2. Desculpa

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O primeiro impacto do veneno no meu corpo foi mental e emocional. Minha mente virou um ninho emaranhado de sentimentos e arrependimento, lembranças me atingiram como uma lufada de vento gelado, arrepiando cada parte do meu corpo.

Comecei a retroceder.

Pai.
— Filha, você tem que cuidar da sua mãe, — assenti — eu jamais deixaria vocês sozinhas. Mas não consigo controlar essa doença dentro de mim. Promete que você vai cuidar dela?

Eu tinha nove anos de idade quando o câncer me tirou o meu pai.

— Prometo — falei com a voz embargada.

Desculpa pai, não consegui. Falhei miseravelmente no quesito cumprir promessa.

Mãe.
— Agora somos só nós duas - ela disse quando chegamos em casa, após o sepultamento do meu pai. Lembro-me que eu só chorava e não conseguia dizer nada — Temos que ser fortes, minha filha.

Eu não consegui ser forte... desculpa mãe, não consegui.

Aaah, mãe. Como me doí te deixar sozinha. Você fez tanto por mim e olha só a única coisa que consegui fazer por mim mesma!

Namorado.
- Eu sei que é estranho falar em viver juntos para sempre, mas eu sinto que é isso que quero quando se trata de você, sabe Analu? — O Math perguntou. Ele estava tão tímido, que se tornava extremamente fofo.

Eu assenti e apertei a mão dele para que continuasse.

— Às vezes você é tão na sua e eu não sei o que se passa. Quero deixar claro que seja o que for, pode contar comigo. Eu quero cuidar de você e te fazer sorrir mais vezes... seu sorriso é tão lindo.

— Conseguiu me deixar com vergonha, Math — falei sentindo meu rosto queimar — para de enrolação e fala logo.

Ele respirou fundo e olhou nos meus olhos. Naquele momento eu enxerguei o amor.

— Quero te pedir em namoro. Estamos ficando há dois meses, e, eu quero poder andar de mãos dadas com você, quero poder te chamar de namorada e ter motivos para passar mais tempo ao seu lado. O que me diz? — ele ficou me olhando, enquanto eu ponderava - Sei que só temos quinze anos...

— Eu aceito.

Ele riu, enquanto fazia movimentos circulares com o polegar na minha mão.

— Namorar comigo inclui me assistir jogando aos domingos e eu sei que você odeia futebol.

— Eu aceito — falei com um sorriso enorme, ao mesmo tempo que ele me abraçava tão apertado que minha vontade era que aquele momento se eternizasse.

Depois de amanhã é domingo, Math.... eu queria tanto te ver jogar mais uma vez. Me desculpe, não consegui ser forte.

Olhando para trás e vendo tudo que deixei, me caiu a ficha de que eu fiz a pior escolha da vida. Me precipitei em dar um fim trágico aos meus dias melancólicos e sombrios. Pensei que havia atingido o meu limite, estava em completo torpor, uma bolha sem emoções. Caindo em um poço dilacerador de tédio.

Eu sei que precisava procurar por ajuda, gritar e tentar tomar outro rumo. Porém, na prática foi o oposto e eu deixei-me definhar. Gostaria de voltar atrás e procurar soluções positivas, sempre tem uma opção melhor e eu sinto-me péssima por não ter pensado assim antes.

Desculpa, não conseguiOnde histórias criam vida. Descubra agora