-Violoncelista para você: Estava no banho, está tudo bem, acontece, fiquei com medo em fechar meu notebook e perder nosso contato.
-Você para violoncelista: temo que isso um dia aconteça, seria estranho não poder conversar com você diariamente.
-Violoncelista para você: Estive pensando, eu poderia reinstalar o WhatsApp e nós trocássemos números, acabava isso de não poder entrar e perder contato
Fechei minhas mãos em punhos, seria arriscado demais, estava sem saber o que fazer, queria isso, poder conversar a qualquer minuto, minha assessoria me mata se me expor assim, ela não sabe quem de fato sou, se contar ela será a mesma comigo? Ela se afastaria? Era tantas pergunta que se passavam em minha mente, pela primeira vez me senti com as mãos atadas
-Violoncelista para você: Oi, está aí?
- Você para violoncelista: estou, estava pensando em sua proposta
-Violoncelista para você: hum, mesmo um mês conversando, você não confia nem um pouco  em mim, poxa J, não sou nenhuma louca perturbada, apesar de as vezes parecer.
-Você para violoncelista: Não fique chateada, não é que não confie em você, existe certas regras que tenho que seguir.

Ela nada respondeu, porém algo me surpreendeu

-Violoncelista para você: Não sei quem é você de fato, não sabemos o que outro possa ser na verdade, de minha parte nunca menti para você, talvez escondi algum segredo ou outro, isso todo ser humano faz, estou cansada, tenho que ir dormir, segue meu número, se decidir me procurar sabe como me encontrar J, Boa noite.

Ela saiu sem ao menos me permitir despedir, hoje talvez seria um dos dias que ela não se encontra bem, o número dela ainda pairava sobre a tela, o anoitei rapidamente na minha mão pois a cada vez ele subia conforme conversas de outros usuários iam surgindo na tela, olhei os arquivos que já havíamos trocados, músicas que nos faz senti melhor, fotos dos olhos, boca, cor dos cabelos, tudo parece ser bem mais fácil com ela, me jogo sobre o colchão empurrando com o pé o notebook para o canto, meu celular está sobre o criado-mudo o peguei digitando os números, conforme ele ia aparecendo no visor meu coração acelera, o salvei como L, e rapidamente fui para o WhatsApp vendo que minha lista de contatos foi atualizada, e lá estava o L, não tinha foto, não podia ver a última vez que foi vista, estava com sua configuração de privacidade ativada, porque não, poderia fazer isso também, ao clicar na sua janela a tela estava em branco sem uma mísera palavra.

Estava me fodendo se estava me precipitando, mas não perderia contato com a pessoa que em fez tão bem no último mês, ela me ajudou, era minha vez de retribuir o favor, e foi com essa coragem que mandei a primeira palavra da noite.

-Oi, sou eu, anônimo ou J, como preferir, podemos conversar?

A resposta não veio, não sei se ela está dormindo, ou se apenas me ignora, peguei o edredom cobrindo minha cabeça completamente, a sensação de ser ignorado não é boa e não fico olhando a tela do celular de segundo a segundo apenas aumentando a confirmação que ela havia me ignorado pela primeira vez no último mês.

Pov. Laura

Olhava atentamente a capa vermelha do meu livro, o abrir vendo a flor que havia colocado ali para que secasse para a ter para sempre, ela está seca e seu vermelho era quase um preto, o livro tanto a flor fora presente de Thomas no nosso primeiro aniversário de namoro, a dedicatória está ali em letras engarnachadas e emboladas que poucas pessoas tinham compreensão, eu era umas das privilegiadas que conseguia entender.

“O seu amor me faz feliz, como quero que sejamos sempre assim, nos amando como se fosse a primeira vez! Tenha a certeza que se eu pudesse escolher alguém para amar em todo o mundo, escolheria você.

Desejo, com todo o meu coração, que este seja o primeiro ano de muitos para o resto de nossas vidas

Seu Thomas”

Limpei a lágrima teimosa, só não sabia que esse amor seria tão curto, muitos dizem que adolescentes não conhecem o verdadeiro amor, para mim, eles estão enganados, tive o amor mais puro, o mais avassalador e o mais intenso, não sei se algum dia poderei amar alguém novamente, acho difícil, se vier acontecer, não será como foi com Thomas, tenho certeza que seria um ardor mais brando, mais contido.

Encosto minha cabeça na parede fria, chorando mais descontroladamente, percebendo o quanto minha vida está na merda, em meios a tantos pensamentos negativos comigo mesma, percebi o quão mesquinho é o amor. Nós praticamente nos doamos para ele, damos o nosso melhor, para depois sermos retribuídos com a desgraça mais eminente, da qual não podemos obter nenhum controle, por que ela acaba com você antes mesmo de racionar algo coerente. Estou acabada.

Sinto meu celular vibrando, o pego vendo no visor ser ele, havia instalado acerca de minutos o app, não quero conversar com ninguém naquele momento, nem mesmo ele que me dá paz, o meu amigo virtual, o meu anônimo.

Soco repetidas vezes minha cabeça na parede como se aquilo fosse fazer aqueles pensamentos horríveis serem arrancados dali, olhava toda hora a mensagem recebida, meus dedos trêmulos digitaram uma única mensagem depois de horas lutando contra a dor eminente e a vontade de ter aquela paz, que só ele me faz sentir

- Faz parar de doer J, me ajude!

Com segundos a resposta foi me dada.

-Conte-me seu segredo.

E no calor do momento, no desespero de livrar um pouco desse peso, minha vida foi exposta a um completo estranho, estranho que estranhamente me faz me sentir bem.

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