CAPÍTULO 10 - O DIÁRIO DE ROBERT GRIPLEN

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Ao passarem pelas grandes portas da entrada da igreja, as irmãs Dawson ouviram uma voz rouca e velha grasnar de longe:

– Ela foi tocada! Ela foi tocada!

Susan olhou na direção da voz, e viu Norma Sofer, a louca, caída sobre os quadris na calçada do outro lado da praça, com a mão estendida, apontando para Anne.

Que destino horrível tivera a Sra. Sofer, Susan pensou várias vezes ao longo dos anos. Não tinha muitas lembranças de quando a filha dela era viva, mas lembrava vagamente de que a beleza de Norma era invejável, como a de Lizbet também fora. No entanto, agora, sua aparência era absolutamente repugnante: usava sempre as mesmas vestes esgarçadas e sebosas, o cabelo grisalho e desgrenhado caía ao redor de seus ombros como fios de palha, o rosto estava sempre coberto de fuligem, e os dentes que lhe restavam estavam completamente podres. Era difícil não sentir pena ao olhar para aquela mulher, outrora tão rica, vivendo pelas ruas como uma mendiga.

Não era incomum o aspecto daquela mulher causar medo. Susan imaginou algumas vezes que aquela bem poderia ser a aparência exata das bruxas que a cidade inteira caçou cento e cinquenta anos atrás.

Mas além da aparência, a louca também era uma mulher hostil: sempre apontando o dedo para alguém, fazendo acusações ou predições agourentas. E ela ficava particularmente insuportável no mês de março, quando repetia exaustivamente as palavras que Lizbet deixara de herança. Todavia agora, depois de tudo o que havia presenciado e descoberto nos últimos dias, Susan começava a suspeitar que, talvez, bem lá no fundo, a loucura da Sra. Sofer tivesse alguma sensatez.

Mesmo assim, Susan escudou a irmã com o próprio corpo, e encarou a mulher, enquanto tentava tirar Anne dali, para evitar que a louca a deixasse mais perturbada do que já estava.

– Ela foi tocada pelo demônio! – grasnou a mulher, ainda mais alto, chamando a atenção das pessoas que passavam pela praça. – Ela é a próxima!

Susan apertou a mão da irmã, que tinha ficado paralisada de medo, e a forçou a correr, escapando da vista das pessoas por uma viela que dava diretamente no cais.

– Aquela mulher estava falando de mim... – murmurou Anne, assustada.

– Não dê ouvidos... – tranquilizou Susan. – Ela não sabe o que diz; está louca!

– Não! – gritou Anne. – Ela disse que eu sou a próxima...

– Pare! – repreendeu Susan, interrompendo-a. – A Sra. Sofer está perturbada, e está tentando nos perturbar também.

– A filha dela morreu... – murmurou Anne, com o olhar perdido e a expressão apavorada. – A filha dela morreu nessas águas, como todas aquelas moças listadas na igreja. – E tornou a encarar a irmã, muito séria, e completamente horrorizada. – Você não entende? Há uma maldição nesta cidade! Todos os anos uma moça é levada a se jogar do penhasco e desaparecer para sempre. A peste... Se lembra? E o Dr. Prynne disse que eu tenho os sintomas...

Susan abriu a boca para protestar, mas Anne não lhe deixou falar:

– Eu ouvi quando ele disse à Sra. Garber. É por isso que o Reverendo está tão perturbado, e porque ele não queria nos contar a história da mansão. Porque ele sabe que a escolhida desta vez sou eu! Porque quando o sol nascer amanhã, a minha cama estará vazia, e vocês terão que fazer um funeral, como o de todas aquelas garotas, e dizer às pessoas que precisaram queimar o meu corpo para que a peste não se espalhasse...

– Por Deus, não diga isso! – ralhou Susan.

– Você sabe que é assim, Susan! – bradou Anne, com uma lágrima de pavor lhe escapando dos olhos. E baixou novamente a voz para um sussurro. – Foi assim com todas as outras, embora ninguém nunca tenha se atrevido a dizer; embora eles tentem disfarçar a verdade. Foi assim com Lizbet também. Ela percebeu, pouco antes de morrer, o que estava prestes a acontecer, e deixou o aviso, para que ninguém mais fosse vítima da peste. Mas ninguém deu ouvidos... Claro... Porque ela morreu... Porque a mãe dela ficou louca... E porque, no fundo, todos sabem que é inútil lutar contra o inevitável.

As Noivas de Robert Griplen - Parte 1 - MaldiçãoWhere stories live. Discover now