O Velório - Parte I

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          O advogado Jorge Fontana, sentado à sua mesa no escritório da empresa de advocacia Fontana Lobo, olhava a correspondência recém-chegada. Entre as contas a pagar, políticos pedindo votos, correspondência da Ordem dos Advogados e um telegrama com a denominação "urgente". Deu-lhe prioridade, deixando os demais envelopes de lado. Abriu-o, espantando-se com seu conteúdo. Levantou-se, dirigindo-se à sala de seu sócio e amigo, Bruno Pereira de Souza Lobo. Estendeu-lhe o telegrama:

          — Bruno, leia isto aqui.

          Os olhos azuis de Bruno percorreram rapidamente o texto. Arregalaram-se:

          — Quê? Robson Guedes, morto?

          — É o que diz aí.

          Bruno releu o pequeno texto, em voz alta:

          — "Comunicamos morte. Robson Guedes. Comparecer velório. Residência.Hoje à noite". Que brincadeira é esta?

          — Parece uma brincadeira mesmo. Quem, em sã consciência, convocaria alguém para um velório através de um telegrama? Vamos ligar para o Robson agora mesmo.

          Robson Guedes era cliente da Fontana Lobo. A Fontana Lobo iria cuidar de seu divórcio. Seu assistente atendeu de pronto:

          — Pois não?

          — Boa tarde. Aqui é Jorge Fontana, da Fontana Lobo. Gostaria de falar com o Robson.

          — Infelizmente ele não poderá atender, senhor. Aliás, nunca mais poderá fazer isto.

          — Nunca mais? Então é verdade que ele morreu? 

          — O senhor não recebeu o telegrama?

          — Recebi! E custo a acreditar no que está escrito.

          — Pois acredite!

          — Então é verdade... O Robson está morto!

          — Está. Morreu ontem à noite, de infarto fulminante.

          — Infarto? Mas ele era um verdadeiro atleta.

          — Até os atletas morrem, senhor.

          — E de quem foi a ideia de enviar este telegrama?

          — Foi minha.

          — Bastava telefonar.

          — O patrão gostava de um toque de mistério, o senhor sabe.

          — Sem dúvida que sei!

          — O senhor vem?

          — Ao velório?

          — Sim, ao velório. Onde mais?

          — Bem, vou sim. Vamos passar por aí, eu e meu sócio.

          — Muito obrigado. O meu patrão ficaria muito feliz com a presença de vocês, se pudesse saber dela, é claro.

           Jorge colocou o fone no gancho.

          — Bruno, este secretário do Robson...

          — Assistente.

          — Que seja. Me pareceu agora um mordomo saído dos livros de terror. E já conversei com ele antes. Nunca usou esse tom de voz lúgubre.

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