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A porta de madeira envelhecida dividia não só os ambientes, mas no momento, as reações e sensações também.
De um lado, dentro da casa, uma reação de espanto. Uma imensa vontade de girar os calcanhares e voltar para a sala, fingir que ninguém havia tocado a campainha.
Maldita campainha.
Do outro lado, fora da casa, apenas curiosidade. Interesse em saber o que havia acontecido, o porquê de terem saído de sua festa tão apressadamente naquela noite.
A festa que acabou como qualquer outra festa sua. Reclamações de toda e qualquer pessoa que morava em um prédio próximo ao galpão, policiais intervindo na festa e pedindo à ele que colocasse um fim naquilo e depois quase ter sido levado para a delegacia por descobrirem o contrabando de drogas. Nada muito fora do habitual.
Ajeitou o lenço no rosto. Estava frio. Absurdamente frio. A chuva continuava intensa. O piso da varanda estava encharcado.
Torcia para haver alguém em casa.
Na verdade, sabia que havia alguém naquela casa. Viu as duas vans das gangues seguirem para essa direção e pararem na frente da casa. Torcia apenas que alguém decidisse abrir a porta.
Do lado de dentro da casa a expectativa era contrária. Era o desejo profundo daquela figura de casaco de náilon preto desaparecesse da varanda da sua casa.
Taehyung abriu um sorriso vitorioso quando viu o garoto bufar, encolher os ombros, e em seguida começar a andar em direção aos degraus que davam para o jardim.
Virou-se no objetivo de voltar para a sala com seu melhor sorriso fingido e encenar que nada havia acontecido. E procurar sua maleta de ferramentas para arrancar aquela campainha da parede o quanto antes.
Antes fosse isso do que o que aconteceu.
Já estava de costas para a porta. Deu o primeiro passo, se preparando para voltar para a sala. Quando seu pé descalço tocou o chão, as tábuas de madeira emitiram um ruído agudo o suficiente para ser ouvido do outro lado da porta. Trincou os dentes e fechou os olhos fortemente.
Taehyung ouviu o barulho.
E a única alma viva, vulgo Jay Park, que não precisava escutar aquele barulho, escutou-o com tanta precisão que voltou a andar em direção à porta.
Tocou novamente a campainha. Duas vezes seguidas e rápidas.
Mas decidiu inovar.
Chamou alto e claro:
-Alguém em casa?
Taehyung respirou fundo. Pensou se alguém havia escutado.
Ouviu outro barulho de passos vindos do corredor.
Irene.
Reuniu todo o autocontrole que tinha para demonstrar calma diante àquela situação.
-TaeTae, o que você tá fazendo? Quem está ali fora? - Apontou para porta atrás do garoto. Mantinha um semblante desconfiado no rosto.
-Eu - Alongou a palavra, procurando um complemento convincente. -Ainda não sei. - Falou rápido. -Estava indo atender a porta. - Abriu um sorriso forçado, ao mesmo tempo em que trancava o maxilar.
Irene murmurou algo como "Hm" e andou em direção a porta, desviando do garoto e pondo a mão na maçaneta. Girou a tranca com a outra mão e abriu a porta. Deu de cara com o garoto do lenço xadrez preto e cinza no rosto.
-Jay Park! - A garota pronunciou com um sorriso.
-Irene! - Exclamou. Seu sorriso estava coberto pelo lenço, mas os olhos do garoto, sempre que sorria, semi-fechavam. Eye smile. Era impossível disfarçar o sorriso.
-Essa casa é sua? - O garoto perguntou, puxando para baixo o lenço.
-Não. É do V. - Apontou com o polegar para o garoto atrás de si.
-Taehyung! Que bom te ver! - Parou um momento e olhou em volta. - Que casa grande, cara!
-É. - Murmurou entredentes.
-Posso entrar?
-Claro. - Sorriu forçado, ao mesmo tempo em que fuzilava o garoto com os olhos discretamente.
-O que veio fazer aqui? - Irene se colocou no meio da conversa.
-Queria saber o que aconteceu para vocês terem saído da minha festa tão de repente naquele dia. - Já tinha a resposta pronta. Havia a repassado, ensaiado e modificado durante todo o trajeto até a casa de Taehyung. Decidiu seguir as vans, que andavam consideravelmente devagar por causa da chuva, quando as viu passar pelo centro da cidade. Não queria mais esperar por uma resposta. Não pensou também que começaria a chover tão forte. Foi uma decisão extremamente impulsiva, mas estava satisfeito por ter dado certo. Parte dela, pelo menos.
-É uma longa história. - Irene falou. -Vem, o pessoal tá lá na sala. - Puxou o braço do garoto, guiando-o até o outro cômodo.
Taehyung ficou parado frente à porta aberta. Olhava para a cena com uma expressão de puro desgosto.
-Estou atrapalhando o casalzinho? - Afinou a voz, revirando os olhos. Falou para si mesmo, consideravelmente baixo. Fechou a porta com mais força do que o necessário, fazendo um barulho alto.
Quase todos estavam na sala. Angelica ainda estava no quarto. Seulgi havia ido até lá para verificar se estava tudo bem. Viu que ela dormia. Quase levou um tapa quando tentou acordá-la.
Jin havia subido para a sala. Assistia Jungkook e Jimin jogarem, agora, um jogo de luta. Jogavam um contra o outro. O mesmo jogo que Taehyung e Wendy estavam jogando.
Porém dessa vez a luta corria sem uma aposta pairando o ar.
Irene entrou na sala acompanhada do garoto. Olhares surpresos se fixaram nele.
-O que faz aqui? - Joy perguntou. Estava olhando-o de cabeça para baixo, já que estava deitada no sofá e apenas olhou em direção ao arco de madeira que dividia o corredor e a sala.
Jay Park desistiu da resposta já inventada. Não era de reutilizar palavras.
-Vim atrás de respostas. - Se sentou no braço do sofá. Seguido de Irene, que não se deu o trabalho de analisar se o sofá estava vago. Apenas virou de costas e se jogou. Só notou que havia alguém ali quando não sentiu o tecido macio do sofá e ouviu um grito histérico.
-AI, IRENE! SAI DE CIMA DE MIM! - Yeri praguejou, empurrando a garota para o lado, que caiu deitada no chão, fazendo um barulho oco no chão de cerâmica que imitava madeira escura.
-Descuuulpe, não te vi aí. - Comentou rindo, enquanto massageava o cotovelo que sofreu o primeiro impacto contra o chão.
Várias risadas foram ouvidas. A risada de Wendy se destacava das outras. Ria histericamente, enquanto abraçava a própria barriga.
Até Jin se permitiu rir da situação.
Taehyung chegou a tempo de ver o momento cômico.
Jungkook havia pausado o jogo e começado a rir. Na tela, a vida de seu jogador estava baixíssima. Pausou o jogo bem na hora em que Jimin iria dar o golpe final.
-Idiota, por que pausou o jogo? Eu ia ganhar!
Jay Park havia se esquecido de seu objetivo inicial, o que o fez andar embaixo de chuva até aquela casa. Havia acabado de desencadear outro assunto:
-Então, Seulgi... - Olhou para a garota. -Quando você e o Jimin vão assumir um relacionamento?
-O quê? - Ela retrucou no mesmo instante.
-Ora, achei que vocês namoravam ou algo assim pelo jeito que vocês estavam próximos durante a festa.
-O quê? - Foi a vez do Jimin de perguntar.
-É, você ficou abraçando ela durante boa parte da festa.
-Eu fiz isso? - Jimin sussurrou, olhando para Jungkook, que assentiu com a cabeça, segurando o riso.
Olhou para Seulgi, que cobria o rosto com uma das mãos, escondendo o rubor em suas bochechas.
-Eu estava bêbado! Não sabia o que estava fazendo. - Exclamou, na defensiva.
-Não sei... Ainda acho que tem alguma coisa que vocês estão escondendo da gente. - Jay brincou.
Um quase silêncio permaneceu por alguns segundos, atrapalhado por risadas baixas de Jungkook, depois que viu o amigo espantado com a afirmação que ouvira agora a pouco.
-Como você não me viu? - Yeri quebrou o quase-silêncio. Olhou para Irene, incrédula. -Eu estou usando uma blusa rosa-choque, Irene. - Apontou para a blusa escrito "RAINBOW" e em baixo o desenho de um arco-íris desbotado.
-Não me julgue. - Irene se levantou do chão, cruzando os braços.
-Que tipo de informações você veio atrás? - Joy perguntou, se dirigindo à Jay Park. Estava com essa dúvida desde que ele anunciou seu objetivo indo ali de madrugada.
-Queria saber o porquê de vocês terem saído tão de repente da minha festa. Não estava tão ruim assim! - Dramatizou, fingindo tristeza e colocando a mão sobre o peito.
Indecisão apenas.
Ninguém ali sabia o que, ou queria, responder.
Taehyung respirou fundo. Ainda estava escorado no arco de madeira, de braços cruzados. Queria que Jay saísse o quanto antes dali. Não sabia o motivo exato. Não sabia se era porque odiava o fato dele e Irene serem tão próximos, se era porque sua mente já estava uma desordem completa e a presença dele ali relembrando coisas que queria esquecer não ajudava em nada, ou se era apenas mal-humor por estar com sono.
As três alternativas juntas.
Decidiu explicar ele mesmo.
-Tivemos uns problemas com contrabandistas. - Resumiu o acontecido o máximo possível.
-Que tipo de problemas? - O garoto ficou repentinamente curioso.
-Atrasamos o pagamento e eles foram atrás da gente. - Respondeu breve. Rezava para que ninguém citasse que ele foi a causa do atraso do pagamento.
-O que aconteceu para vocês atrasarem o pagamento? Vocês não são disso... - Tombou a cabeça para o lado, desconfiado.
Yoongi abriu a boca para responder. Olhou para Taehyung, que lhe encarava desde o término da frase de Jay. Seus olhos imploravam, mesmo que discretamente, que não contasse o motivo. Pensou um pouco qual seria a melhor decisão. Decidiu atender ao pedido do garoto. Taehyung já havia pago pelo erro.
E agora lhe devia um favor.
Além de que não estava com a mínima vontade de prosseguir uma conversa sobre o que aconteceu.
-Esses são problemas nossos. Não te devemos nenhuma explicação. - Virou o rosto, fitando Jay com desinteresse. Deixou Wendy com a mão erguida no ar, já que a mesma estava limpando o machucado em seu olho. A garota o fuzilou com os olhos. Segurou seu rosto e o virou para ela novamente. Voltou a limpar seu machucado. Yoongi resmungou baixo.
Jay fingiu surpresa. Uma resposta assim não era inesperada.
-Tudo bem, tudo bem, não pergunto mais. - Ergueu as mãos no ar, num sinal de rendição.
-Por que veio aqui a essa hora? - Taehyung perguntou. Não lhe agradava estender a conversa, mas ele lhe devia explicações do porquê de ter ido à sua casa àquela hora da madrugada.
-Eu já disse, não? - Sorriu de canto, satisfeito por poder retrucar.
O outro garoto revirou os olhos.
-Mas por que de madrugada? Não dava para esperar até de tarde?
-Claro que dava. Mas eu não queria mais esperar. - Deu um olhar panorâmico pela sala. -Não estou atrapalhando, estou?
Taehyung cerrou os dentes discretamente. Não respondeu o garoto. E aquela pergunta aparentemente retórica soou como uma provocação.
-E veio em baixo de chuva? - Irene falou. -Você não tem um carro?
-Tenho. Só que tá na oficina.
-Por quê?
-Uns caras se vingaram de mim por causa de terem perdido um racha. - Deu uma pausa, parecia se lembrar, e ao mesmo tempo se lamentar, do que aconteceu. -Eles acabaram com meu carro.
-Tá de brincadeira?! - Jimin exclamou. -Aquela BMW?
Jay assentiu, evidentemente triste.
Nesse momento Jungkook ergueu os braços no ar, com uma mão segurando o controle. Aproveitou a distração para dar o golpe final no lutador do garoto. E Jimin não percebeu.
-E eu nem pude dar uma volta com ela... - Jimin se lamentou, falando para si mesmo.
-Como se eu fosse deixar.  -Jay riu soprado.
-Você nem carteira de motorista tem. - Jungkook o provocou.
No momento em que Jimin olhou para Jungkook, percebeu de relance a tela da TV piscando "GAME OVER" no seu lado da tela.
-Ei! Isso não vale! - Socou o braço de Jungkook, que não desfez o sorriso vitorioso no rosto.
Jin observava tudo. Conseguia analisar as situações e, de cara, descobrir algumas das intrigas entre todos ali. Como a rivalidade de Taehyung e Jay.
Sua capacidade de dedução sempre foi impecável, era o que ele dizia.
Jay passou os olhos pela sala novamente. Procurava algum assunto. Não estava com a menor vontade de voltar andando para seu apartamento debaixo daquela chuva que parecia que não iria diminuir nunca. Seus olhos pousaram no garoto de cabelos verde-água. No mesmo instante lembrou de algo.
-Yoongi, quando você vai vender aquelas armas?
O garoto demorou para assimilar a pergunta. Pareceu surpreso com a pergunta repentina.
-Quê? - Queria garantir que ouviu direito. Sequer moveu o rosto. Wendy agora passava algum tipo de pomada no machucado ao redor de seu olho. Não sabia o que era aquilo, sabia apenas que ardia.
-Vender as armas que você monta. O cara da oficina fica me pedindo pra falar com você.
-Vou pensar no assunto.
-Por favor! O cara não vai parar de me cobrar até que você venda aquelas armas.
"Venda de armas também?" Jin pensou, "Em que mais eles estão envolvidos?"
Yoongi sorriu satisfeito. Era engraçado como as situações estavam à seu favor naquele dia. Era satisfatório como podia definir situações diferentes com apenas um "sim" ou "não". Assim como decidiu atender o pedido de Taehyung, pensava se faria o mesmo por Jay.
-Já disse, vou pensar no assunto.
O garoto suspirou, derrotado. Teria de continuar aguentando a cobrança semanal do dono da oficina.
-Já terminou o que tinha que fazer aqui? - Taehyung se pronunciou, almejando o momento em que poderia empurrá-lo para fora de sua casa.
-Acho que sim. - Disse desanimado. Se levantou, e saiu andando até onde estava Taehyung. Parou subitamente. Virou o rosto. -Irene. - Chamou-a. -Quer sair comigo hoje à noite?
A garota sorriu.
-Claro. - Respondeu prontamente.
Aquilo foi demais para Taehyung.
Jay se virou para ele e abriu um sorriso de canto, descaradamente zombando dele.
-Até mais, pessoal. - Acenou de costas para as pessoas na sala. Não esperou que o garoto lhe acompanhasse até a porta de saída. Apenas abriu a tranca, girou a maçaneta, colocou o lenço no rosto e saiu.
Taehyung passou as mãos pelos cabelos, passando a apoiá-las na nuca. Bufou.
Daquele momento em diante, Jay Park estava em sua lista negra.
Trancou a porta, dessa vez com chave e subiu para os quartos.
Só queria dormir.
Subiu a escada pisando forte, o que deixou claramente que estava estressado e estava subindo os degraus. Conseguiram ouvir da sala.
Yeri aproximou-se de Wendy, cochichando em seu ouvido:
-Ainda prefiro a Irene e o Tae juntos.
Wendy assentiu.
Bateram as palmas das mãos discretamente, num cumprimento.
Wendy desviou o olhar para Yoongi, que estava de olhos fechados, esperando ela terminar de passar a pomada.
-Do que ele estava falando? - Perguntou.
-Ahn? - Abriu os olhos depois de alguns segundos, mirando-a confuso.
-Jay. Do que o Jay estava falando?
Ele continuou com a olhá-la sem fazer a mínima ideia de onde ela queria chegar com aquela frase. Também não fazia o mínimo esforço para entender.
-O que é essa "venda de armas" que o Jay falou? - Simplificou da melhor maneira que conseguiu.
-Ah... Já me viu montando armas, certo? - Wendy assentiu. -Então, eu costumava vender pra esse cara que o Jay comentou. - Contraiu os lábios. Sua expressão era de puro desinteresse.
A garota o olhou, como que se esperasse a continuação da frase.
-Eu estou falando a verdade, okay?  - Aumentou o timbre da voz, falando da forma mais convincente que conseguia. Não estava mentindo.
Talvez as pessoas não acreditem quando a história é curta demais. De fato, nem sempre a verdade parece ser verdade.
-E por que parou? - Wendy perguntou. Já havia terminado de cuidar do machucado em volta do olho do garoto. Parecia mais satisfeita depois de ter feito isso. Achava que era o mínimo que podia fazer por ele, lembrando do motivo dele ter ganhado aquele hematoma.
Ele deu de ombros em resposta.
-Não sei. - Olhou para ela. -Não quis mais, acho. - Voltou a encarar uma pintura na parede oposta ao sofá onde estava. Na pintura havia um porto da época das Grandes Navegações, onde, de uma caravela, vários homens descarregavam diversos produtos que não era possível identificar por serem pequenos detalhes e o garoto estar longe do quadro.
-Isso foi antes de começarmos com esse contrabando de drogas. - Voltou o olhar para ela. Mais especificamente para seu cabelo. Observava as mechas azuis pintadas e pensava em como devia ser trabalhoso fazer aquilo. Percebeu que havia se dispersado no meio da sua fala. -Depois disso, não vi mais necessidade de continuar vendendo armas. - Finalizou sua explicação, se dando conta de que falou olhando para as mechas azuis do cabelo dela.
-E por que não volta a fazer isso?
O garoto pareceu considerar a opinião dela, mas não respondeu. Olhou para o lado, para o sofá do outro lado do tapete listrado. A garota de cabelo rosa fazia um coração com as mãos, enquanto observava através dele com um dos olhos.
Yoongi colocou uma expressão confusa no rosto.
Yeri percebeu que havia sido descoberta. E decidiu provocar:
-Cabe perfeitamente.
-O quê? - Wendy perguntou.
-Você dois.
Wendy riu baixo, enquanto Yoongi negava com a cabeça.
-Posso considerar a sugestão. - Dirigiu a frase à Wendy, torcendo para Yeri não entender errado e achar que ele havia concordado com o que ela disse.
Wendy sorriu. Logo mudando a expressão e olhando para Jimin e Jungkook jogando o mesmo jogo de antes. Pulou para o assento da borda do sofá, ao lado de Jin.
-Eu vou jogar no lugar de quem perder essa rodada. - Ordenou, passando a observar o jogo. Olhou para o lado, vendo Jin concentrado na tela da TV. -Sabe jogar isso? - Perguntou para ele.
-Mais ou menos. - Disse, ainda que meio inseguro.
Wendy sorriu maldosa.
-Que tal ser meu adversário na próxima rodada?
-Está bem... - Concordou, com um extremo receio do que estaria por vir. Ela parecia planejar algo por trás daquele convite.
Quando a partida dos dois terminou, Wendy praticamente roubou os dois controles, ignorando as reclamações e entregando um controle para Jin, enquanto ficava com um em mãos.
A rodada iniciou. O garoto não era muito fã de jogos assim, pouco jogava. Começou perdendo.
-Você não é de falar muito, né? - Wendy comentou, enquanto fazia uma combinação com os botões que tirou boa parte da vida do personagem de Jin. -Só fica observando todo mundo.
-É um hábito. - "É por causa da minha carreira de detetive" completou mentalmente. -Mas às vezes é bom observar. - Sorriu de canto. Pressionou quatro botões em sequência, conseguindo dar um golpe que quase finalizou a rodada. -Você aprende assim, sabia? - Olhou para ela sorrindo. Viu que a garota olhava espantada para a TV.
Pouco depois a partida terminou com o resultado já esperado: Wendy saiu vencedora. Jin não parecia triste, já sabia de sua sina desde que pegou no controle.
-Nem tive como perguntar... Você está bem? - Disse, olhando para a garota. Suspeitava que a resposta fosse positiva, mas queria confirmar. Ainda estava preocupado com o estado de Yoongi e Wendy, apesar de parecerem bem, não haviam falado sobre o que passaram.
-Como assim? - Ela perguntou, pondo uma mecha azul atrás de sua orelha. Seu cabelo estava molhado, assim como o de Yoongi.
Jin não respondeu. É comum as pessoas responderem algo automaticamente quando não ouvem claramente a pergunta. Basta alguns segundos para assimilarem e responderem. E, como ele queria, ela respondeu:
-Estou bem. Mas, por que pergunta?
-Fiquei preocupado.
Wendy franziu o cenho, um pouco confusa. Não conseguia movimentar apenas uma sobrancelha, para sua infelicidade.
-O que foi? - Ele questionou, depois de perceber que fazia um bom tempo que ela lhe encarava.
-Nada. Só é... estranho.
-Estranho?
-É. Você se preocupar com a gente mesmo não nos conhecendo muito. - Deu uma pausa. -Nada contra. - Riu soprado, erguendo as mãos no ar.
Wendy decidiu continuar.
-Por que perguntou aquilo?
-Vocês não falaram muito sobre o que aconteceu.
Yoongi estava ouvindo a conversa, já que estava deitado no sofá próximo. Decidiu falar:
-Quer detalhes? Nós fomos colocados num porta-malas minúsculo, - Falava e ao mesmo tempo contava nos dedos. -levados pra um galpão no meio do nada, depois nos levaram para aquele porão imundo, depois vocês nos acharam, fim da história. Feliz agora?
-Yoongi... - Wendy o repreendeu baixo.
-Apenas falei a verdade.
Jin se sentiu um pouco culpado pelo o que aconteceu e por ter perguntado. Não pode, em momento algum ajudar os dois.
Se perguntava do porquê estar se preocupando com aquelas pessoas.
"São gangues. São apenas gangues problemáticas." repetia para si mesmo.
Decidiu sair da sala e ir para o porão. Havia encontrado um jogo de xadrez lá.

BAD THINGSWhere stories live. Discover now