4. Fim

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Sim, eu cometi suicídio. Mas não pense que é o que eu queria. Eu disse no início o quanto sou confusa e, depois de tudo, estou ainda mais perdida na própria confusão que criei.

É claro que eu sei que cometer suicídio é, obviamente, se matar. Mas também sei que naquele momento eu só queria eliminar de qualquer maneira a dor e a angustia que a depressão estava me causando.

Tomei uma atitude impensável, fui precipitada, não pensei no que estava por vim.

Não vou mais poder acordar e ficar no celular fuxicando as redes sociais até sentir vontade de levantar. Não vou mais poder acordar cedo só para desejar bom dia ao meu namorado antes dele acordar. Eu gostava de ouvir música para relaxar enquanto a água quente do banho me fazia relaxar e, adivinha? Não vou poder mais.

Naquele momento em que meu corpo estava sem vida jogado no chão do banheiro, eu senti vontade de voltar e lutar contra a depressão. Eu queria vencer.

Naquele momento em que meu corpo estava sem vida jogado no chão, eu quis abraçar minha mãe e fazer ela parar de balançar a cabeça em negativo e de dizer aqueles intermináveis nãos. Se questionando desesperadamente, fechando e abrindo os olhos para se certificar se realmente era real. Eu vi ela enlouquecer de desespero e dor, e me odiei por fazê-la sofrer.

Naquele momento em que meu corpo estava sem vida jogado no chão, eu olhei para meu namorado que dava socos na parede, enquanto soluçava de tanto chorar. Eu quis abraçar ele e dizer que eu não havia morrido e que teríamos um lindo futuro juntos. Mas não foi possível.

Naquele momento em que meu corpo estava sem vida jogado no chão, eu corri até ele, tentei o sacudir e gritei para que eu mesma acordasse. Falei das dezenas de livros que ainda tinha para ler e da moça da lanchonete que perguntava se eu iria querer o açaí de sempre. Falei que eu nunca recusava bolo de chocolate e que tinha refrigerante na geladeira. Falei da faculdade que cursaria no próximo ano. Eu falei... e, eu mesma não ouvi.

A ambulância chegou, tentaram me reanimar. Ah, como eu queria que eles conseguissem! Mas, eu tinha razão quando tentei avisa a minha mãe... era tarde demais.

Descobri que queria viver, no momento em que eu não vivia mais.

Cheguei à conclusão de que cometer suicídio não é, necessariamente, querer morrer. É o desespero de eliminar a dor.

Eu morava bem ali naquele prédio da rua Becker. Sim, morava, no passado. Não moro mais.

Aliás, meu nome é Ana Luiza e eu tinha apenas 17 anos.

Desculpa, não conseguiWhere stories live. Discover now