Amor á um flash

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 Era setembro de 1822 quando Dom pedro primeiro proclamou a independência da república. Ponto. E é assim, que se termina uma história, amiguinhos. Melhor dizendo, é assim que se termina o final de uma história para começar outra. Acalme-se, eu já vou explicar.

 Pense comigo, se você pegar toda a história pré revolução e todas peculiaridades da estrada até esse grande marco histórico brasileiro, você está se referindo ao final de uma história. Agora, se você visar falar sobre as consequências desse ato, diga-se de passagem muito mistificado e mastigado de forma errada, você estará se referindo ao começo da história. A história onde fatos foram ocasionados por uma ação. Uma história se dá ao fato de um fato propriamente dito ser vivenciado, admirado e/ou questionado por alguém. Se você pegar um fato subsequente da história, independente de qual o seja, você pode muito bem criar sua própria história em cima disso. Como, por exemplo: Era setembro de 1822 quando Dom Pedro Primeiro proclamou a independência da república, montado em um belo e majestoso cavalo branco. 

Analise esses fatos com base na primeira frase desse capítulo. Observe bem os fatos que eu adicionei. Você conseguiu visualizar o cavalo branco? Saiba que, pela história verídica, visualizou errado. porque? Porque Dom Pedro Primeiro proclamou a independência em cima de um animal de carga, muito provavelmente uma mula. isso não me impediu de manipular o texto, de forma que você visualizasse o cavalo branco. Isso se chama perspectiva histórica, e eu quero que tenha ela em mente a partir de agora, porque eu não quero, de maneira nenhuma que você acredite em qualquer coisa que eu colocar aqui.

Todos avisados, vamos para o início dessa história, que pode ser o fim ou mesmo o meio de outra.

Flashes e mais flashes. Luzes e mais luzes. O que eu não daria pra isso acabar? Será que os famosos realmente não se importavam com isso? Eu, que sou a fotógrafa, já não aguento toda essa ladainha e papagaiada. Imagina que é alvo desses flashes, como deve estar a visão deles?

Esse negócio é horrível de forte. Está decidido! Eu vou criar um programa chamado "Oculista pra gente famosa". Depois disso, talvez eles comessem a se importar de verdade com quem segue eles.

-Vitória, nenê. Mike achou que não vinha!

letícia disse, me recepcionando na porta especial do evento. Os artistas estavam lá, uns mais nervosos, outros mais convencidos, mas sempre com uma expectativa. Criar expectativas é uma merda, fora que é a receita mais certa pra decepção que existe. eu aprendi isso da pior maneira possível. 

-Vem, vem. Eu vou te levar até ele pra ti poder se situar. 

Letícia me puxou pela mão, me guiando pelo meio do labirinto de carne e osso das pessoas que passavam. 

-E depois eu tenho que te contar umas coisas! Eu conheci uma pessoa tão legal, vi. Tu não vai nem acreditar.

Como essa garota tinha tanto fôlego pra correr e falar sem ofegar? Acabamos parando em uma escada curvada, que levava a uma passarela quadrada que ficava no andar de cima. O lugar beirava todo o canto com sacadas feitas de vidro e enfeitadas com cores vivas. Na dobra do primeiro anto, avistamos meu grande amigo e parceiro de eventos Maicon Tulio. Era estranho ver ele em um evento sem o seu famoso terno preto. Usava uma calça jeans, uma camisa social branca e uma gravata borboleta. Eu segurei uma risada. Mike jamais cairia bem em uma roupa social. 

-Vitória, graças aos céus.

Ele correu em minha direção. Era um bom organizador, fazia seu trabalho bem. O maior problema dele era o desespero que tinha quando algo saia, mesmo que minimamente, dos seus planejamentos.

-Calma. Eu cheguei, não cheguei?

Ele fez que sim, sorrindo aliviado.

-Ei, mas onde que tu tava?

Os olhos dele me captaram, desconfiados. Eu apenas sorri de canto.

-Depois eu te conto os detalhes.

Com uma piscadela, me virei pra observar o evento.

-Mas tu não presta mesmo, hein, vitória falcão?

Eu sorri mais ainda.

-Que puedo decir? Yo soy una gatinha má.

Respondi, fazendo Mike gargalhar. Ele sabia que eu estava de olho em alguém fazia um tempo e, quando se tem uma oportunidade dessas, não se pode deixar passar. 

-A tua sorte é que ela não demorou muito pra gozar, se não eu ainda estaria lá.

Falei. Ele Prendeu o riso.

-Desculpem, eu adoraria escutar a sua incrível conversa sobre "quanto tempo eu levo pra fazer alguém chegar ao orgasmo", mas, ao que parece, você tem um evento pra ministrar e você um pra fotografar.

Cortou letícia, já me puxando em direção a escada novamente.

-A GENTE CONTINUA DEPOIS.

Provocou Mike. Letícia bufou irritada.

-Você tem que ficar por aqui até eles abrirem o bife. Depois disso a gente vai beber muito, mas até lá, você é Vitória, a fotógrafa, e eu sou Letícia, a artista. Vai logo. 

Ela disse, já correndo para perto da sua obra. Essa era nossa vida atualmente. Eu fazendo picos de eventos por ai, Mike conseguindo se virar com os eventos e Letícia com seus quadros modernos. Era uma vida boa com uma amizade sólida, até ela aparecer. Eu ainda me lembro de quando a vi. Estava arada, observando um quadro sobre a época romantista. Era tão linda. Usava um vestido branco, talvez pastel, rodado até os joelhos. Os ralos cabelos negros flutuavam de tão leves. O sorriso sempre perto do rosto, em alta. Ela tinha uma áurea leve, de quem não precisa carregar os pesos do mundo. era como uma luz agradável no meio daqueles enormes flashes irritantes. Ela não me viu, e quando eu decidi ir puxar um papo, a cortina do palco se abriu e letícia começou a discursar. Rapidamente puxei minha câmera e, discretamente, tirei-lhe uma foto. A câmera começou a reproduzir oque captava e, quando a polaroide saiu, só tive tempo de guarda-la no bolso e correr pra assistir o discurso de letícia. depois daquilo, eu acabei por me perder as coisas. não tirei mais fotos, nem Mike fez mais nada. Nós ficamos até tarde bebendo e rindo como sempre fazíamos. Eu só não esperava que, pela primeira vez na minha vida, eu teria uma amnésia alcoólica. Eu não esperava me perder dos acontecimentos da noite. E eu também não esperava a turbulência que aquela garota causaria na minha vida.


Polaroides ManchadasWhere stories live. Discover now