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Camila

Pensei que houvesse uma barreira, algo que tornasse o prazer e a humilhação coisas completamente diferentes. E há. Claro que há. Mas não exatamente nisso. Não nessa coisa de BDSM. É humilhante andar ajoelhada até alguém e implorar mentalmente por satisfação sexual. Eu quase pronunciei, quase, por muito pouco não pedi que continuasse e me fizesse ter um orgasmo bem ali, de quatro na sua frente. 

- Não consegue dormir? - após um tempo, ela pergunta. 

- Pensei que já havia dormido. - digo, virando para ficar de frente para ela. 

- Só um pouco. - Lauren pronuncia. 

- Estou confusa. Foi frustrante e... Bom ao mesmo tempo. - confesso. Ouço seu respirar profundo. 

- A frustração é um dos sentimentos mais comuns para submissas, acredite. Você nem sempre terá o que quer, apenas quando eu achar que você deve ter. 

- Isso não é nada justo. Por que você pode ter o que quer de mim e eu não? - pergunto. 

- Porque sou sua dona. - ela diz, seu tom é comum, mas o sentido da frase consegue me arrepiar até a nuca. Engulo a saliva. - Você vai começar a compreender, prometo. Deve me deixar saber o que te incomoda para que eu consiga te ajudar a entender. - sinto seu toque suave em minha face e acabo fechando os olhos. 

- Não sei se vou conseguir me acostumar. Isso é tão possessivo e objetificante. - digo. 

- Não gosta quando digo que você é minha? Gosto que seja. 

- Eu gosto. - confesso e sinto meu coração batendo loucamente. 

- Sou tanto sua quanto você é minha, não esqueça. - Lauren fala, levando suas carícias para meu pescoço. 

- Sei que tem noção do quão sedutora é. - digo.

- Sei perfeitamente, mas não estou tentando seduzi-la. São apenas fatos ditos em voz alta, Camz. Precisamos dormir, ficará muito cansada amanhã na aula. - ela diz, passando a mexer no meu cabelo. Fecho os olhos e me permito relaxar. 

Acordo no dia seguinte com a cama vazia. Ainda está cedo, observo no visor do celular aceso. Devagar, esfrego os pés pelo cobertor macio e respiro fundo. 

Meu telefone toca. 

- Oi. - atendo sem ler o identificador de chamadas. 

- Desculpa, te acordei? - Harry pergunta. Sento rapidamente. 

- Não. - digo, após uns instantes. 

- Ainda bem. Então... Você está bem? Bom dia, aliás. 

- Bom dia. Tô bem. Tô legal e você? - pergunto, começando a roer as unhas. 

- Tô bem. Olha, sei que você está brava comigo, que a gente não tá legal, mas será que dá pra gente se encontrar e conversar melhor? - Harry pede. Há três tipos de pessoas quando se trata de términos de relacionamento: as que ficam tranquilas e encaram o término de forma madura; as que surtam e não aceitam e as que desaparecem para sofrer sozinhas. E eu nunca imaginei que ele fosse ser esse segundo. 

- Terminamos Harry. 

- Eu sei e só estou pedindo pra gente conversar, acho que mereço isso, não? - diz ele. Engulo e saio da cama. Fico de pé, encarando o nada, pensando na melhor forma de botar uma pedra em cima desse assunto de uma vez sem acabar causando outro tipo de surto nele. 

- Preciso que você respeite esse término, que você respeite o meu espaço. Você consegue fazer isso? 

- Droga, Camila. Só estou pedindo a porcaria de uma conversa cara a cara. Será que se tornou tão difícil assim até ficar perto de mim? - a voz dele se altera, posso ouvir sua respiração acelerada próxima do aparelho. 

- Por favor, não me coloque nesta posição. Você não tem esse direito. 

- Tá legal, desculpa te incomodar. - ele finaliza a ligação. Olho para o visor e solto o ar pesado, deixando meus ombros caírem. 

Tomo um banho e vou para a cozinha. Lauren está na mesa, mexendo em seu notebook com uns livros abertos. Tem os cabelos presos num coque no topo da cabeça, os óculos de grau levemente caídos e uma caneta entre os dedos. 

- Tudo bem? - ela pergunta, olhando-me de forma intensa. 

- Tudo, só acordei de mau jeito. - minto, pegando uma xícara. Ainda sinto seu olhar em minhas costas. 

Lauren

Após o almoço, fui numas lojas comprar umas coisas. Estava sozinha, dei uma fugida entre uma aula e outra. Estava quase alcançando meu carro quando fui puxada pelo braço. 

- Será que a gente pode conversar? 

- Como vai Barry? Melhor tirar sua pata do meu braço se não quiser se machucar. - digo e ela me solta. 

- É Harry. 

- Entendi. - digo, encarando sua imagem alta e nada agradável aos meus olhos. 

- Será que podemos sentar um pouco? Te pago um café. - ele oferece, apontando para a cafeteria do outro lado da rua. Encaro o local pouco movimentado por causa do horário e cogito seriamente a ideia.

- Claro. - confirmo, atravessamos a rua e ocupamos uma das mesas mais reservadas. - Não vou querer nada. - digo, quando a garçonete se aproxima. 

- Um café simples, por favor. - ele pede e espera que a funcionária se afaste. 

- O que quer, garoto? - simples, pergunto.

- Quanto você quer para se afastar da minha namorada? - ele é direto. Observo suas mãos nervosas que não param de mexer num guardanapo. 

- Não quero absolutamente para me afastar da sua ex-namorada. Camila é uma mulher em perfeita razão e sã consciência, pode livremente decidir quem quer e quem não quer na vida dela. - mantenho o tom ameno. 

- Vamos lá, diga um valor. Diga de uma vez o que quer pra sumir das nossas vidas. 

- Poupe seu dinheiro comigo, garoto. Gosto de onde estou e garanto que não vou a lugar nenhum. Deveria parar com essa perseguiçãozinha, aceitar de uma vez que ela não te quer mais e guardar o que te resta de dignidade. 

- O que foi que você fez, hein? Você... Você fez a cabeça dela contra mim? Você a seduziu para que terminasse comigo? - ele pergunta. Meu riso foi natural. Cruzo as pernas e nego com a cabeça. 

- Você tem problemas, problemas graves. Procure ajuda, um psicólogo, um psiquiatra, um padre, sei lá. Você não está em seu melhor estado mental, qualquer um consegue ver isso. Faça um favor a si mesmo, afaste-se dela, deixe que ela viva em paz, que siga em frente da forma que preferir e foque em você mesmo. - finalizo, ficando de pé e saindo do estabelecimento. Alcanço meu carro e olho para o outro lado da rua, conseguindo enxergá-lo através das janelas de vidro ainda no mesmo lugar. 

De um idiota grudento para um stalker, ótimo. Pressiono as mãos no volante, parando num sinal já perto do campus da universidade. Isso não está me cheirando nada bem e vou tomar todas as precauções antes que isso fique pior. 

* * *

Finalizando por aqui... Barry só faz merda, hein? 


Gostos Peculiares - REESCREVENDOOnde histórias criam vida. Descubra agora