CAPÍTULO 9 - A TRAGÉDIA DA MANSÃO GRIPLEN

1K 84 255
                                    


O Reverendo Arthur Bichop residia numa pequena casa a poucos metros da igreja, e naquela mesma tarde elas bateram em sua porta. Ao ver as duas sozinhas, e não achando prudente recebê-las em sua própria casa, mesmo sendo seu tutor, ele as conduziu até a igreja.

Ao entrarem no templo, as duas sentiram um arrepio desconfortável varrer seus corpos. Parecia um sacrilégio entrarem naquele lugar santo depois de terem estado sob o efeito de magia. Sobretudo, sendo a razão de estarem ali justamente o desejo de desvendar o mistério sobre a magia das noites anteriores.

O Reverendo Bichop as conduziu por uma porta atrás do altar a uma pequena secretaria, e se sentou atrás de uma mesa de cedro, apontando as cadeiras à sua frente para as duas irmãs. Susan foi a primeira a se aproximar, receosa. Julgou que seria menos constrangedor ser ela a dirigir as perguntas ao pastor, uma vez que ele não sabia que ela também estivera acometida pelas mesmas perturbações que Anne vinha apresentando desde o início de março.

– Em primeiro lugar – começou Susan –, gostaria de lhe pedir encarecidamente que esta conversa seja mantida em absoluto sigilo.

O Reverendo analisou a expressão no rosto da garota, com alguma confusão no olhar. Talvez estivesse se perguntando se ela havia revelado à irmã seus planos de trancá-la no sanatório até que os sintomas da peste desaparecessem. Era evidente na expressão de Bichop que ele já se sentia culpado por uma traição que ainda sequer havia cometido. Mas como Susan se mostrou muito decidida no que estava pedindo, ele aquiesceu brevemente.

Ela fez uma pausa para organizar as palavras no pensamento, e então prosseguiu:

– Eu queria lhe perguntar o que o senhor sabe a respeito da mansão que jaz nas profundezas do mar que banha esta cidade?

O Reverendo suspirou e estendeu o silêncio por um instante.

– Por que está me perguntando isso, minha filha? – quis saber o religioso.

– Minha irmã e eu estivemos na mansão noite passada, e também na anterior – revelou Susan, hesitante, e com a voz trêmula.

Arthur Bichop franziu o cenho e cobriu o rosto com uma das mãos, preocupado. Susan se sentiu constrangida por continuar a encará-lo, temendo permitir que seu olhar pousasse por muito tempo sobre a horrível queimadura que havia na mão do Reverendo. Era uma marca estranha, que fazia lembrar um S ou um N, como se em algum momento no passado, alguém tivesse tentado marcá-lo com um ferro em brasa. Ela sabia que ele se envergonhava daquela marca, e normalmente tentava mantê-la longe da vista das pessoas, mas a gravidade do assunto pareceu despi-lo momentaneamente dessas reservas.

– Como ela foi parar lá embaixo? – insistiu Susan, a respeito da mansão.

O Reverendo hesitou um instante.

– Como chegaram à mansão? – perguntou, em lugar de responder.

Susan suspirou e buscou organizar suas lembranças de modo que não parecesse uma grande loucura.

– Anne e eu caímos do penhasco e afundamos. – Era praticamente verdade. Na primeira noite, Anne se jogou e Susan caiu tentando salvá-la. – A lua brilhou acima do telhado da mansão e nós nadamos até lá. Parece conservada demais para uma casa submersa.

O Reverendo ficou em silêncio ainda um tempo, digerindo as palavras dela. Espreitou o rosto de Anne ao lado da irmã. A garota ficou o tempo todo calada e com os olhos baixos, fitando as mãos quietas, apoiadas no colo.

– Nós encontramos alguma referência histórica sobre a mansão ter pertencido à família Griplen – arriscou Susan, quando o silêncio de Bichop pareceu extenso demais. – Nunca tinha ouvido falar deles.

As Noivas de Robert Griplen - Parte 1 - MaldiçãoWhere stories live. Discover now