Capítulo 11

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Ano de 2005

Sinto as lágrimas ardendo em meus olhos. Não preciso bater na porta mais do que duas vezes. Jerome a abre para mim depressa, como se já estivesse prevendo minha chegada. Quando encontro seus olhos escuros, minha vontade de chorar aumenta.

— O que houve? O que há de errado? — ele pergunta, bastante preocupado, e abre seus braços para mim quando caminho até ele para abraçá-lo.

— Apenas me abrace, Jerome. Apenas me abrace — peço, derramando as lágrimas que não podem mais ser contidas.

Sou envolvida por seus braços, que me fecham num casulo protetor. Seu abraço é forte e apertado, exatamente o que eu precisava. Ele beija o topo de minha cabeça enquanto estou convulsionando com o choro, soluçando até não poder mais. Sua mão segura carinhosamente minha nuca e me deixa apoiar a cabeça em seu ombro.

Ficamos assim, em frente à porta aberta de seu apartamento, até eu me recompor de minhas emoções violentas. Jerome fecha a porta e me guia para a sala, indicando para que eu me sente no sofá. Sou deixada sozinha, mas, segundos depois, ele está voltando da cozinha com um copo de água que me é oferecido quando ele fica de cócoras na minha frente para me olhar de perto.

— Beba.

Eu bebo tudo. Estou tremendo pelo esgotamento físico e emocional, enquanto observo-o secar meu rosto com os polegares. Ele sempre foi gentil comigo. Não houve um momento, nos meses em que estivemos juntos, que Jerome não beijou minhas feridas e me consolou com suas sábias palavras.

Não sei dizer exatamente o que somos um para o outro, mas sei que gosto de ficar com ele. E ele aparentemente também sente o mesmo por mim. Desde que nos conhecemos naquele evento no hotel, ele decidiu não retornar mais para a Europa para terminar sua faculdade lá. Transferiu-se para cá, por mim, para ficar comigo. Fiquei sem palavras quando Jerome me disse isso. Desde então tem morado sozinho, ainda que saiba que a Sra. Carver, sua mãe, não ficou nada satisfeita quando ele anunciou sua escolha.

Os olhos negros fixam um ponto abaixo de meu pescoço.

— Que marcas de arranhões são essas? — inquire com uma mudança agressiva no tom de voz.

Quando olho para baixo, para meu colo, percebo a merda que fiz. Vesti o moletom esperando cobrir os traços vermelhos, mas esqueci de fechar o zíper até o final. Assisto o rosto à minha frente ficar rubro de fúria quando, sem aviso, ele puxa o zíper da roupa para baixo e a abre, expondo a regata branca que estou usando.

— Ellie — ele fala entre dentes, traçando uma das linhas avermelhadas gravada em minha pele. — Por favor, me diga que não é o que estou pensando. Seu pai bateu em você? Prometeu que me avisaria quando essas coisas acontecessem!

A forma como ele está agindo me dá razões de sobra para ter arrepios. Depois que passamos a nos envolver, Jerome me visitava em meu bairro sempre que podia. Temia por ele e pelos olhares feios que lhe eram lançados. Dizia-lhe para parar com isso, que algum dia ia acabar sendo expulso desafiando Boozy desse jeito. Tudo em vão.

E então, com o tempo, contra todas as probabilidades matemáticas, Jerome e Boozy se tornaram amigos. Meu parceiro imprudente tinha uma ótima lábia e jeito com as pessoas.

Lembro-me de quando Jerome enfrentou meu pai, fazendo-o ter que levar alguns pontos no hospital, e fê-lo prometer que nunca mais levantaria a mão para mim e para minha mãe. Não estava esperando por nada disso, mas, num belo dia, Jerome resolveu fazer uma visita surpresa a mim justamente quando Bob estava me dando algumas lições. Sem obter resposta, a porta foi aberta, e, ao ver o que acontecia, meu pai simplesmente se transformou no saco de pancadas de Jerome de uma hora para outra.

Ás de Copas [COMPLETO]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora